O coronavírus está se espalhando pelo interior de São Paulo – e de forma acelerada. Se o ritmo se mantiver assim, todos os 645 municípios do Estado serão atingidos pela doença até o fim do mês de maio. A informação foi dada nesta quinta-feira (7) pelo secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi. Segundo ele, o surgimento de casos no interior cresce quatro vezes mais do que na Região Metropolitana da capital.
“No final de abril e início de maio, chegamos ao patamar de 38 novas cidades (registrando casos de coronavírus) a cada três dias. Se seguir por esse caminho ao longo do mês, significa que todos os municípios do Estado terão contágio de vírus até o final de maio”, disse Vinholi. “E estamos verificando aceleração nesse processo ao mesmo tempo em que as taxas de isolamento caíram no interior do estado de 52% para 47% em média, ao longo dos últimos 15 dias”, acrescentou.
“Em março, a cada três dias, sete novas cidades (apresentavam casos de coronavírus). Em abril, 25 novas cidades a cada três dias. Em maio, 38 novas cidades a cada três dias. Há 50 dias, eram apenas dez cidades (do Estado que tinham casos confirmados de coronavírus). Agora são 371 cidades (com casos confirmados). Olhem a progressão dessa epidemia quando se olha o conjunto do Estado. Não existe nenhuma região protegida neste momento”, afimou o diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, Dimas Covas.
O secretário municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, Geraldo Reple, que também é membro do Centro de Contingência, disse que a Covid-19 “está indo para o interior e com muita força”.Segundo Reple, isso preocupa muito o governo, já que algumas cidades paulistas não têm nenhum leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou leitos de estabilização para atender um doente de Covid-19. “O que sabemos é que muitos municípios não estão preparados”, afirmou.
“Na minha cidade (São Bernardo do Campo), inauguramos um hospital, há quatro dias, com cem leitos, sendo 19 de UTI. E hoje já tem 13 pacientes nesses leitos. E tenho outro serviço com 100% dos leitos de UTI já ocupados. Isso é um dado bastante preocupante”, enfatizou Reple.
“Outro dado preocupante é o número de internações, bem como o de altas. Com todos os leitos que estão sendo feitos no estado de São Paulo, tivemos ontem mil internações (no Estado) e 600 altas. Essa relação de internação e alta deveria ser muito próxima, porque, se o número continuar dessa forma, ou crescendo – e pelo que parece é o que vai acontecer, vamos entrar em uma fase extremamente complicada”, acrescentou.
Para evitar que o colapso chegue ao sistema de saúde paulista, o governo diz que pretende ampliar o número de leitos, principalmente após a chegada de respiradores ao Estado. No entanto, só isso não será suficiente para conter o colapso: a taxa de isolamento no Estado precisaria subir, atingindo próximo de 70%, alertam as autoridades do setor.
Por mais uma vez nesta semana o isolamento social no Estado de São Paulo ficou abaixo de 50%, valor mínimo considerado satisfatório pelo governo paulista para evitar a propagação do coronavírus e o colapso nos hospitais. Ontem (6), o isolamento manteve-se em 47%. “A meta (do governo paulista) era atingir 70%, mas estamos longe desse cenário”, disse Dimas Covas.
De acordo com Covas, a taxa de reprodução ou de contágio do coronavírus (R0) no Estado era, no início, de 2,9, ou seja, uma pessoa infectada poderia contagiar cerca de três pessoas. Se a taxa de isolamento alcançasse 70% no Estado, a taxa de reprodução ficaria abaixo de 1, ou seja, a epidemia passaria a deixar de existir.
“Uma taxa de 70% (de isolamento) reduziria a taxa de transmissão para menos de 1. Quando isso acontece, a epidemia para de crescer. Ela para de aumentar. Ela se estabiliza até que, lá na frente, ela tenderia a desaparecer”, ressaltou Covas, lembrando a importância de as pessoas permanecerem em casa neste momento.
Leitos privados
Segundo o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, deve ser publicado nesta sexta-feira (8), ou no sábado (9), um chamamento público para que hospitais privados iniciem uma negociação com o governo sobre a cessão de leitos para o tratamento dos casos de coronavírus.
Segundo Germann, isso deve começar pelos hospitais filantrópicos e só depois com os da rede privada. Em último caso, se não houver negociação de leitos, o governo poderá requisitá-los, obrigando a rede privada a cedê-los.