O sonho de todo pai é poder acompanhar o nascimento da filha e pegá-la nos braços logo quando nasce. Mas, um casal de Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais, teve esse momento adiado por causa da Covid-19 e só pôde conhecer e carregar a filha no colo, pela primeira vez, quase um mês após o nascimento dela, depois de vencerem juntos a gravidade do coronavírus. Esse foi o presente recebido pelo analista de sistemas Fernando Almeida da Silva Junior, de 36 anos, e a mulher, a advogada Mariana Silva Colares, de 34 anos. Os dois tiveram Covid-19 e estavam intubados quando a pequena Manuela nasceu, no dia 25 de março, em um hospital particular da cidade.

“É uma sensação indescritível porque você sempre sonha em participar do parto e de todo o processo do nascimento de uma filha. Ficar quase 30 dias sem conhecer minha filha e depois pegá-la nos braços foi a maior dádiva da minha vida”, afirma Fernando, que, depois de 35 dias hospitalizado, pôde carregar Manuela no colo, no dia 22 de abril.

Já Mariana recebeu o presente do Dia das Mães antecipado. Ela viu a filha, também pela primeira vez, na última quarta-feira, dia 28. “Foi um momento único, ver a mãe encontrando a filha. Só Deus para explicar porque a natureza não tira o filho de uma mãe. Foi maravilhoso o nosso reencontro”, conta o pai.

O analista de sistemas testou positivo para Covid no dia 13 de março. Mesmo assintomático, ele se isolou em casa e Mariana, grávida de sete meses, foi para a casa dos pais. Dias depois, Fernando foi ao hospital e fez uma tomografia, que constatou que o pulmão estava comprometido entre 50% e 70%. “Eu me sentia bem. Estava andando, conversando, com oxigenação do sangue entre 96, 97. Quando saiu o resultado desse exame no pulmão, fiquei maluco”, lembra.

No dia 18 de março, ele foi intubado. Cinco dias depois, Mariana começou a sentir os sintomas da Covid e procurou o hospital. Foi colocada no oxigênio e, com 31 semanas de gestação, teve uma piora do quadro clínico e precisou passar por uma cesariana de urgência.

O parto foi prematuro, e a primeira filha do casal veio ao mundo com apenas 1,6 kg. Em seguida, Mariana precisou ser intubada e não pôde conhecer a filha. Os médicos também fizeram o teste de Covid em Manuela. O exame deu positivo, a bebê ficou internada e também foi intubada. Com 17 dias de vida, ela recebeu alta e foi para casa, onde ficou sob os cuidados dos avós paternos e maternos.

“Chegou um momento em que os três estavam intubados. A Manuela foi mais forte que todo mundo e, com 17 dias, veio para casa. Mas, graças a Deus, as orações ajudaram, e minha família toda conseguiu sair dessa. Foi um milagre, a medicina fez a parte dela, mas teve uma força maior, que agiu sobre nós”, diz Fernando ao explicar que Manuela significa “Deus está conosco”.

Agora, ao lado dos pais e rodeada de amor, a pequena Manuela vem se desenvolvendo cada vez mais e já pesa quase 3 kg. “Ela só cresce”, brinca o pai.

Rotina retomada aos poucos

Depois do pesadelo vivenciado de perto com o coronavírus, a rotina da família de Sete Lagoas começa a ser retomada aos poucos. Fernando Almeida divide o tempo entre a filha e as sessões de fisioterapia para se recuperar das sequelas da Covid.

“Agora é muito amor com a baixinha. É uma felicidade poder estar todos juntos. Tive uma sequela no pé e estou fazendo fisioterapia. Uma pulmonar e outra motora, para recuperar o movimento do pé. Mas isso não é nada diante de tudo que eu passei e venci”, diz o analista de sistemas. 

Mariana Colares também se recupera bem. Ainda com dificuldades para falar devido à traqueostomia, ela deve iniciar as sessões de fisioterapia, para recuperar a força muscular, nos próximos dias. 

“As pessoas precisam ter fé e acreditar que existe um ser maior que olha pra gente. Deus é único, em todas as religiões, e sempre faz o melhor. Essa é minha mensagem para quem está enfrentando a Covid”, finaliza.