O cuidador de idosos, Luiz Cláudio Araújo, de 63 anos, passou duas difíceis semanas internado em um hospital de Belo Horizonte após contrair o coronavírus.
Foram 14 dias seguidos no Centro Intensivo de Tratamento (CTI), totalmente isolado da família, de outros pacientes e, até mesmo, com certo distanciamento dos profissionais da Saúde que o trataram. "É assustador", conta ele.
Araújo não tinha problemas de saúde e começou a sentir dores no corpo, na cabeça e tosse seca no início de abril deste ano. Na época, a filha e a mulher dele estavam em um sítio de um parente no interior de Minas e ele estava sozinho na casa da família.
Assim que os sintomas se agravaram, ele foi ao médico e fez vários exames. A suspeita, conta, era de que ele havia contraído dengue. Contudo, os resultados não confirmaram a doença e, dias depois, ele foi encaminhado para o CTI no dia 15 de abril.
Durante exames diários feitos para tentar descobrir sua condição clínica, foi constatado que o homem tinha contraído a Covid-19.
"Minha irmã foi comigo ao hospital e me internou. Fui levado para uma sala de isolamento, estávamos sempre de máscara. Depois, já no CTI, fiquei isolado por duas portas que me separavam do restante do hospital. Entre elas, tinha um vão", lembra.
Antes de ser atendido pelos médicos e enfermeiros, os profissionais entravam pela primeira porta, se paramentavam de itens de proteção, e depois entravam no local onde Araújo estava isolado.
"Entrei para o CTI às 19h de uma quarta-feira e, na mesma noite, estava cheio de instrumentos de medição de batimentos cardíacos, temperatura, pressão. Remédios direito na veia, que entravam queimando. Foi preciso diminuir o acesso no meu braço para que fosse suportável", relata.
O homem conta que foi tratado com hidroxicloroquina, remédio que, apesar de não ter eficácia comprovada ainda, é estudado como possível opção de tratamento para o coronavírus. A droga foi administrada por seis dias, segundo Araújo, associada a azitromicina e amoxilina.
"Sentia dor de cabeça, febre, falta de apetite. Toda noite, vinha um 'guindaste' para tirar chapas do meu pulmão. Não tive tontura ou falta de ar. Depois de comprovado o diagnóstico por coronavírus, passaram a tirar sangue do meu pulso para ver a oxigenação. Doía muito", conta.
Araújo não sabe ao certo como contraiu a doença, mas revela que não fez viagens ao exterior. A suspeita, diz, é de que tenha se infectado após precisar ir à Secretaria de Estado da Saúde buscar remédios para o irmão dele. "Acho que peguei na fila", lembra.
"Tenho muita fé e rezo o terço. Ficar isolado no CTI, em um primeiro momento, foi muito assustador, mas minha fé em Deus me deu um suporte muito grande", afirma o cuidador de idosos.
Nas visitas que recebeu, da irmã e da filha, os familiares precisavam ficar, sempre, no vão que o separava do hospital, atrás da segunda porta do quarto de isolamento. "Minha irmã gravava mensagens minhas e mandava para a família, me dava notícia das pessoas que estavam rezando por mim", conta.
Após duas semanas internado, no último 22 de abril, o médico permitiu que Araújo saísse do isolamento e fosse para um quarto comum no hospital.
Lá, ele tomava banho sozinho e não precisou mais usar antibióticos. No final do mês passado, ele foi liberado para voltar para casa e não apresentou mais febre. Contudo, nesta segunda-feira (11), ele diz que só sente fraqueza muscular devido "à fibrose pulmonar causada pelo vírus".
Para não contaminar a filha e esposa, com quem vive, Araújo manteve uma rotina de isolamento até o último domingo, e só comia com talheres separados para ele. Agora, curado, continua com alguns cuidados preventivos para fortalecer a saúde, usa sempre máscara dentro de sua residência e tenta ao máximo higienizar o local.
"O que sinto hoje é uma fragilidade muito grande. No fim de maio, vou fazer acompanhamento com pneumologista. Perdi quase oito quilos. O vírus detona a gente, é assustador. Temos que ficar dentro de casa", ressalta.
Otimista, Araújo afirma que a pandemia "teve leu lado positivo", por diminuir a circulação de pessoas em Belo Horizonte, diminuindo a poluição e aproximando as famílias.
"É também um alerta para se investir mais em saúde. Os casos se agravaram no Brasil onde faltou controle, é assustador", continua.
Após todo o tratamento e os dias difíceis que passou, Araújo afirma se assustar com as pessoas que transitam pela cidade sem usar máscaras.
"Acham que só vai acontecer com o outro. Tem que haver esse cuidado excessivo, sim! Tem que ficar em casa, sim! O vírus é silencioso. Tudo isso, aliado a um planejamento para voltarmos aos poucos. É preciso gestão", acredita.