“Nojo e raiva”. É assim que a veterinária Karoline Drummond, de 37 anos, irmã da escrivã Rafaela Drummond, de 32 anos, define o vídeo em que é possível ouvir um homem xingando a servidora da Polícia Civil que se suicidou em Sá Forte, distrito de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A gravação será periciada pela instituição, segundo informou o delegado Alexsander Soares Diniz, nesta quinta-feira (15). Karoline, inclusive, confirmou que a voz feminina da gravação pertence a Rafaela.
Na gravação de pouco mais de um minuto, um homem, ainda não identificado, ofende Rafaela por diversas vezes. Em um dos momentos, ele confessa ter chamado a escrivã de “piranha”. “Na realidade, eu errei muito em te chamar de piranha, porque se fosse homem, geralmente, a gente chama de corno, viado”, disse.
No decorrer do vídeo, o homem afirma que só não havia batido em Rafaela pois os pais dele o ensinaram a não violentar uma mulher. “Porque se você fosse um homem, uma hora dessas, já estava ou eu, ou você, com o olho roxo”. Diante da sequência de ameaças, a escrivã disse que o interlocutor iria se arrepender. Após ser questionada se ela iria processá-lo, Rafaela disse que a “lei de Deus” agiria.
O homem, então, voltou a pressioná-la perguntando se ela iria fazer valer a lei divina ou contar o caso para alguém. “Eu não preciso falar mal de você. As suas atitudes já mostram quem você é”, respondeu Rafaela.
Vídeo de escrivã que se suicidou em MG será investigado: 'nojo e raiva'. Na gravação de pouco mais de um minuto, um homem, ainda não identificado, ofende a escrivã por diversas vezes. Veja a descrição completa das falas dos vídeos em https://t.co/AnasW6Mue3 pic.twitter.com/3knY6yqy2V
— O Tempo (@otempo) June 15, 2023
Desejo de justiça
A família de Rafaela espera que a Polícia Civil descubra quem xingou a escrivã. “Que eles tenham transparência e, particularmente, eu confio que os trabalhos investigativos serão feitos dentro dos conformes”, ponderou Karoline.
Sobre o conteúdo da gravação, a irmã pôde sentir a tristeza de Rafaela. “Quando vi aquela gravação, imaginei o ódio que ela estava sentindo, porque ela não tinha paciência com esse tipo de homem abusado. Eu conheço o jeito dela e, ao mesmo tempo, ela sabia o ambiente em que estava”.
O vídeo encontrado no celular da escrivã e os demais conteúdos relacionados ao caso serão analisados pelos investigadores da Polícia Civil, conforme informou o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena e responsável por coordenar a investigação do caso.
Identificar a pessoa que aparece xingando a escrivã é um dos objetivos dos trabalhos. “Todos os vídeos e áudios que podem servir de provas, sejam aqueles que vimos em rede social ou aqueles que recebemos, nós encaminhamos para as equipes da investigação. Eu tive conhecimento sobre um desses vídeos e encaminhei para a equipe que preside a apuração para realizar o trabalho", garantiu Diniz.
Veja transcrição do vídeo
Voz masculina: .... Suicídio puro
Rafaela: Eu não preciso te gravar não, fi* SIC (filho).
Voz masculina: Grava e leva no Ministério Público, na corregedoria, na puta que pariu, nos diabos, leva para quem você quiser.
Rafaela: Eu não sei por que você ficou tão estressado, eu não falei nada demais contigo.
Voz masculina: Ah, não. Você nunca fala nada demais!
Rafaela: Mas eu não vou esquecer do que você me chamou não, tá, querido!
Voz masculina: Ah, de tudo que eu falei, ela tá preocupada com piranha [risada]. É muita cabecinha fraca. É muito cabecinha fraca.
Voz masculina: Na realidade, eu errei muito em te chamar de piranha, porque se fosse homem, geralmente, a gente chama de corno, viado. A gente quer propor "o cara para a porrada" [brigar], mas, como falei, a minha educação, você diz que eu não tenho educação, meu pai e minha mãe me ensinaram: não bate em mulher. Porque se você fosse um homem, uma hora dessas, já tava (estava) ou eu, ou você, com o olho roxo. Por que, às vezes, um homem forte que também é bruto...
Rafaela: Você vai se arrepender do que falou hoje.
Voz masculina: Ah, vou. Por que? Vai me processar?
Rafaela: Eu não preciso processar ninguém não... a lei de Deus
Voz masculina: E você, vai fazer a lei de Deus? A lei da língua grande? Sair de fofoca? Tô (Estou) cagando e andando para você.
Rafaela: Eu não preciso falar mal de você. As suas atitudes já mostram quem você é.
Voz masculina: Eu sei que você não precisa falar mal de mim... FALA INAUDÍVEL
Rafaela: Eu nunca precisei
Voz masculina: Ah, eu percebi que você nunca precisou.
Rafaela: Eu não precisei falar mal de ninguém para a pessoa se fuder na vida. A pessoa se fode com as próprias atitudes. Isso eu te dou certeza.