Os impactos da pandemia de coronavírus já são evidentes no comércio e na indústria brasileira, mas a expectativa é que os efeitos na economia se intensifiquem – o Brasil deve enfrentar o pico da doença entre 60 e 90 dias, e o número de casos deve se estabilizar a partir de julho, de acordo com o ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Enquanto isso, empresas esperam do governo medidas para minimizar os prejuízos, sobretudo a perda de empregos e o fechamento de negócios.

Em Belo Horizonte, a queda de fluxo de consumidores e de vendas já chega a 30% em alguns setores, de acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva. Para reduzir os impactos do coronavírus nas empresas da capital, ele enviou, nesta terça-feira (17), ofícios aos governos federal, estadual e municipal com uma série de reivindicações, como a concessão de linhas de crédito com condições diferenciadas para os empresários.

"Essas linhas de crédito são uma forma de ajudar empresas a passarem por esse período. Esse dinheiro vai estar na economia, ajudando a manter empregos e fazendo com que as atividades não morram. Também é importante facilitar o acesso ao crédito, hoje é muito burocrático", afirma.

A CDL solicitou o parcelamento em até seis vezes dos valores devidos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Simples Nacional e a prorrogação do pagamento dos impostos. "Temos que ter boas ações e orientação para todos, caso contrário, daqui a um mês, vamos ter uma onda de desemprego enorme. Cerca de 80% dos empregos em Belo Horizonte estão nos setores de comércio e serviços", afirma Souza e Silva.

A entidade também trabalha para que o pagamento de aluguel de imóveis e de dívidas com fornecedores seja flexibilizado. "Neste momento, esperamos que todos tenham bom senso. A cadeia toda precisa entender a situação emergencial que estamos passando, não pode ficar só na costa dos lojistas", pontua.

O economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, diz que a paralisação de linhas de produção em outros países, que já ocorre também no Brasil, afeta a indústria e prejudica o comércio. "O varejo é o último elo com o consumidor final, se tem efeito na produção, isso é sentido no comércio varejista. O receio e a incerteza da população em períodos como esse, quando as pessoas buscam se expor menos ao risco e tendem a ir menos a centros de compra, também impactam no setor", diz.

Segundo ele, tudo isso deve influenciar no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2020. "A gente vem de três anos de crescimento bastante tímido, muito aquém do potencial da economia, e, certamente, essa pandemia, aliada à guerra do petróleo, vai derrubar o PIB. Isso se traduz em elevado desemprego, renda achatada e situações adversas para a economia", afirma Almeida.

Na última semana, o governo reduziu a projeção de crescimento do PIB de 2,4% para 2,1%. Mas, para os bancos, a expectativa é de queda maior. O Credit Suisse diminuiu a previsão para o PIB deste ano de 1,4% para 0%. O Santander fez um corte de 2% para 1%.  

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de Minas Gerais tamém caiu em março, em comparação com o mês anterior, impulsionado pela incerteza nos mercados com a disseminação do coronavírus e pela baixa atividade econômica no início do ano. A queda de 3,7 pontos foi divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) nesta quarta-feira (18).

Sebrae lança Guia de Gestão Financeira para orientar pequenos negócios em meio à pandemia

O Sebrae lançou um guia para apoiar os donos de pequenos negócios diante da instabilidade econômica causada pelo coronavírus. O documento traz orientações sobre como os empreendedores podem controlar as finanças neste momento de redução de fluxo de clientes, queda de faturamento e redução na produção.

“A ideia é criar uma rede de apoio aos empreendedores que desempenham um papel estratégico no desenvolvimento da economia brasileira (99% dos negócios do país são de micro e pequenas empresas) e hoje respondem por 27% do PIB nacional, ou seja, quase um terço de toda riqueza produzida no país”, analisa o presidente do Sebrae, Carlos Melles. 

Segundo o Sebrae, os segmentos mais afetados pelo coronavírus estão relacionados a atividades de intenso atendimento ao público, como turismo, alimentação fora do lar, feiras livres e varejo.

A entidade lembra que os cinco maiores bancos do país, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander, vão prorrogar, por 60 dias, os vencimentos de dívidas de micro e pequenas empresas e de pessoas físicas para os contratos vigentes em dia e limitados aos valores já utilizados.

Veja as dicas para os empreendedores:

Faça uma previsão das despesas para um período de dois ou três meses e, se possível, identifique esses valores de acordo com o tipo de despesas;

Procure negociar as despesas com maior impacto no seu negócio;

Evite fazer alguma despesa que não seja extremamente necessária para a continuidade do negócio;

Procure negociar as despesas bancárias, buscando um prazo maior para o pagamento dos compromissos;

Estude a possibilidade de realizar promoções de produtos que estejam no estoque há muito tempo e disponibilize serviços de entrega para manter o nível de compra dos cliente.