Literatura

Bruna Kalil Othero lança dois novos livros hoje em BH

Poeta mineira traz a público “Carne e “Oswald Pede a Tarsila que Lave Suas Cuecas na Galeria Mama Cadela

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 31 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A tríade erotismo, sexualidade e corpo permeia mais explicitamente a escrita da poeta mineira Bruna Kalil Othero a partir de “Anticorpo” (2017), seu segundo livro. De lá para cá, ela vem experimentando outras possibilidades além da poesia, aproximando-se da prosa, como no recente trabalho, “Carne”, no qual parte daqueles temas também ressoam. Este será lançado hoje junto com o título “Oswald Pede a Tarsila que Lave Suas Cuecas”, na Galeria Mama Cadela, onde Bruna vai realizar uma performance com o grupo Mulheres Míticas.

 “Carne” apresenta um erotismo diferente de “Anticorpo” e contempla um tom ainda mais político, por meio do qual Bruna desnuda a objetificação da mulher em um contexto dominado pelo machismo. Desse modo, o novo volume insere a abordagem da violência de maneira contundente em seu repertório artístico. 

“O ‘Anticorpo’ foi a minha experimentação mais erótica mesmo. O livro se voltava para o desejo, o corpo da mulher, que não podia ter desejos e, de repente, toda aquela linguagem erótica e até pornográfica atravessava os poemas. Essas relações são algo que me interessa e pesquiso no meu mestrado. Já ‘Carne’ leva o erótico mais para o confronto com o violento e com o político”,  observa a escritora.

Durante o lançamento, Bruna vai declamar um dos textos de “Carne”, o qual foi escrito em 2018. De acordo com ela, a virulência desses textos reverbera bastante o clima hostil que vem se desenrolando desde o ano passado, quando a esfera pública foi impactada pelo recrudescimento dos discursos de ódio e da  intolerância às populações minorizadas. “Eu noto que esse livro é muito fruto de uma espécie de resposta e de reação a todas essas violências que vêm acontecendo. Um modo de eu reagir a isso é por meio da escrita. É curioso que, quando releio alguns dos textos, eu fico um pouco impressionada com o tom de alguns deles, justamente por essa presença da violência”, completa Bruna. 

Irreverência. Já “Oswald Pede a Tarsila que Lave Suas Cuecas” segue na toada da poesia, desta vez, mais matizada por pinceladas de humor e ironia. Contemplado pelo prêmio 100 Anos da Semana de Arte Moderna, lançado pelo Ministério da Cultura em 2018, o livro lida com o legado do modernismo sem pudores nem qualquer tipo de tradicional reverência.

“Como pesquisadora e professora eu respeito, leio e admiro muito os clássicos, mas como escritora esse respeito tem que cair para que eu consiga criar algo interessante”, pontua Bruna. É assim que o quadro “Abaporu” de Tarsila do Amaral (1886-1973), inspirador do “Manifesto Antropofágico”, de Oswald de Andrade (1890-1954), é invocado no poema “#abaporu2022”, mas em consonância com a abordagem erótica/pornográfica de Bruna: “abaporu/ come meu cu”.

“Essa ideia do clássico como algo intocável, suspenso  na torre de marfim, não é algo em que eu acredito. A literatura, para mim, está na rua, no corpo, no picho, está na voz. Ela não está só no papel. E “o abaporu/ come meu cu” é, de certa forma, um resumo dessa estética do desrespeito”, comenta a poeta.

Em outros textos, Bruna também revisita episódios como o ataque de Monteiro Lobato (1882-1948) à Anita Malfatti (1889-1964), cuja estética modernista ele rejeitou profundamente. Para a escritora, é possível travar um paralelo entre aquela atitude de Lobato e os movimentos conservadores de hoje.   

“Eu tento fazer nesse poema uma ponte entre o que aconteceu no início do século XX no Brasil e os dias de hoje, quando o nome Anita está muito presente mas significando completamente outra coisa. Eu faço essa brincadeira. O Lobato estaria mais próximo, sonoramente, do (músico) Lobão, e eu tentei fazer uma conexão entre os conservadores de antes e de hoje, mostrando como se repetem, às vezes, esses ciclos em que a arte é colocada sob censura e é alvo de manifestação de repúdio”, completa Bruna.  

Agenda

O quê. Bruna Kalio Othero lança “Carne” e “Oswald Pede a Tarsila que Lave Suas Cuecas”

Quando. Hoje, às 19h

Onde. Galeria Mama Cadela (Rua Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza)

Quanto. Entrada gratuita

 

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