Pandemia

Covid-19: estudo sugere que internações graves em BH vêm de áreas vulneráveis

Informativo quinzenal da UFMG mapeia casos da doença e os analisa sob questões socioeconômicas e geográficas na capital mineira

Por Bruno Mateus
Publicado em 04 de julho de 2020 | 17:13
 
 
 
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Os casos graves de doentes hospitalizados em Belo Horizonte em decorrência da Covid-19, antes mais espalhados geograficamente pela cidade, agora estão concentrados nas áreas socioeconômicas mais vulneráveis da capital mineira. É o que sugere o estudo realizado pelo Observatório de Saúde Urbana (OSU) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com base nos dados enviados semanalmente pela Secretaria Municipal de Saúde. O boletim quinzenal InfoCovid-OSUBH foi divulgado nesta sexta-feira (3) e traz informações importantes para se entender a evolução e o cenário do novo coronavírus em BH. 

Os dados analisados referem-se ao período de 29 de dezembro de 2019 (data que marcou a primeira semana epidemiológica) a 20 de junho deste ano, quando completou-se a 25ª semana. Nesse período, 3.705 pessoas residentes em BH foram internadas em estado grave por Síndrome Respiratória Aguda (SRAG). Embora nem todos os casos tenham a comprovação de Covid-19, o estudo trabalha com esse marcador, já que nem todos têm acesso a testes e exames.

O estudo cita o Alto Vera Cruz, na região Leste, o Aglomerado da Serra e a Barragem Santa Lúcia, na Centro-Sul, a Pedreira Prado Lopes e o Senhor dos Passos, na região Noroeste, e bairros no entorno dessas duas últimas, como São Cristóvão, Lagoinha e Santo André, como pontos importantes dessa concentração. As vizinhanças das vilas e favelas, ainda que em menor grau, também apresentam alta concentração de casos graves hospitalizados.

Segundo a médica, professora titular da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora do OSU, Waleska Teixeira Caiaffa, a equipe de pesquisadores de diferentes áreas - epidemiologistas, geógrafos e estatísticos - envolvidos no projeto recebe os dados da Secretaria Municipal de Saúde e aplica estratégias de leituras com base em técnicas de georreferenciamento.

Assim, é possível buscar os detalhes, entender a situação socioeconômica dos doentes graves hospitalizados por Covid-19 em BH e saber, por exemplo, a residência desses infectados. A especialista diz que é preciso ter muito cuidado ao analisar os dados do estudo e as próximas semanas poderão fornecer informações mais definitivas.

“Agora é observar. Daqui a 15 dias vamos ter outro boletim. O estudo não é absolutamente final, mas sugere. Precisamos monitorar junto com a Secretaria de Saúde e irmos juntando os pedacinhos desse quebra-cabeça. A hipótese é que a doença vai acabar se concentrando nesses locais, mas ainda é uma sugestão do estudo. Podemos ter a confirmação nesse sentido ou outra leitura. O processo é muito dinâmico”, diz a pesquisadora.

Desigualdade social

Para a pesquisadora, o coronavírus expõe as mazelas socioeconômicas do país: “O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, isso já é visível, mas o coronavírus está aumentando essa distância. O coronavírus não é igual para todo mundo, ele vai se concentrando em áreas mais favoráveis a sua disseminação”.

Waleska Teixeira Caiaffa afirma que, hoje, o foco são os doentes graves hospitalizados, mas o ideal seria mirar a situação em um estágio anterior - os óbitos, segundo a médica, também ainda não entraram nas análises do projeto. “O que estamos vendo é a ponta da pirâmide, a ponta do iceberg”. Ela pondera que, se houvesse melhores índices de testagem no país, o impacto socioeconômico da pandemia seria melhor entendido.

Além disso, os dados poderiam ser utilizados pelos governos para a construção de políticas públicas mais localizados junto a essa população mais vulnerável. “A realização de testagem populacional por amostragem, especialmente nos locais de grande concentração, permitiria a identificação da infecção, a busca ativa de sintomáticos a partir da atenção primária e a disseminação das medidas preventivas nestes territórios”, diz o estudo.

Ranking

Até 6 de janeiro, a região de Venda Nova, com 375 internações, liderava a lista das regionais com mais casos graves hospitalizados, seguida de perto pela Leste (373), Oeste (364) e Noroeste (354). Barreiro (328), Nordeste (317), Centro-Sul (313), Norte (237) e Pampulha (232).

 

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