Preocupação

Caminhoneiros relatam dificuldades para se alimentar nas estradas

Restaurantes fechados ou com horário de atendimento reduzido têm dificultado o trajeto de muitos motoristas de veículos de carga no país

Por Isabelly Morais
Publicado em 08 de abril de 2020 | 16:47
 
 
normal

O fluxo de carros de passeio em estradas e rodovias de todo o país teve uma redução com as recomendações de isolamento social. O que sofreu pouca alteração foi o número veículos de carga, sendo fundamentais para o abastecimento dos serviços essenciais. Peças importantes nesse processo, caminhoneiros têm relatado algumas dificuldades ao longo de seus trajetos, especialmente com restaurantes fechados ou em horários reduzidos de atendimento, que são consequências da pandemia do coronavírus.

"Na estrada, a maioria dos postos não está tendo o mesmo atendimento. Às vezes, não dá pra comer no horário certo. Banho também está difícil, porque não são todos os postos que liberam, dependendo do horário que a gente passa", conta o caminhoneiro Júlio Cesar, de 44 anos, que saiu nesta terça de BH com destino à cidade de Goiânia, em Goiás.     

Alguns estabelecimentos têm se adaptado com algumas medidas de prevenção e enfrentamento do coronavírus. A reportagem percorreu um trajeto da BR-040 nesta quarta (8), na altura das cidades de Ribeirão das Neves e Esmeraldas, para averiguar o funcionamento de estabelecimentos e percebeu algumns com alterações em decorrência da pandemia. A BR-040 é a principal rodovia que liga Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Uma lanchonete e churrascaria, localizada no km 505 da BR-040 (sentido Brasília), funcionava de 6h às 22h, mas agora tem fechado as portas às 18h. O estabelecimento, que fica em Ribeirão das Neves, teve uma redução no quadro de funcionários, com demissões e algumas férias antecipadas. O serviço de self service foi suspenso, servindo apenas pratos executivos.

Um pouco à frente, no km 496, um restaurante na cidade de Esmeraldas permanece em funcionamento 24h, como de costume. A refeição, servida dentro do estabelecimento, também não é mais no modelo self service. Os próprios funcionários servem a comida dos clientes, orientando que fique apenas um por mesa. Ao lado, um posto de gasolina também continua em funcionamento 24h, onde os caminhoneiros podem tomar banho. 

Do outro lado, no sentido contrário da BR-040 (sentido Rio de Janeiro) e também no km 496, um restaurante que funcionava 24h alterou o horário. Agora, fica aberto de 6h às 21h30, servindo marmitex e lanches rápidos, sem permitir que os clientes se alimentem dentro do estabelecimento. Ao lado, um posto de gasolina também alterou o atendimento de 24h para o período de 6h às 0h.

É importante citar que os três restaurantes obervados estão na Grande BH, mas os cenários são variados ao longo de rodovias e estradas, segundo relatos de caminhoneiros.

"Alguns restaurantes que a gente já tinha costume de passar estão fechados. Outro dia, passando perto de Oliveira umas 20h, tinha alguns moradores na beira da pista dando janta", relata Rubens de Araújo, de 42 anos, que tinha acabado de sair de Sete Lagoas em direção à cidade de Piraí, no Rio de Janeiro, com uma carga de bebidas.  

Pelas rodovias Brasil afora, algumas iniciativas, tanto de órgãos públicos quanto privados e da sociedade civil, vêm tentando dar suporte a caminhoneiros. Nesta quarta, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou uma ação na BR-040, no km 508, distribuindo kits com alimentos, água e produtos de higiene para motoristas de veículos de carga. A ação foi em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, o Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT), da Unidade Serra Verde, além da Concessionária Via 040.

Os motoristas também foram orientados sobre medidas preventivas à Covid-19, além de formas de higienizar as cabines dos veículos. Também, um médico e alguns enfermeiros da Concessionária 040 estavam aferindo pressão e medindo a temperatura dos motoristas. 

A Concessionária 040, a ANTT e o SEST/SENAT têm realizado outras ações, desde campanhas de conscientização até distribuição de alimentos e produtos de higiene. A Concessionária informou, inclusive, que até o momento cerca de 3 mil caminhoneiros foram abordados pelas equipes médica e de operação na Via 040. Já o SEST/SENAT, desde o dia 25 de março, tem feito a entrega de kits e dado orientações aos motoristas em todo o país por meio de suas 159 unidades no Brasil.

Vindo de Curitiba (PR), o caminhoneiro Gláucio Julg, de 60 anos, saiu do Paraná nessa terça (7) e relatou que o ponto de apoio na BR-040 foi o primeiro que encontrou do tipo desde que saiu do Sul. "Para esta semana, deu uma melhorada, mas semana passada foi bem complicado. Eu chegava 20h e restaurante já tinha fechado. Saí ontem (terça) cedo do Paraná e dormi em Belo Horizonte. Em algumas balanças, tinha banho e café. Desde que saí ontem, aqui é a primeira vez que recebo o lanche. É bom, um apoio para nós", conta.

Sobre a situação dos caminhoneiros, o Governo do Estado de Minas Gerais informou que "tem mantido diálogo constante com as prefeituras mineiras. Nas estradas estaduais, as forças de segurança estão orientadas a manter a livre circulação de todos os veículos, incluindo para o transporte de alimentos, insumos e cargas essenciais".

Ainda, que "serviços essenciais como postos de combustível, oficinas mecânicas e lojas de conveniência continuam com permissão para funcionar. As medidas de enfrentamento ao coronavírus em Minas Gerais, entretanto, estão em análise constante e podem sofrer alterações, diante de novas avaliações do governo".
 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!