Mais pedidos de resgate

Pandemia de coronavírus eleva abandono de animais em Belo Horizonte, alerta ONG

Circulação de informações falsas contribui para que tutores deixem cães de estimação nas ruas

Por Rafaela Mansur
Publicado em 25 de março de 2020 | 17:46
 
 
 
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Desde o início da pandemia do coronavírus, o abandono de animais tem crescido em Belo Horizonte, de acordo com a ONG Vida Animal Livre, que, a cada dia, recebe mais pedidos de resgate. Para a organização, isso ocorre, principalmente, devido à circulação de notícias falsas na internet que dizem que os cães transmitem a doença.

Segundo a ativista e presidente da ONG, Val Consolação, animais que antes não eram vistos na rua com frequência, como cachorros de raça, sadios e filhotes, passaram a ser vítimas de abandono.

"O abandono é constante, normalmente já recebemos de cinco a sete pedidos de resgate por dia. Agora, com a pandemia, passamos a receber também cães que tinham família. Nesta semana, de domingo (22) até esta quarta-feira (25), foram 14 animais que imaginamos que tinham donos", diz Val, que atua há 15 anos como protetora dos animais. Cães das raças Yorkshire e Shih Tzu, por exemplo, foram resgatados nos últimos dias. "São animais difíceis de encontrar na rua. A gente vê mais vira-latas normalmente", afirma Val.

O trabalho da ONG consiste em resgatar os animais, levá-los para lares temporários, aos cuidados de voluntários, e, posteriormente, encaminhá-los à adoção. Mas não é possível, por falta de condições, cuidar de todos os bichos abandonados.

"Os cachorros são muito dependentes dos seres humanos. Quando são jogados na rua, podem ser mortos atropelados ou envenenados ou morrerem de fome, sem água e comida", diz Val. "Infelizmente, as fake news podem chegar muito rapidamente às pessoas. É preciso buscar informações corretas de fontes seguras", afirma.

Em alerta contra o abandono, o Conselho Federal de Medicina Veterinária está utilizando a internet para esclarecer à população que os animais não transmitem coronavírus. A entidade diz que "o abandono de animais é inaceitável e já era um problema de saúde pública no Brasil" e ressalta que cachorros e gatos sem vacinação e cuidados de saúde são potenciais transmissores de outras doenças, como raiva, leishmaniose, leptospirose e toxoplasmose.

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV/ MG), Bruno Divino Rocha, explica que os cães têm coronavírus, mas não é o mesmo que atinge os humanos. Nos cachorros, o vírus causa diarreia. "Não existe possibilidade de o animal passar para o homem, nem de o animal pegar a Covid-19. Não há nada comprovado nesse sentido e tudo está caminhando para provar que isso não acontece", pontua.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, o recolhimento dos animais em situação de abandono segue sendo realizado normalmente. Para o controle populacional dos bichos abandonados, a pasta oferece cirurgias gratuitas para cães e gatos que possuem responsável e para aqueles recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses; incentiva a adoção de animais recolhidos e promove ações de educação sobre guarda responsável.

Segundo o censo animal realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2017, há 404.784 animais domiciliados na capital, sendo 307.959 mil cães e 96.825 mil gatos. A secretaria diz que não há dados oficiais de bichos abandonados, mas afirma que ONGs de defesa animal estimam que cerca de 10% da população domiciliada pode ser encontrada nas ruas sem supervisão de um tutor.

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