O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a pregar anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Em seu discurso na Avenida Paulista neste domingo (29), disse que a invasão e depredação das sede dos Três Poderes foi planejada e executada “pela esquerda”.
O ex-presidente afirmou que “tudo foi quebrado antes de aquelas pessoas que estavam em paz no acampamento chegarem”, referindo-se aos seus apoiadores que se organizaram em frente ao Quartel-General do Exército.
“Chegou o fatídico 8 de janeiro. Um movimento mais do que claro orquestrado pela esquerda. Lula não estava em Brasília. No dia anterior, foi para Araraquara (SP), porque sabia o que iria acontecer. Tanto que as imagens de quase 200 câmeras sumiram. Tudo foi quebrado antes daquelas pessoas que estavam no acampamento chegaram”, disse o ex-presidente.
Diversas imagens mostraram centenas de apoiadores dele saindo do QG, caminhando até a Esplanada dos Ministérios, como apoio de policiais militares, e invadindo os prédios públicos.
Muitos deles se filmaram, com celulares, entrando nos prédios e até quebrando patrimônio público, em nome de intervenção federal para tirar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do Planalto, uma semana após a posse dele.
O ex-presidente classificou como “fumaça de golpe” o processo por tentativa de golpe de Estado, no qual ele é um dos réus no Supremo Tribunal Federal (STF). No discurso, disse que a Corte teve influência no resultado das eleições de 2022.
“Me processam por uma fumaça de golpe. Que golpe é esse que até hoje o Mossad [serviço secreto israelense] não está sabendo nada sobre ele?”, questionou disse Bolsonaro.
“Que arma foi apreendida? Busquem as polícias legislativas da Câmara e do Senado. Nenhuma arma foi apreendida além de um estilingue e umas bolinhas de gude. Que tentativa armada é essa? Golpe se dá com Forças Armadas, com armamento, com o núcleo financeiro, com núcleo político, com apoio de instituições inclusive fora do Brasil. Que golpe é esse, meu Deus do céu?”, emendou.
Sem citar nomes, ele criticou o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Reclamou das penas aplicadas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, e disse que o “objetivo [dos adversários] não é prender, é eliminar”.
Bolsonaro ainda afirmou ter feito uma “transição pacífica elogiada por Geraldo Alckmin [vice-presidente]” no fim de 2022. Ressaltou ter nomeado dois comandantes das Forças Armadas a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes de deixar o cargo, e que até o atual ministro da Defesa, José Múcio, descartou ter havido uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
“Nomeamos dois comandantes de força a pedido desse cara que está no governo agora. Quem quer dar golpe nomeia comandantes a pedido do governo opositor? No dia 30, algo me fez sair do Brasil. Não era apenas para não passar a faixa? Jamais eu passaria a faixa para um ladrão. Jamais eu passaria a faixa para um ladrão”, ponderou Bolsonaro.
Ele defendeu a anistia a todos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. “Anistia é um remédio previsto na constituição de iniciativa própria do Parlamento brasileiro independentemente dos outros dois Poderes. É o caminho da pacificação”, argumentou.
Bolsonaro pede a apoiadores para elegerem 50% do Congresso
O ex-presidente afirmou ainda se a direita bolsonarista conseguir mais de 50% de representantes na Câmara dos Deputados e no Senado ele “muda o destino do Brasil”.
“Se vocês me derem, por ocasião das eleições do ano que vem, 50% da Câmara e 50% do Senado eu mudo o destino do Brasil”, disse Bolsonaro. “Não interesse onde eu esteja, aqui ou no além, quem estiver na liderança (do Congresso) vai mandar mais que o presidente da República", completou.
Bolsonaro comandou neste domingo mais um ato em seu apoio e contra o Supremo Tribunal Federal (STF), sob alegação que ele e aliados políticos são perseguidos por ministros da mais alta Corte com suas decisões.
