Ciência e Saúde

Vacina da UFMG para dependentes do crack e cocaína disputa prêmio internacional

A escolha é feita por meio de votação aberta para médicos com registro em um dos países com participação da farmacêutica financiadora da premiação

Por Rayllan Oliveira
Publicado em 12 de maio de 2023 | 10:24
 
 
 
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A vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína e crack, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é finalista do Prêmio Euro Inovação na Saúde. O concurso reúne inovações da área médica de 17 países da América Latina. O imunizante anti cocaína concorre na categoria Inovação Tecnológica Aplicada em Saúde. A escolha é feita por meio de votação aberta para médicos com registro em um dos países com participação da farmacêutica financiadora da premiação.

“Esse é um problema prevalente que deixa as pessoas vulneráveis e sem tratamento específico. Os nossos estudos pré-clínicos comprovam a segurança e eficácia da vacina nesta aplicação. Ela aporta uma solução que permite aos pacientes com dependência se reinserir socialmente e voltar a realizar seus sonhos”, explica o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina e pesquisador responsável, Frederico Garcia.

O projeto de desenvolvimento da vacina já concluiu as etapas pré-clínicas. O estudo constatou segurança e eficácia para tratamento da dependência e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição à droga durante a gravidez. Os testes foram realizados em animais. Ainda não existem tratamentos registrados para essas dependências. As únicas alternativas disponíveis são comportamentais ou por meio do uso de medicamentos que ajudam a tolerar a abstinência ou diminuir a impulsividade.

“Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, aponta Frederico Garcia. Ainda segundo o pesquisador, o imunizante desenvolvido na UFMG induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea, transformando a droga em uma grande molécula, impedindo com que ela entre em contato com o sistema nervoso central.

Além disso, conforme o pesquisador, o imunizante produziu uma série de anticorpos durante a fase de testes em ratas grávidas. “A vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto. Observamos menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não vacinadas”, relata o professor. Para Frederico, uma vacina para a prevenção primária de transtornos mentais – como no caso da proteção aos fetos gerados por dependentes de cocaína grávidas que forem vacinadas – seria algo inédito na psiquiatria. A patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG.

"Até então, este projeto foi inteiramente desenvolvido com recursos governamentais. Para restaurar a liberdade das pessoas com dependência e prevenir as consequências fetais precisamos dar início nos estudos com humanos. Acreditamos que o prêmio Euro pode viabilizar esse sonho”, completa o professor. O projeto já concluiu os testes pré-clínicos e busca financiamento para avançar até a etapa com humanos. 
 

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