O Ministério das Relações Exteriores do Brasil enviou uma carta à revista britânica The Economist na última semana, em resposta a um artigo que questionava a influência internacional e a popularidade interna do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento, assinado pelo ministro Mauro Vieira, contesta pontos específicos da publicação veiculada no fim de junho.

A revista britânica afirmou que Lula estaria perdendo popularidade no Brasil e reduzindo sua influência no cenário internacional. "The Economist" caracterizou a postura do presidente brasileiro como "cada vez mais hostil ao Ocidente", sugerindo um afastamento das posições defendidas pelos Estados Unidos e uma aproximação de países como China e Irã.

Um dos principais pontos criticados pela publicação foi a reação do Brasil aos ataques norte-americanos a instalações nucleares iranianas. Enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, descreveu a operação como uma "ação defensiva", o governo brasileiro condenou "com veemência" os ataques, argumentando que colocavam civis em risco.

A revista destacou que essa posição colocou o Brasil em "desacordo com todas as outras democracias ocidentais, que ou apoiaram os ataques, ou apenas expressaram preocupação". A publicação também mencionou que essa divergência poderia se intensificar durante a próxima Cúpula dos Brics no Rio de Janeiro.

O Irã se tornou membro dos Brics em 2024, grupo atualmente presidido pelo Brasil. A revista sugeriu que diplomatas brasileiros estariam tentando direcionar os temas da Cúpula para assuntos menos controversos, evitando debates que Trump já demonstrou rejeitar.

A The Economist observou que Trump praticamente não mencionou Lula ou o Brasil desde que assumiu o cargo. A publicação concluiu que "Mas seu silêncio também pode ser porque o Brasil, relativamente distante e geopoliticamente inerte, simplesmente não importa tanto quando se trata de questões de guerra na Ucrânia ou no Oriente Médio. Lula deveria parar de fingir que importa e se concentrar em questões mais próximas".

Resposta do Itamaraty

Na carta de resposta, o ministro Mauro Vieira fez considerações em relação ao artigo. "Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas", afirmou.

O documento destacou a visão brasileira sobre o Brics, definido pelo ministro como "ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico". Segundo Vieira, a presidência "trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade."

Sobre a liderança de Lula, a carta aponta que "o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores". O ministro ainda definiu o Brasil como "país que não tem inimigos" e "coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia", colocando Lula como "um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra."

"Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível", encerrou o ministro na carta encaminhada à revista britânica.