Você sabe o que é masturbação mútua? Já ouviu falar, já experimentou ou tem vontade de provar? Independentemente de qual for sua resposta a essas perguntas – e deixando tabus de lado –, há um ponto sobre essa prática que merece muita atenção: ela pode ser a chave para uma vida sexual feliz. Esta é a conclusão de um estudo realizado na Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Os pesquisadores entrevistaram 117 mulheres e 151 homens, entre 18 e 65 anos, que tinham parceiros sexuais. Segundo o estudo, mais de 50% das pessoas ouvidas (136, no total) disseram ter praticado masturbação mútua nas duas semanas anteriores à entrevista. Ainda de acordo com a pesquisa, quem adota a prática afirmou estar mais satisfeito com a vida sexual do que aqueles que não o fazem.
“Antes de falar de masturbação mútua, é preciso entender o conceito de masturbação, que é a manipulação do corpo para obtenção de um prazer; processo geralmente voltado para genitália, com toques, mas também associado a várias partes do corpo, já que podemos ter todo um corpo com uma zona erógena”, explica o médico e sexólogo Eduardo Siqueira Fernandes. “Na masturbação mútua, cada um toca o próprio corpo, como também pode masturbar o parceiro ou a parceira”, complementa.
A psicóloga e sexóloga Enylda Motta afirma: “A masturbação mútua é um modo de aumentar o vínculo, a cumplicidade, a intimidade. É bom jogo erótico”. “Digamos que seja um combinado sem usar palavras, e sim gestos, em que é observada a intensidade do outro. Ao se tocarem, pode ser um momento mais gestual do que falado”, completa a terapeuta, pós-graduada em sexologia multidisciplinar, Allys Armanelli Terayama.
De acordo com os especialistas, o resultado da pesquisa inglesa está relacionado aos benefícios que a prática pode gerar para um relacionamento. “Começando pelo repertório sexual que o casal já tem, a masturbação é um novo ingrediente. Aumenta a intimidade sexual, a satisfação, quebra de tabus, entrega, autoconhecimento a partir do toque de outra pessoa”, pontua Enylda.
Fernandes vai na mesma linha de raciocínio. “Geralmente, a masturbação é um processo isolado, realizado numa intimidade, muitas vezes às escondidas. Algumas vezes os casais nem sabem que a parceira ou o parceiro se masturba. Quando se pratica masturbação mútua, você dá e oferece a oportunidade de se revelar para o outro. Ali há toques complementares, há a permissão para que a sua parceria te toque ao mesmo tempo em que você a toca, fazendo com que ambos busquem novas formas de prazer em novas regiões do corpo”, observa o sexólogo.
Allys destaca o ponto da confiança entre os parceiros nesse processo. “Confiança em saber que não estão sendo trocados sexualmente e que um está excitando o outro”, afirma. “As parcerias se tornam mais cúmplices do ato em si. Torna-se muito mais valoroso você confiar e se permitir ser vista no ato que antes você fazia somente sozinho e traz muito mais respeito para que ambos continuem buscando maiores formas de prazer”, ressalta Fernandes.
Estímulos e a busca pelo prazer a dois
A terapeuta Allys Armanelli Terayama também frisa os efeitos da masturbação no organismo, com a liberação de hormônios – endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina – pelos neurotransmissores. “Também chamados de ‘quarteto da felicidade’, eles exercem importantes funções no organismo e nas sensações de prazer e afeto”, cita.
Na masturbação a dois, os especialistas elencam fatores que podem contribuir para um maior prazer do casal. “Ao perceber o toque da outra pessoa, presta-se atenção nas sensações, lembrando que temos cinco sentidos (olfato, tato, paladar, audição e visão), e todos podem e devem ser explorados na masturbação”, enumera Enylda Motta. A sexóloga acrescenta: “O uso de acessórios, brinquedos eróticos também é muito bem-vindo”.
Para o médico e sexólogo Eduardo Siqueira Fernandes, nesse processo, as pessoas precisam se permitir vivenciar o momento e, assim, sentir prazer. “A partir do momento em que você se permite demonstrar para a sua parceria naquele ato que antes você fazia sozinho, às escondidas, há uma maior cumplicidade nesse relacionamento. Então você se conecta muito mais com as pessoas. Esta é uma forma de buscar toques, ou seja, como fazer com que a outra pessoa sinta mais prazer, como fazer com que eu sinta mais prazer”, diz. “Então, quando um fala para o outro as regiões mais prazerosas, a gente potencializa a forma de ter esse prazer, consegue dar mais prazer e também receber mais prazer”, afirma.
Os especialistas reconhecem que, ainda hoje, a masturbação é um tabu na sociedade por questões morais, culturais e religiosas. Entretanto, eles frisam que assuntos relacionados à vida sexual do casal devem ser tratados abertamente. “Muitos casais ainda não conversam sobre sexo, não criam abertura para isso. A conversa não deve ser somente sobre esse tema, mas todos os outros que envolvem sexualidade. Para qualquer tipo de prática, é necessário o diálogo para que a pessoa não se sinta abusada ou violentada”, assegura Enylda Motta.
“Todo ato sexual precisa ser conversado antes, precisa ser quase ser negociado, do ponto de vista daquilo que eu posso ou não fazer. Dentro dessa perspectiva, a gente acaba entendendo a pessoa com quem a gente está, e fica muito mais fácil, mais direcionado o prazer para aquilo que eu estou buscando. Assim não vai ter nenhuma quebra de confiança durante o ato sexual”, pontua o médico e sexólogo.