SE PRONUNCIOU

Zema sobre inquérito que indiciou PMs por 26 mortes em MG: 'confio na polícia'

Governador defendeu a Polícia Militar de Minas Gerais em agenda em Poços de Caldas nesta quinta-feira

Por Isabela Abalen
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 | 14:12
 
 
 
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O governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) se pronunciou sobre indiciamento de 32 policiais – metade da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e metade da Polícia Militar (PM) – pela morte de 26 suspeitos durante uma operação em Varginha, no Sul de Minas, em outubro de 2021. O inquérito é encabeçado pela Polícia Federal (PF). Zema afirmou que a investigação é legítima, mas não tira o crédito da PMMG, que, segundo ele, “é a menos letal do Brasil”. O governador citou o “arsenal de guerra” que foi encontrado com a quadrilha alvo da operação e foi convicto ao dizer que confia na Polícia Militar. 

“Eu sou a favor de todo tipo de investigação. Se alguém cometeu algo errado, que seja responsabilizado. Mas eu confio na nossa polícia e a ordem que eu dou pra nossa polícia é pra combater a criminalidade. Eu confio na nossa polícia. Em criminoso, eu não confio, não. Então nós já temos uma grande diferença”, disse o governador à EPTV Sul de Minas durante agenda em Poços de Caldas, no Sul do Estado, na tarde desta quinta-feira (29 de fevereiro).

Zema continuou defendendo a PMMG, em uma comparação com as demais polícias do país. "Eu sou favorável a toda a investigação, mas eu quero aqui fazer um elogio à Polícia Militar de Minas Gerais que é a menos letal do Brasil. Se tem uma polícia que não comete esse tipo de fato é a Polícia Mineira", afirmou na ocasião. 

O documento sobre a operação em Varginha, entregue para apuração do Ministério Público Federal (MPF) pelos investigadores da PF, aponta tortura, homicídio e adulterações de provas. Uma fonte diretamente ligada às investigações disse à reportagem de O TEMPO que “está mais do que provado que foi uma chacina”.

Provocado, Zema preferiu destacar a agressividade da quadrilha de suspeitos mortos na cidade mineira. “Lembro que o que foi encontrado lá naquela propriedade (chácaras em Varginha) não foi bíblia, não. Foi bomba, explosivo, armamento pesado, que seriam utilizados numa ação em que essas pessoas inclusive utilizam escudos humanos. (Os suspeitos) não têm nenhum receio de pegar qualquer transeunte e colocá-lo na frente de um carro para poder passar sem ser alvo de alguma ação da polícia", disse Zema à EPTV Sul de Minas. 

Entenda 

Ao menos 16 Policiais Rodoviários Federais (PRF) e 16 Policiais Militares de Minas Gerais (PMMG) foram indiciados pela Polícia Federal (PF) pela morte de 26 suspeitos que planejavam um assalto a banco, na modalidade "novo cangaço". A operação foi desencadeada em outubro de 2021, na cidade de Varginha, no Sul de Minas e, na época, foi comemorada pelas corporações como uma ação que teria impedido mais uma explosão de caixas eletrônicos mediante uso de armamento pesado. O documento entregue para apuração do Ministério Público Federal (MPF) pelos investigadores da PF, no entanto, aponta tortura, homicídio e adulterações de provas.

Uma fonte diretamente ligada às investigações disse à reportagem que “está mais do que provado que foi uma chacina”. Com o indiciamento, cabe continuidade do caso pelo MPF, órgão que informou em nota que vai reabrir as apurações.

O TEMPO teve acesso ao relatório completo que foi remetido à Justiça, onde os investigadores da PF denunciam uma série de irregularidades na ação das polícias, como sequestro, tortura e execução de dois suspeitos que estariam no caminhão que seria usado na fuga. Além disso, apontam possível alteração da cena do crime e, até mesmo, a existência de tiros forjados com as armas apreendidas visando simular um confronto entre os policiais e os criminosos.

No documento, a instituição federal apontou que, além de entrevistas com os envolvidos na operação, também foram utilizados os relatórios e inquéritos do caso, chegando a afirmar que estes foram "precocemente encerrados" pelas instituições como a PM, Polícia Civil e Ministério Público de Minas Gerais.

Relembre a operação

As forças de segurança começaram a investigar o grupo em agosto de 2021. No fim de outubro, após informações indicarem sobre um novo assalto em Varginha, foi montada uma operação conjunta entre a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Na manhã de 31 de outubro, os policiais adentraram duas chácaras em que estavam os suspeitos. Conforme a versão oficial da PMMG, na primeira, foram 18 suspeitos mortos; na segunda, outros oito, totalizando 26. A corporação também divulgou que foi recebida com tiros pelos suspeitos.

A ação chegou a ser comemorada pelas autoridades, à época. A porta-voz da PMMG, capitão Layla Brunnela — atualmente major —, disse que aquela era a maior operação referente ao “Novo Cangaço” no país e que “muitos infratores fariam um roubo a banco, naquele dia ou no dia seguinte, e foram surpreendidos pelo serviço de inteligência da PM integrado com a PRF”.

A PRF informou, por meio de nota, que "a quadrilha possuía um verdadeiro arsenal de guerra sendo apreendidos fuzis, metralhadoras ponto 50, explosivos e coletes à prova de balas, além de vários veículos roubados. Foram arrecadados ainda diversos “miguelitos” (objetos perfurantes feitos com pregos retorcidos usados para furar os pneus das viaturas policiais)".

PM diz que competência é da Polícia Judiciária Militar

Em nota, a Polícia Militar de Minas Gerais afirmou que "a investigação do crime militar é de competência EXCLUSIVA da Polícia Judiciária Militar", com base "nos termos do art.125, §4º da Constituição Federal de 1988, combinado com o art.144, §4º da CF/88, e de acordo com o art. 142, inciso III, da Constituição do Estado de Minas Gerais, e art.7⁰, "h",  do Decreto Lei 1002/69".

PF pode indiciar policiais militares pelas 26 mortes?

A partir de agora, cabe ao MPF avaliar a possibilidade de apresentação de denúncia com base nas provas colhidas e investigação própria. Em nota o órgão disse que vai avaliar possível retomada das apurações sobre o caso que estavam suspensas "aguardando o resultado das perícias criminais". Se o Ministério Público entender que cabe denúncia, o próximo passo é o julgamento em um Tribunal do Júri. Ao longo dos próximos passos, a própria Justiça pode entender que cabe à PM essa apuração e encerrar a investigação.

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