Tragédia em Janaúba

Vigia de creche não fazia tratamento psiquiátrico

Prefeitura informou que Damião Soares dos Santos, de 50 anos, nunca utilizou serviços de saúde mental do município

Por Rafaela Mansur
Publicado em 08 de outubro de 2017 | 11:04
 
 
 
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O vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, que ateou fogo a alunos e funcionários da creche Gente Inocente, em Janaúba, no Norte de Minas, não realizava tratamento psiquiátrico na rede municipal da cidade.

De acordo com a Prefeitura de Janaúba, não há registro de atendimento a Santos nos dispositivos da rede de saúde mental. Em nota de esclarecimento, divulgada na noite deste sábado (7), o Executivo municipal informou que o homem "nunca solicitou e utilizou dos serviços de saúde mental prestados pelo município, bem como do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II)".

Após o crime, que deixou oito crianças e a professora da creche, Heley de Abreu Silva Batista, 43, mortas, a Polícia Civil apurou que o vigia sofria de transtorno mental. O diagnóstico foi feito em 2014, por meio de uma avaliação psicológica, que indicou disfunção de consciência e sugeriu acompanhamento. No entanto, não havia sido encontrado nada que comprovasse que Santos fizesse uso de medicação.

As investigações apontaram também que o homem tinha obsessão por crianças e levantaram a hipótese de que ele era pedófilo. Ele também chegou a sair de casa por acreditar que a mãe queria envenená-lo.

A prefeitura informou que visa ao fortalecimento do modelo da atenção psicossocial e que o cuidado humanizado é a principal estratégia de tratamento às pessoas portadoras de sofrimento mental. O município afirmou que, ao longo dos 13 anos dos serviços prestados pelo CAPS II de Janaúba, não houve incidentes entre o público atendido.

Suporte

Em decorrência da tragédia, todos os trabalhadores da saúde mental de Janaúba estão mobilizados no acolhimento e suporte aos familiares e à população afetada, conforme a prefeitura. Além do atendimento emergencial às vítimas e aos parentes após o crime, as equipes da atenção psicossocial realizam, atualmente, ações de apoio à comunidade.

Segundo o município, estão sendo disponibilizados serviços de assistência médica, psicológica e social aos familiares e demais envolvidos nos pontos da rede de saúde municipal, por meio da implantação de estratégias de acompanhamento continuado e respeito ao período de luto. Há, ainda, previsão de ações comunitárias de promoção à saúde de caráter preventivo e longitudinal à população implicada.

A prefeitura manifestou gratidão às manifestações de apoio recebidas e disse que os trabalhadores da atenção psicossocial do município encontram, nestes gestos, força para a continuidade da prestação adequada de assistência às famílias e sobreviventes.

Veja a nota na íntegra

Prestamos nossos sentimentos e solidariedade às famílias das vítimas do incêndio ocorrido na Creche “Gente Inocente”. Após a tragédia, diversas informações foram veiculadas, sendo necessários alguns esclarecimentos.

Diante do acontecimento que assolou a população de Janaúba – MG, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), junto com a Secretaria de Saúde do município, vem a público esclarecer que não há registro de atendimento do senhor Damião Soares dos Santos nos diversos dispositivos da rede de saúde mental. O senhor Damião Soares dos Santos nunca solicitou e utilizou dos serviços de saúde mental prestados pelo município, bem como do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II).

Em resposta ao infortúnio, os trabalhadores da saúde mental encontram-se todos mobilizados no acolhimento e suporte aos familiares e à população afetada pela tragédia. Subsequente à data do evento, quando as equipes da atenção psicossocial prestaram o atendimento emergencial às vítimas e familiares, no momento estão acontecendo ações de apoio à comunidade. Em Janaúba, está sendo disponibilizada a assistência médica, psicológica e social à população nos diversos pontos da rede de saúde municipal. Além disso, as equipes da Estratégia de Saúde da Família de referência da comunidade envolvida estão orientadas na utilização dos dispositivos da RAPS, conforme necessidade. Iniciaram-se as estratégias de acompanhamento continuado aos familiares e demais envolvidos, assegurando o respeito ao período de luto. Prevêem-se, ainda, ações comunitárias de promoção à saúde de caráter preventivo e longitudinal à população implicada. Finalmente, a formalização da cobertura permanente do apoio matricial às equipes das Estratégias de Saúde da Família em todo o município, garantindo maior acesso e efetividade do tratamento para as pessoas portadoras de sofrimento mental e outras demandas psicossociais.

Atualmente, a Rede de Atenção Psicossocial de Janaúba é referência para o Estado, contando com diversos dispositivos voltados ao tratamento das pessoas com transtornos mentais ou relacionadas ao uso prejudicial de álcool, crack e outras drogas. Janaúba conta com: Núcleos de Apoio à Saúde da Família; Consultório na Rua; Atenção Psicossocial Especializada (CAPS II, CAPS AD III e CAPSi); Atenção de Urgência e Emergência (SAMU e Bombeiros); Unidade de Acolhimento infanto-juvenil; Atenção Hospitalar (pronto atendimento e leitos de referência às pessoas com sofrimento mental); Atenção Intersetorial; e projetos de reabilitação psicossocial.

Neste momento de profundo sofrimento, dedicamos ao cuidado daqueles que foram afetados direta ou indiretamente por esta fatalidade. Visamos o fortalecimento do atual modelo da atenção psicossocial, sendo o cuidado humanizado a principal estratégia de tratamento às pessoas portadoras de sofrimento mental. No decorrer dos treze anos dos serviços prestados pelo CAPS II de Janaúba, até o momento não houve incidentes de nosso público alvo. Receamos que a veiculação de falsas notícias venha fomentar o preconceito e segregação dos nossos usuários. Portanto, avessos a toda forma de exclusão, reafirmamos a liberdade como o lugar para o exercício da saúde mental, na promoção da cidadania, construção de vínculos sociais e reinserção do portador de sofrimento mental no seio familiar e comunitário.

Sensibilizados pelos gestos de solidariedade prestados às vítimas e suas famílias, manifestamos nossa gratidão às incontáveis manifestações de apoio ao povo gorutubano. Neste momento de imensa dor, os trabalhadores da atenção psicossocial do município encontram nestes gestos, força para a continuidade da prestação adequada de assistência às famílias e sobreviventes.

Cecília Moreira Freitas
Secretária Municipal de Saúde

Juliana Matos
Coordenadora Municipal de Saúde Mental

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