Boas ideias

Astros do rock, carro plastificado e até bambolês são usados no distanciamento

Comércio de BH e região tem usado da criatividade para cumprir normas sanitárias e garantir reabertura no 'novo normal'

Por Lucas Morais
Publicado em 21 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Em uma mesa na área externa, Amy Winehouse e Freddie Mercury apreciam uma boa cerveja artesanal. No balcão, Mick Jagger, Janis Joplin e Jim Morrison experimentam um chope gelado. São com as estrelas do rock que um bar em Belo Horizonte criou uma solução criativa para garantir o distanciamento social: totens gigantes com as figuras mundialmente conhecidas foram instalados nos locais que não podem ser ocupados pelos clientes.

Proprietário do bar Uaimii, Normando Siqueira conta que o público tem aprovado a ideia. “Quando estávamos fechados, começamos a pensar formas para garantir o cumprimento dos protocolos sanitários. Inicialmente, pensamos em manequins com roupas, mas depois surgiu essa iniciativa de criar os totens de papelão e fazer uma brincadeira, como se os artistas estivessem no bar. E tem dado muito certo. Além de ajudar a respeitar a distância, os clientes sempre tiram fotos”, afirma.

Junto com outras medidas para evitar a transmissão do coronavírus, como o uso de álcool em gel e máscaras pelos funcionários, Siqueira ainda abriu espaços externos. “As pessoas estavam com saudade de frequentar os bares”, complementa. 

E as ideias criativas não param por aí. São vários os estabelecimentos que adotaram essas iniciativas inusitadas em BH e região para cumpri as normas sanitárias nesse novo noval. Em Esmeraldas, o Hotel Fazenda Parque do Avestruz, que retomou as atividades em junho, usa bambolês para que as crianças se mantenham distantes uma das outras. “Os bambolês demarcam o território para as crianças menores, que também devem usar as máscaras. Todos os funcionários andam com o álcool em gel para higienizar as mãos dos pequenos e também dos equipamentos de lazer”, afirma a proprietária do estabelecimento, Fabiana Silveira.

Nas piscinas, há controle de entrada – são permitidas até seis crianças a cada 30 minutos nas áreas infantis – e as famílias devem se manter distantes uma das outras. No café da manhã, os alimentos são servidos pelos funcionários do local e os hóspedes só podem entrar na área do buffet após higienizar as mãos, usando a máscara. 

Cartões e flores para espantar a solidão

Um hotel na Savassi, região Centro-Sul da capital, tornou-se especialista em receber pessoas que precisavam manter-se isoladas por estarem com Covid-19. O check-in agora é virtual, e a entrada, pela garagem. No lugar de abraços, cartões e flores para que os hóspedes, em sua maioria profissionais de saúde, não se sentissem sozinhos. 

“Tivemos muitos casos de médicos, enfermeiros e farmacêuticos que testaram positivo para a doença. Inclusive, uma hóspede começou a ficar deprimida por estar isolada de todos. Passamos a estabelecer um contato diário para saber como andava o psicológico, mandar cartões com mensagens de esperança, flores e conversas pelo WhatsApp”, conta Alexandre Moura, gerente My Place Savassi Hotel.

No Hospital Sofia Feldman, na região Norte de BH, os dois restaurantes da unidade receberam adaptações. Por meio de uma parceria com a iniciativa privada, a direção instalou barreiras de acrílico em todas as mesas. “Fazemos cerca de 900 partos por mês e o fluxo de pessoas é grande. E como tem que tirar a máscara para comer, esse equipamento acaba ajudando a diminuir os riscos de contágio da doença”, explica Almeida Duarte, diretor administrativo do hospital. 

Barreira em carros inibe até ladrões

Até nos momentos mais críticos da pandemia, a maioria dos motoristas de aplicativo seguiu trabalhando para levar o sustento para casa e não deixar a população sem transporte. Diante dos riscos por conta da alta rotatividade de passageiros, alguns instalaram divisórias entre os bancos dianteiro e traseiro. Claudikson Tavares, 45, chegou a organizar um grupo com 145 motoristas para comprar o equipamento a preços mais acessíveis. O engajamento deu certo, e a unidade da barreira passou de R$145 para R$ 50.

“Ficam até três passageiros atrás da divisória entre o motorista. Caso a pessoa espirre ou mesmo tire a máscara, que é algo que não conseguimos controlar pela atenção exigida no trânsito, essa barreira acaba nos protegendo. Inclusive ela tem até inibido assaltos, já que os criminosos não têm acesso direto ao condutor”, conta. 
Conforme Tavares, que é motorista de aplicativo há três anos, a nota nas plataformas aumentou depois que ele instalou a divisória. “Isso mostra que deveríamos ter mais iniciativas assim”, afirma. 

Inovação só vale se cada um fizer sua parte

Para o infectologista Leandro Curi, essas iniciativas criativas em comércios e serviços que atendem presencialmente o público ajudam a minimizar a propagação da Covid-19. “Eu vejo com bons olhos. São estratégias que reduzem o risco de infecção, apesar de não zerar. Vale lembrar que a principal forma de contato do vírus com o organismo é através das gotículas dispersadas no ar”, afirma.

O médico lembra que é essencial seguir todos os demais protocolos já disseminados, como o uso de máscaras. “Todo tipo de criatividade funciona, mas temos que lembrar que isso não depende só dos estabelecimentos, mas também dos clientes. As pessoas precisam cooperar”, finaliza. 

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