Pandemia

Jovens de baixa renda voltam ao trabalho presencial mais rápido

Porcentagem de pessoas que já voltaram para o presencial cai na medida em que a renda familiar aumenta; Minas Gerais tem 15% dos aprendizes ainda trabalhando em home office

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 25 de outubro de 2021 | 04:00
 
 
 
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A condição socioeconômica dos jovens brasileiros foi fator fundamental para determinar quem pôde manter o isolamento social durante a pandemia de Covid-19. Essa leitura pode ser feita a partir de uma pesquisa entre jovens aprendizes atendidos pela Espro (Ensino Social Profissionalizante), associação filantrópica presente em 300 municípios do país. 

A sétima etapa da Pesquisa Jovem Covid-19, realizada de maneira bimestral desde o início da pandemia com os jovens, indica que 52% dos entrevistados estão trabalhando presencialmente no momento. Mas esse índice varia conforme a faixa socioeconômica. A porcentagem de trabalho presencial vai caindo na medida em que a renda familiar sobe: 55% (de um a dois salários mínimos), 52% (dois a três), 45% (três a quatro) e 39% (de quatro a cinco). São Paulo é o Estado com maior número de jovens que fazem home office (29%), ante 15% de Minas Gerais e 16% de Pernambuco.

Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro, explica que há duas possibilidades de interpretação a partir desses números. “Há um viés econômico, indicando que o jovem de maior poder aquisitivo tem maior possibilidade de fazer home office ou está em posições em que podem ser executadas remotamente. Ou os mais pobres trabalham em estruturas ou posições que não permitem o home office, como uma linha de montagem”, afirma. 

Além disso, jovens que possuem melhor estrutura em casa puderam se oferecer para fazer o trabalho de maneira remota. “Em alguns casos, a empresa não tinha estrutura para colocar na casa do jovem, mas, se ele tivesse computador e internet em casa, poderia se oferecer para fazer o trabalho remotamente”, estima Saade.

Os levantamentos da Espro são feitos a partir de pesquisas disparadas para os 14 mil jovens participantes do programa de aprendizagem, ligado a empresas de diferentes portes e áreas em todo o país. Nesta etapa, 1.463 responderam à pesquisa. 
Segundo Saade, os jovens que estão em home office tendem a atuar em áreas de gestão, atendimento e vendas, enquanto os que trabalham em regime presencial costumam estar em áreas de operação, logística e estoque. 

Durante a pandemia, conforme algumas áreas foram severamente impactadas, como hotelaria e entretenimento, os jovens de 16 a 24 anos foram remanejados para que não parassem a trajetória no programa, que une estudo com trabalho. “Enquanto alguns setores estavam paralisados, outros tiveram de crescer, como a indústria de higiene, limpeza, logística e e-commerce. As vagas acabaram sendo direcionadas para essas áreas”, disse.

Renda de aprendizes não caiu 

Quando a pandemia começou, os gestores da Espro imaginavam que haveria uma evasão do programa que conecta jovens aprendizes com empresas. Mas aconteceu o contrário. De acordo com Alessandro Saade, os participantes se agarraram ainda mais à oportunidade. 


“Nossas pesquisas têm apontado para um impacto emocional muito grande sofrido pelos jovens, porque muitos acabaram se tornando arrimo de família. Vários têm pais que perderam empregos e renda durante a pandemia, enquanto a renda desse jovem aprendiz não caiu. Essa renda foi mantida até mesmo durante o momento em que a empresa manteve os funcionários em casa. Isso provoca um grande senso de responsabilidade, deixando um efeito emocional muito delicado”, explica. 


Por outro lado, a oportunidade de se manter como aprendiz durante a pandemia pode abrir portas importantes em um momento de alto desemprego, especialmente entre as pessoas com menos de 25 anos. “Nossos levantamentos indicam que dois terços desses jovens são contratados pelas empresas”, afirma Saade. 

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