REGIÃO METROPOLITANA

Valor de jazigos de cemitério em Brumadinho mais que dobra

Custo final chega a R$ 5.800, mais que auxílio-funeral pago pela Vale a vítimas

Por Aline Diniz
Publicado em 03 de abril de 2019 | 20:21
 
 
 
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A Prefeitura de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, decidiu dobrar o preço cobrado pelos jazigos no cemitério municipal da cidade. Um decreto, publicado no dia 21 de março, reajusta o valor do terreno no cemitério Parque das Rosas em 150%, passando de R$ 1.000 para R$ 2.500. No caso de a família também optar pelo túmulo, o preço subiu de R$ 3.750 para R$ 5.800 – um aumento de 54%.

A decisão de inflar os preços do enterro no local ocorreu 55 dias após o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão – desastre com 218 mortes confirmadas e outras 78 pessoas ainda desaparecidas. Mais de uma centena de vítimas já teria sido enterrada no Parque das Rosas. 

“É um desrespeito com as famílias. Em vez de falar em dinheiro, o prefeito deveria se preocupar em achar todos os desaparecidos”, desabafou um morador, que pediu para não ser identificado. Ele perdeu um cunhado e quatro primos na tragédia. “Uma prima ainda está desaparecida. No enterro dos outros, ninguém comentou nada de valor, e a empresa pagou”, diz. 

Segundo ele, os parentes não vão aceitar esses valores cobrados em novos sepultamentos mesmo com as despesas sendo pagas pela mineradora. “Cerca de 180 pessoas foram enterradas no Parque das Rosas. Para mim, no fim (do processo de indenização), a empresa ainda vai descontar esses valores da gente”, protesta. 

A Vale informou, em nota, que disponibiliza um auxílio-funeral no valor fixo de R$ 3.928,34. A quantia pode ser usada em diversos serviços, como despesas com cartório, translado de corpos, urnas, adornos e sepultamento. Isso significa que, considerando-se o valor atual do jazigo, o familiar de alguma vítima do desastre que quiser adquirir o terreno com o túmulo pronto não vai conseguir pagar os R$ 5.800 cobrados pela prefeitura. O valor não inclui o velório.

Debate

O vereador Caio César de Assis Braga (PTB) enviou anteontem um ofício para que o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos (PV), explique o motivo do decreto. “É um aumento substancial e sem nenhum índice que comprove. Quero crer que seja um erro e que vai se resolver sem envolver a Justiça”, informou. 

Para o parlamentar, não é o momento mais adequado para que a prefeitura trate do assunto. “A gente está tentando colocar a cidade nos trilhos. Imagine a situação de uma pessoa pobre que falecer”, complementou. O vereador acrescentou que vai esperar uma resposta da prefeitura em até 15 dias antes de procurar a Justiça. 

Prefeitura afirma que realiza enterros gratuitos

A Prefeitura de Brumadinho, na região metropolitana, informou, por meio de nota, que o Decreto 56 trata sobre a venda de jazigos perpétuos e túmulos no Cemitério Municipal Parque das Rosas.

O município reiterou que “promove o enterro gratuito de todas as pessoas quando solicitado pela família”. Nesse caso, os parentes enterram os corpos, mas não têm a posse do jazigo. O órgão informou que o mesmo procedimento é adotado em todos os nove cemitérios da cidade. 

Com relação às vítimas do rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, a nota do Executivo explica que três famílias manifestaram o desejo de adquirir jazigos no Parque das Rosas.

A prefeitura esclareceu que o aumento dos valores ocorreu para compensar uma defasagem do preço de mercado e do material de construção, segundo o Índice Geral de Preços do Mercado. (AD)

 

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