Comportamento

Como relacionamentos saudáveis são aliados fundamentais para nosso bem-estar

O ser humano é um animal social, precisa do convívio e deve cuidar para que as relações não prejudiquem sua saúde mental


Publicado em 13 de julho de 2023 | 06:34
 
 
 
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A ideia de que somos seres sociais, que precisamos da vida comunitária, de pertencer a uma coletividade e de conviver em sociedade, até para dar sentido à nossa existência, está presente nas obras e no pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Karl Marx (1818-1883), filósofos de períodos e contextos profundamente distintos, mas que compartilhavam o mesmo conceito. Viver em sociedade está em nossa natureza.

Não é novidade que o ser humano tem necessidade de manter relações ao longo da vida. Pesquisas mostram que pessoas conectadas socialmente são mais felizes e fisicamente mais saudáveis. De acordo com uma pesquisa longitudinal de Harvard, realizada sistematicamente ao longo dos últimos 70 anos, pessoas que têm boas conexões sociais com a família, amigos e comunidade vivem mais e melhor.

Em 2015, um estudo realizado pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, propôs que pacientes em tratamento para a ansiedade praticassem um ato de gentileza por dia. Após um mês de experimento, eles estavam com os níveis de dopamina e serotonina, conhecidos como “hormônios da felicidade”, mais elevados. Além disso, notou-se também a redução de isolamento social até mesmo naquelas pessoas que apresentavam um quadro de fobia social. No mesmo sentido, outra pesquisa da Harvard Business School investigou questões relacionadas à felicidade em 136 países e também concluiu que gestos altruístas e gentis liberam dopamina, responsável por promover a euforia positiva.

“É uma questão evolutiva. Precisamos pertencer a algum grupo para sobreviver, isso é real. Sozinho, você está mais vulnerável. Quando você se sente parte de algo, você tem suporte. É no pertencimento que o ser humano se sente seguro. Através do outro eu me vejo, eu preciso do outro para me ver”, afirma a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental e mestre em relações interculturais Renata Borja.

Segundo a especialista, é fundamental – sobretudo porque somos a todo tempo estimulados a perseguir o triunfo a qualquer custo – zelar por nossas relações interpessoais. Em sua pesquisa de mestrado, a psicóloga pesquisou o sucesso num contexto de crenças e comportamento. Um bom relacionamento com a família vinha em primeiro lugar para 60% dos entrevistados como sinônimo de bem-estar e realização pessoal. Realização pessoal, fazer algo que tenha sentido, trabalho, relacionamentos e amizades, superação, dinheiro, fama e poder, nessa sequência, vieram depois.

Para Renata Borja, é preciso desconstruir ideias a respeito de sucesso e felicidade e cuidar das nossas relações, fazer ajustes emocionais: “O que torna uma vida boa são os relacionamentos, as pessoas querem conexão. O que estamos procurando, hoje, é isso. Muitas vezes, trabalho com meus pacientes, e as pessoas estão enlouquecidas buscando poder, dinheiro a qualquer custo, mas não estão felizes porque não cuidaram de suas relações”.

Psicólogo do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte e especialista em saúde mental, Arnor Trindade pondera que posturas como empatia, altruísmo, tolerância e solidariedade são importantes em qualquer relação social. “É algo que está relacionado ao reconhecimento e respeito ao outro. Acredito que devemos, desde cedo, desenvolver junto às crianças sentimentos de respeito mútuo e valorização do ser humano”, ele pontua.

Cuidar de si também é cuidar do outro

Sem dúvida, ao pensarmos como as relações sociais e amorosas impactam nosso bem-estar e nossa saúde mental, um desafio que se impõe é: como e o que fazer para que elas se tornem fonte de prazer, segurança e conforto. Antes de tudo, vem o autocuidado. É o que observa a psicoterapeuta Bila Freitas: “Antes de conseguir se relacionar com o outro, que é o que dá sabor à vida, a pessoa deve estar atenta ao relacionamento consigo mesma. Cuidar da nossa mente é essencial, precisamos estar em harmonia para ter conexões saudáveis com outras pessoas. Pessoas feridas ferem. Tudo começa em como nós nos enxergamos”.

Desenvolver autorrespeito, autoperdão, autoconfiança e respeitar o tempo que dedicamos a nós mesmos são dicas para quem quer ter um convívio positivo com o próximo. Relacionamentos saudáveis são bons aliados, inclusive, no enfrentamento de uma rotina desgastante no trabalho e no ambiente familiar, pois ativam no cérebro o que chamamos de “quarteto da felicidade” ou “hormônios da felicidade”: endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina, neurotransmissores essenciais para a sensação de bem-estar.

“Nessa vida corrida que a gente leva, muitas pessoas acabam vivendo no piloto automático. Se a pessoa está bem consigo mesma, a conexão com o outro será mais saudável”, pondera Bila Freitas. “Quando faço bem ao próximo estou fazendo o bem a mim mesma. Entender isso é o maior aprendizado”, acrescenta Renata Borja.

Em “The End”, última faixa de “Abbey Road”, disco lançado em 1969, os Beatles também falaram sobre isso em forma de canção: “E no fim/ O amor que você recebe/ É igual ao amor que você dá”.

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