Um dos nomes à frente da CasaCor Minas Gerais, junto a Eduardo Faleiro, a arquiteta Juliana Grillo conta que a construção desta edição especial 2020, que entrou em cartaz na sexta-feira, dia 30, se deu "um dia após um outro", referindo-se, claro, ao fato de o advento da pandemia ter pego de surpresa a organização do evento, que tradicionalmente se realiza no início do segundo semestre a cada nao. "A princípio, pensávamos que a gente iria conseguir fazer (a edição 2020) um pouco mais tarde que o habitual, claro, com todos os protocolos de segurança necessários. Mas a situação foi se prorrogando, e, então, veio a ideia de fazermos essa mostra, que eu particularmente vejo como uma iniciativa inovadora, na qual conseguimos destacar o papel da tecnologia em um evento inclusivo, gratuito e que, não bastasse, assegura a integridade física de seus visitantes", explana ela. 

Batizado  “Janelas CasaCor”, o evento pode ser conferido até o dia 30 de novembro, presencialmente ou por meio do site: www.janelascasacor.com. No caso dos espaços físicos, os 22 ambientes pensados por 27 profissionais - arquitetos, designers de interiores e paisagistas - foram espalhados pela cidade, alguns, em pontos que já podem funcionar com a flexibilização permitida pela prefeitura de Belo Horizonte: caso dos shopping centers Diamond Mall (que recebeu 11 ambientes), BH Shopping (5 ambientes) e Pátio Savassi (3). Há, ainda, a intervenção artística "Morar Contemporâneo: 4 As do Made in Italy", na Casa Fiat de Cultura; um ambiente na sede do Sebrae (no bairro Nova Granada) e uma na Mineiraria (anexo à Sala Minas Gerais), "um espaço ainda pouco conhecido na cidade, mas que merece ser descoberto". 

"Buscamos, neste evento, traduzir o conceito de um novo morar", ressalta Juliana. "E, dentro do tema abordado, temos muitos ambientes com propostas bem criativas", afiança ela, acrescentando que os próprios nomes com os quais as propostas são apresentadas já sinalizam . "Por exemplo, 'Casa Raizes',, 'Por Trás da Janela', 'Refúgio Familiar'", enumera. No cômputo geral, a ideia é lançar provocações e buscar respostas às mudanças que estão em curso e sobre o conceito do “novo morar” pós-pandemia.Inspirar o público a repensar atitudes e valores, bem como  ressignificar a relação das pessoas com suas casas, moradias e espaços de vivência - e de convivência.

Juliana também salienta que, no ambiente digital, o interessado vai poder assistir a vídeos que vão mostrar todos os detalhes do ambiente, os parceiros envolvidos e, não bastasse, uma gravação do profissional discorrendo sobre o que o inspirou. 

No caso da intervenção "4 As do Made in Italy", a oportunidade acabou por disponibilizar, ao público, um outro espaço expositivo da Casa Fiat de Cultura, localizado na praça da Liberdade: as vitrines, mais precisamente, as quatro, que foram preenchidas com instalações pensadas por um nome de talento incontestável no cenário brasileiro: a mineira Isabela Vecci. "Na verdade, já há muito tempo o Consulado da Itália e a Casa Fiat tinham vontade de desenvolver alguma ação junto à CasaCor, pela questão de o evento estar alinhado a um segmento icônico italiano, o do design. Com a questão da pandemia, pensamos em fazer uma coisa na vitrine, que nem é um lugar expositivo do equipamento, mas com, a questão ainda das restrições em se entrar nos ambientes, revelou-se como uma possibilidade, inclusive por estar virada para a rua, ou seja, poderá ser apreciada também por transeuntes, por um público que talvez não fosse espontaneamente à CasaCor, por exemplo".

Isabela conta que, assim que se viu incumbida de dar contornos a essa participação da Casa Fiat na CasaCor, lembrou-se de uma palestra ministrada por Cristina Morozzi, diretora do Instituto Marangoni de Milão, no equipamento, a que assistiu em 2012, quando a Bienal de Design foi realizada em Belo Horizonte. "Tenho a mania de anotar coisas em vários caderninhos, e, agora, voltei a eles, ao que tinha registrado naquela época. Fiz mais pesquisas e percebi que, ali, havia como alinhavar uma ideia, a de tentar representar os quatro 'As' que se tornaram referência da indústria italiana mundo afora: arredamento (mobília), abbigliamento (vestuário), alimentare (agroalimentar) e automazione (automação)".

Neste ponto, Isabela faz uma ressalva: "Aqui, no Brasil, a palavra automação está mais relacionada a automóvel e à computação, mas, na Itália, o sentido amplia-se para abarcar maquinários de uma maneira mais ampla, sejam as máquinas de café, por exemplo". Não por outro motivo, esse 'A' passa horizontalmente todas as vitrines da intervenção. "E ao mesmo tempo, estamos tentando falar um pouco como a cultura e indústria estão entrelaçadas na Itália, caminham juntas. (Este amálgama) faz parte do DNA italiano. Moda, gastronomia, mobiliário, são indústrias muito potentes, conhecidas, na Itália, e por lá estão entrelaçadas à cultura".

