Três voltas completas na Terra, ou 120 mil quilômetros. De kombi. Essa é a distância que a banda Čao Laru (pronuncia-se Tchau Larru) percorreu por 21 estados brasileiros e pela América do Sul - Argentina, Chile e Bolívia - somente em 2019 (sem contar o giro por cinco países da Europa), quando o grupo realizou a turnê do autoral “Fronteiras”, álbum lançado no ano passado. Ao todo, foram 150 shows em uma grande jornada itinerante. A parada da vez é Belo Horizonte, onde, nesta quinta-feira (5), eles sobem ao palco do Teatro Sesiminas.

Viver a estrada - e usá-la como inspiração - é a dinâmica dessa banda que nasceu em 2015, quando os integrantes se conheceram em Rennes, na França, onde faziam mestrado em pedagogia musical. Recentemente, o septeto ganhou nova formação e a francesa Léa Duez (flautas e voz), o brasileiro Joel Rocha (rabeca, guitarra, flautas) e o argentino Manuel Tirso (bateria) se juntaram aos brasileiros Noubar Sarkissian (voz, violão, acordeom, pandeiro e cavaquinho), Fábio Pádua (flauta, clarinete, violino e bandolim), Nicolle Bello (dança e voz) e Pedro Destro (baixo elétrico). 

Ao eliminar barreiras entre culturas e aceitar a música como uma arte essencialmente diversa, nada mais natural que esse caráter multirítmico se faça presente no trabalho da banda. Chacarera (música popular folclórica argentina), afoxé, samba, baião, valsa francesa, maracatu, música indiana, hip hop e milonga, entre outras influências, se misturam nas canções da Čao Laru, criando algo impossível de ser definido e colocado em uma estante.

“Temos essa abertura mundial, de diferentes culturas. O Brasil, por exemplo, é muito rico nesse sentido. Não conseguimos definir nosso estilo, costumamos dizer que são músicas do mundo”, comenta Fábio Pádua. 

É essa miscelânea que passeia entre tantos estilos que o belo-horizontino verá no palco. Pádua diz que o show seguirá basicamente as faixas de “Fronteiras”, que traz o single recém-lançado “Quero Falar”. “Quero falar das matas que estão virando pasto/ Dos bichos que estão correndo risco/ Dos rios que estão fedendo esgoto/ Da gente, ó minha gente, que desgosto”, diz a letra composta pela mineira Nicolle Bello.

O show ganhou nova roupagem e instrumentações com a atual formação. A canção “Marielle e Santiago Presentes”, sobre os assassinatos da vereadora carioca e do ativista argentino Santiago Maldonado, também está no setlist. “Vamos apresentar músicas novas para o pessoal”, promete Pádua.

A turnê por Minas Gerais, iniciada em Juiz de Fora, no último dia 1º, chega ainda a Tiradentes (7), Ouro Branco (11), Ouro Preto (12) e Viçosa (14).

Grande viagem 

Viver na estrada tem seus percalços, claro. Passar dias, semanas e meses compartilhando alimentações, composições, ideias, humores, ansiedades, angústias e alegrias tem seu preço. A convivência é o maior desafio. É uma grande viagem musical, mas também humana, de tolerância e compreensão”, explica Noubar Sarkissian. “Na primeira turnê a gente quase se matou. (risos) Hoje em dia, convivemos muito bem, tentando nos comunicar de maneira não violenta e entendendo os momentos de estarmos sozinhos”, completa o músico.

E assim tem sido desde que o EP “Čao Laru”, de 2016, “Kombiphonie”, lançado em 2018 e “Fronteiras” (2019) deram ao grupo repertório suficiente para rodar o mundo mostrando suas composições autorais. O trabalho é dividido: músicas, letras e arranjos surgem de conversas e colaborações entre os integrantes.

A estrada inspira, mas também é preciso parar e respirar: “Criamos estratégias para a produção musical. Fazemos residências e imersões em algumas cidades e programamos períodos de ensaios”, conta Sarkissian, paulistano, filho de pai egípcio e mãe baiana.  

Além das experiências humanas e artísticas vividas entre milhares e milhares de quilômetros por mais de 20 países, viver no caminho sempre traz algo familiar. “Estar na estrada nos permite voltar para casa”, comenta Sarkissian, que estará com a Čao Laru em São Paulo, sua cidade natal, para encerrar a turnê brasileira no fim do mês.

Agenda

O quê. Show “Fronteiras”, da banda Čao Laru

Quando. Nesta quinta-feira, às 20h

Onde. Teatro de Bolso Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)

Ingressos. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)