O temporal do dia 28 de janeiro, que deixou diversos moradores de Belo Horizonte ilhados, arrastou carros e causou danos em diferentes pontos da cidade, trouxe também impactos para os profissionais da área da cultura. A editora Carol Magalhães, à frente da Quintal Edições desde 2015, diz que cerca de 80% do estoque da casa foi danificado, além dos equipamentos, como seu computador e HD externo.
“Eu perdi tudo mesmo, inclusive os arquivos do backup. Então, com certeza, o trabalho vai atrasar. Desde a chuva, eu fiquei o tempo todo por conta de limpar o apartamento e jogar um monte de coisa fora”, conta Carol. Ela precisou sair de sua casa, localizada no bairro Santo Antônio, região Centro-Sul de BH, onde também mantinha o funcionamento da editora. O que causou todo o problema, de acordo com ela, foi um buraco no muro voltado para o jardim da sua residência.
“Eu vi que o muro estava arrebentado e começou a descer aquela cachoeira. Eu voltei para a sala, mas vi que tinha começado a passar água também por baixo da porta. Peguei o rodo pra empurrar a água, mas não imaginava que iria entrar no volume que entrou. Rapidamente, em cerca de cinco minutos, a porta foi arrebentada, e a água subiu mais de 1, 20 cm”, conta a editora.
A Quintal Edições se especializou em publicar livros produzidos por mulheres em diversos segmentos, como conto, poesia e não ficção. Em razão da perda do estoque, Carol diz que tem sido necessário rever pedidos feitos no site, contactando clientes para explicar a situação. “De alguns livros que tinham ótima saída, como ‘Gramática da Manipulação’ (de Letícia Sallorenzo), não sobrou nada. Outros também que tinham um projeto editorial mais caro, como ‘Reativar Territórios’ (de Iazana Guizo), um livro de arquitetura, também perdi tudo”, lamenta a editora.
Ela antecipa que, em breve, deverá lançar uma campanha de financiamento coletivo com recompensas a fim de conseguir reerguer a Quintal Edições.
“Eu quero ver se consigo levantar uns R$ 10 mil para comprar todo equipamento de novo e conseguir rodar todos os livros que perdi”, diz. “Eu vou ver com amigos se consigo umas parcerias para oferecer cursos de escrita ou de língua como recompensa. Nesta semana, vou desenhar melhor esse projeto, porque preciso continuar os trabalhos que estão parados”, finaliza.
Goodson Caldas, um dos sócios da Quadrum Galeria, localizada na avenida Prudente de Morais, na região Centro-Sul, também atesta que ficou muito assustado com a chuva. Dentro da galeria entrou um volume de água que subiu até 50 cm. Ele afirma que, felizmente, não houve maiores danos além da perda de uma geladeira.
“Nós tivemos que contratar uma empresa que fez a limpeza de toda a galeria, porque, depois que desceu a água, ficou cerca de 10 cm de lama. Vamos precisar pintar novamente todo o espaço, mas não houve prejuízo em relação às obras de arte, mas ficamosdesesperados”, declara Caldas, que não visualiza a possibilidade de mudar de endereço, apesar do susto.
Outro espaço invadido pela água no dia 28 foi a sede do Instituto Undió, uma organização não governamental centrada em ações de arte e educação, situada na rua Padre Belchior, no centro. A lama deixada pela enxurrada demandou um mutirão no dia seguinte para deixar o ambiente limpo e viabilizar a retomada das atividades.