A exigência da Prefeitura de Belo Horizonte para que as gestantes sem comorbidades apresentem uma prescrição médica para se vacinar contra a Covid-19 está complicando a vida de muitas grávidas. Isso porque várias mulheres precisam esperar semanas para uma consulta com o responsável pelo pré-natal. Além disso, alguns médicos não querem assinar laudos com a recomendação.
Para tentar facilitar a vida das mais de 20 mil gestantes na capital mineira, um abaixo-assinado foi criado ontem, pedindo que a prescrição médica deixe de ser exigida para a vacinação na capital, como acontece em outras cidades.
A postura de Belo Horizonte é diferente daquela dos municípios vizinhos, que seguem a deliberação da Comissão Intergestores Bipartite de Minas (CIB-SUS), publicada em 14 de junho. De acordo com o texto, “para receberem a vacina, as gestantes sem comorbidades deverão apresentar somente o cartão de pré-natal comprovando sua gestação atual ou, no caso de serem puérperas, comprovação do parto (...), sem necessidade de nenhum relatório específico”.
Criadora do abaixo-assinado, a doula e ativista contra a violência obstétrica Polly do Amaral afirma que a exigência do laudo médico impede o avanço da imunização de um grupo que convive com risco duas vezes maior de morrer por Covid em relação às outras mulheres.
“Algumas gestantes levam o cartão pré-natal, como define a deliberação do Estado, e não conseguem se vacinar. Acabam perambulando pelos postos, pois em cada lugar há uma informação”, afirma Polly. “Não deveria ter prescrição médica. Vacina é um direito, é uma medida de saúde pública, é uma medida de contenção epidemiológica”, segue.
Grávida de 31 semanas, uma gestora financeira de 26 anos, que pediu para não ser identificada, não conseguiu o laudo com o médico que acompanha seu pré-natal. “Dias antes de começar a vacinação, eu pedi a prescrição. Ele disse que eu não precisaria, que conseguiria me vacinar sem o laudo e não fez o documento, mesmo com minha insistência.
No posto, ela foi informada pelos servidores sobre a exigência do laudo, mesmo que enviado pelo WhatsApp. “Eu liguei para o médico, mandei mensagem explicando a situação, e ele me respondeu com o link da deliberação estadual, dizendo que não precisava de relatório”, completa a gestante, que conseguiu ser vacinada por iniciativa dos funcionários do posto, que "viram que o médico poderia ser um empecilho para a vacinação".
Presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Agnaldo Lopes afirma que o ideal seria não exigir prescrição médica para vacinar gestantes. “A gente defende a não necessidade do encaminhamento, porque a vacinação contra a Covid para grávidas já faz parte do calendário nacional, como a da gripe, por exemplo”, afirma.
“A exigência pode ser um fator impeditivo, já que alguns médicos podem ficar receosos em fazer a indicação”, completa Lopes.
A publicitária Juliana Ribeiro, de 35 anos, não teve problema em conseguir uma dose da Pfizer em um posto de saúde do bairro Santa Lúcia. Na última consulta médica de pré-natal, ela conversou com o médico sobre a possibilidade de se precisar de um laudo para conseguir a vacina.
"Quando BH permitiu a vacinação de grávidas sem comorbidades, já liguei para o médico e avisei: 'vou precisar do laudo'. Ele logo fez, como combinado, e deixou com a secretária para que eu pegasse", relata Juliana, que ficou emocionada ao receber a vacina.
"É uma sensação maravilhosa de alívio. Espero que todos os brasileiros possam ter essa emoção, que essa pandemia acabe. As famílias já foram muito destruídas. Espero que a família que estamos gerando agora esteja saudável", acrescenta.
GESTANTES QUEREM CLAREZA NAS INFORMAÇÕES
A autônoma Camila Souza Guimarães, 22, reclama da falta de informações mais esclarecedoras para as grávidas que estão buscando os postos de saúde.
Com 20 semanas de gestação, ela foi a três postos no início desta semana. “Fui ao posto próximo de casa para pedir informações sobre a vacinação para grávidas. Disseram simplesmente que eu deveria verificar no site da PBH. Pedi também uma explicação às enfermeiras de por que o município está pedindo a prescrição médica, e me disseram ‘porque a prefeitura quer assim’”, conta Camila, vacinada ontem com laudo enviado por meio do WhatsApp por sua médica. “Consegui isso porque faço pré-natal particular. Mas e quem depende do SUS?”, questiona.
Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a exigência da prescrição médica é um cuidado a mais na imunização desse público. “A Secretaria Municipal de Saúde vem reforçando a orientação nas unidades para a conferência e retenção desse documento”, diz.