O governo português prepara um plano de intervenção na companhia aérea TAP que pode ter, inclusive, consequências na estrutura de acionistas, como é desenhada hoje. A reestatização é uma das possibilidades. Durante uma auditoria parlamentar na Comissão de Economia e Obras Públicas nesta quarta-feira (29), o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, disse que, sem intervenção pública, a transportadora "não tem nenhuma possibilidade de sobrevivência".
Conforme o ministro, o governo estuda várias alternativas de atuação para que a companhia não entre em falência. A estratégia a ser escolhida estará ligada aos interesses do Estado, segundo ele, e não dos acionistas. "Qualquer intervenção do Estado na TAP significará que o governo acompanhará todas as decisões que serão tomadas nos próximos tempos e que poderão ter impacto relevante no futuro e na vida da empresa", afirmou. Uma das ideias seria a de o Estado aportar recursos na companhia. Se não houver acompanhamento do setor privado neste caso, o controle da empresa volta a ser estatal.
O ministro mostrou-se ainda crítico em relação à administração liderada por Antonoaldo Neves, que já foi presidente da companhia aérea brasileira Azul, criada por David Neeleman: "Não é por eu ser ministro que vou passar a dizer que a empresa foi bem gerida." Ele disse que já vinha criticando os resultados da TAP mesmo antes da pandemia de Covid-19. A última vez que a TAP teve lucro foi em 2017 (21,2 milhões de euros). Depois registrou prejuízos em 2018 (118 milhões de euros) e no ano passado (105,6 milhões).
O momento é particularmente complicado para a empresa, conforme Santos, porque além dos reflexos da pandemia sobre as companhias de todo o setor no mundo, a TAP ainda conta com uma dívida de 800 milhões de euros. Uma comissão executiva escolhida pelos acionistas privados da companhia chegou a pedir garantias públicas para obter um empréstimo de 350 milhões de euros. Para Santos, no entanto, "350 milhões de euros não resolvem o problema da TAP". O ministro salientou ainda que, ao final, ainda caberá ao Estado pagar a dívida caso a empresa não sobreviva: "É o povo português que paga, então é bom que seja o povo português a mandar."