Uma postagem do ministro da Educação, Abraham Weintraub, nas redes sociais provocou novo tensionamento nas relações entre o Brasil e a China. Após usar o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para ridicularizar o sotaque dos chineses, Weintraub disse que pode até pedir desculpas à embaixada do país asiático por sua "imbecilidade", desde que a China forneça respiradores ao Brasil para o combate ao novo coronavírus.
"Eu sou brasileiro. Então, vou fazer o seguinte, meu acordo aqui, vou lá, peço desculpa, falo ‘por favor, me perdoem pela minha imbecilidade’, e a única condição que tenho é que, dos 60 mil respiradores que estão disponíveis, eles vendam mil respiradores para o MEC, para salvar a vida dos brasileiros, pelo preço de custo", afirmou Weintraub em entrevista à rádio Bandeirantes.
A mensagem postada no sábado por Weintraub foi interpretada como "fortemente racista" por Pequim. No momento em que o Brasil enfrenta dificuldades no combate à Covid-19 por depender de insumos e equipamentos hospitalares fabricados por estatais chinesas, há temor de que o episódio possa abalar mais uma vez as relações. A China é o maior parceiro comercial do Brasil.
O ministro da Educação chegou a publicar a capa de um gibi da Turma da Mônica com personagens na Muralha da China para questionar quem sairia fortalecido da crise mundial provocada pela pandemia, insinuando interesses do país asiático. No texto, Weintraub trocou a letra "r" pela "l" , como Cebolinha, fazendo chacota com erros cometidos por chineses com o idioma português
"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu o ministro, que depois apagou a mensagem.
A embaixada da China em Brasília cobrou uma retratação por parte do governo comandado pelo presidente Jair Bolsonaro. "Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China", escreveu a embaixada.
"Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil. O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude", diz a mensagem. O embaixador Yang Wanming também voltou a cobrar publicamente retratação por parte do Itamaraty, o que não ocorreu.
Apesar de negar o racismo, Weintraub reiterou críticas e acusou o país asiático de reter informações sobre a pandemia para agora vender respiradores e equipamentos de proteção individual, como máscaras, a preço de leilão.
Eduardo
No mês passado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, também disse que a culpa pela crise do coronavírus era da China. Na ocasião, Eduardo acusou o governo chinês de ocultar a gravidade da doença, que teve o primeiro caso verificado em Wuhan.
Na ocasião, a Embaixada da China também pediu explicações ao governo brasileiro. Embora Eduardo não tenha se desculpado, a situação foi dada como contornada pelos dois lados após uma conversa telefônica entre Bolsonaro e o presidente chinês, Xi Jingping.