A manifestação, que durou quase duas horas, ocorreu em meio à fase final do julgamento no STF sobre a suposta trama golpista que visaria a manutenção de Bolsonaro no poder após derrota nas urnas em 2022.
Com o lema “Justiça Já”, o ato deste domingo miraria o julgamento e outras decisões da Corte, como a que responsabiliza as redes sociais por publicações ilegais dos usuários, segundo os organizadores.
Tarcísio exalta ex-presidente, prega pacificação e poupa STF
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), discursou antes de Bolsonaro e exaltou o governo do ex-presidente, com críticas contundentes à gestão de Lula.
Tarcísio disse não haver democracia “sem Bolsonaro nas urnas”. O ex-presidente está inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sem admitir publicamente, o governador de São Paulo é um dos nomes cotados da direita para disputar o Planalto em 2026.
Por outro lado, diferentemente de outros que discursaram no trio elétrico, Tarcísio não se referiu diretamente a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), embora tenha repetido críticas ao fato de Bolsonaro estar inelegível. “A gente está aqui para pedir justiça, pedir anistia, pedir a pacificação”, disse o governador.
Ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio falou de feitos da administração da qual fez parte e atacou o governo de Lula, falando em corrupção, gastos públicos e aumento de juros.
“Dois anos e sete meses foram suficientes para o pessoal jogar tudo na lata do lixo. Destruíram tudo. O Brasil não aguenta mais a desfaçatez, o gasto desenfreado, a política de campeões nacionais e a corrupção. Quem paga a conta dos juros altos é vocês. O Brasil não aguenta mais o PT. Vamos dar essa resposta no ano que vem, porque vamos nos reencontrar com a esperança e a prosperidade”, afirmou.
Discurso em inglês e ‘Volta, Bolsonaro’
Os parlamentares que discursaram antes de Bolsonaro e Tarcísio falaram em tom de campanha a favor do ex-presidente, o colocando como o nome da direita na disputa de 2026.
Nos discursos dos parlamentares também houve menções a temas recorrentes nas manifestações bolsonaristas, como a defesa de “voto impresso e auditável”, com a colocação do sistema eleitoral em xeque, além da exaltação ao patriotismo e ao nacionalismo.
O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) chegou a discursar em inglês, em apelo a autoridades norte-americanas por intervenção para, segundo ele, devolver a liberdade ao Brasil.
Faixas e bandeiras dos EUA e de Israel
Esse é o segundo ato pró-Bolsonaro na Paulista neste ano. Em 6 de abril, o mote era o projeto de lei para anistiar os envolvidos na invasão e depredação às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Assim como no ato anterior, era grande o número de bandeiras de Israel e dos Estados Unidos. Também havia faixas em apoio a Donald Trump, presidente norte-americano. Muitas delas com mensagens em inglês.
Por outro lado, diferentemente das outras vezes, não se via faixas de apoio a Elon Musk, o bilionário que deixou o governo Trump recentemente, com troca de acusações e ofensas por meio de redes sociais. Bolsonaro e apoiadores apontam o dono da rede social X como ícone da liberdade.
Quatro governadores presentes
O evento começou pouco depois das 14h, com a execução do Hino Nacional, como já é tradição nas manifestações de Bolsonaro e apoiadores. Essa foi a sexta vez desde que ele convocou um ato nas ruas desde que deixou a Presidência da República.
Na manifestação anterior, também na Paulista, em 6 de abril, sete governadores, filiados a cinco partidos políticos diferentes, estiveram presentes. Dessa vez foram quatro governadores, filiados a três partidos. Entre eles, dois cotados como pré-candidatos à Presidência em 2026.
Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, foram os presidenciáveis na Paulista neste domingo. Os outros dois são Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro.
Entre os também cotados para concorrer à Presidência em 2026, faltaram o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que já se lançou como pré-candidato, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná.
A manifestação de abril visava pressionar o Congresso nacional votar e aprovar o texto, mas o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não pautou a matéria.