De certa forma nadando contra a corrente da globalização, as empresas italianas, constata Isabela, não raro carregam o sobrenome das famílias que as fundaram. "A Cassina (de móveis), por exemplo, é um nome da família, mas há vários outros exemplos. São empresas nas quais a tradição passa de pai para filho. Fazeres tradicionais nos quais, além do uso das máquinas, há um componente que é a mistura do manual - sempre existe um procedimento feito à mão, o que acho muito, muito bacana. Aqui, no Brasil, infelizmente ainda temos uma certa dificuldade em valorizar o feito à mão, que é sempre visto como uma 'coisa menor'. Lá, este entrelaçamento é uma coisa orgânica", situa. 

Uma das preciosidades que ela destaca na intervenção que assina na Casa Fiat tem um toque brasileiro: móveis assinados pelos Irmãos Campana, porém, produzidos na Itália. "Tem uma peça que sempre me toca, me emociona, que é a mesa Brasília, de acrílico espelhado. Ela representa um pouco a ideia do caos, traz um aspecto de colagem, de improvisação, mas tudo isso feito de uma forma muito interessante. Há, ali, uma estética de favela, mas, veja, não é uma valorização da pobreza, como se fosse romantizá-la ou glamourizá-la, não vejo dessa forma. É, sim, de entender que ali existe força, criatividade e potência. E (a mesa) é dourada! Eles (Campana) brincam com isso. Porque o dourado é uma cor que vemos constantemente associada a palácios, e ter uma dessas mesas, que remete a um caos, em meio a outros mobiliários super ordenados, é muito interessante. Também temos, dos Campana, a cadera Janette, fabricada pela (italiana) Edra, com uma estética da piaçava transformada num fio, um polímero, recheado com metal. Assim, quando você se senta, não entorta. Trata-se de uma tecnologia só possível em países como a Itália. Não à toa os móveis de lá são muito famosos, copiados. A inovação é muito grande, a ousadia. Lá, pressupõe-se que uma cadeira pode ser um objeto engraçado, ou que possa remeter a pessoa a uma memória. Isso acho que é o ponto interessante do design italiano, de deslocar o fazer artístico para um objeto do cotidiano e replicá-lo, uma vez que, feito em série, ele passa a ser acessível". 

Galeria Modernista. Outra intervenção artística é a Galeria Modernista, que ficará instalada no Pátio Savassi. O espaço, assinado pela arquiteta Fernanda Villefort, receberá uma exposição com nove imagens em diferentes dimensões do fotógrafo mineiro Jomar Bragança, especializado na área de arquitetura e interiores. Neste trabalho, a maior parte das imagens foi produzida especialmente para a ação. As fotografias estarão à venda durante o Janelas e toda a renda obtida com a comercialização será destinada a Casa de Acolhida Padre Eustáquio, a CAPE. Para Jomar, o trabalho de Oscar Niemeyer é como um radar permanente que está sempre a instigar o obturador de sua câmera. 

Elenco. Confira, aqui, alguns dos nomes que integram o elenco desta edição da CasaCor Minas: Ana Bahia, que assina a Casa Terapêutica; Ana Paula Paolinelli, responsável pela Sala de Banho Deca; Andréa Medeiros e Francisco Morais, que juntos criaram a vitrine Pé no Chão, que ficará instalada no hall de entrada do Sebrae; Andrea Pinto Coelho, investiu no Lounge do Colecionador, espaço inspirado no acervo de um jovem colecionador de mobiliário;  Bárbara Nobre, autora da Casa Raízes; Carol Horta, com um home office; Carolina Campos e Maria Magalhães, que dividem a criação do Sala do Abraço; Cynthia Silva e Estúdio Mineral, que se uniram para criar a Cozinha do Barista; Duo Arquitetos, responsáveis pela Sala das Janelas; Fernanda Villefort, organiza a galeria Oscar, que receberá a citada exposição de fotos de Jomar Bragança; Igor Zanon, que propõe um Refúgio Familiar; Isabela Torres e Rodrigo Aguiar, escolheram o nome Por Trás da Janela para o ambiente da dupla; a já citada Isabela Vecci, na Casa Fiat de Cultura; José Lourenço, com o seu Estar Livre; Mariana Spínola, que assina o espaço As Cortinas da Janela; Marina Diniz, que investiu no Estar Conviver; Mutabile Arquitetura, que investiu na construção de um Refúgio Natural; Nídia Duarte e seu Módulo Office; Paula Guimarães e a Janela da Agnes, na Mineiraria; Regina Padilha (Pura Arquitetura), que assinou a Garagem Templuz Tech, e Roger Lages, responsável pelo Hall Neolítico.

Gastronomia. A chef Agnes Farkasvolgyi volta a assumir a curadoria gastronômica do Janelas CasaCor Minas, que nesta edição estará centralizada na Mineiraria. Ela terá à sua disposição uma cozinha criada pela arquiteta Paula Guimarães e produzirá, de lá, uma série de conteúdos para o público ao longo do período do evento.

Segurança e medidas de distanciamento. Todo o projeto foi concebido, produzido e pensado da forma mais segura e responsável possível, tanto para o público frequentador quanto para os profissionais que participam da mostra. Neste sentido, os ambientes foram montados como vitrines, não permitido visitação física no interior dos mesmos a fim de evitar qualquer aglomeração. Por conta disso, foi criada uma plataforma específica para a transmissão de todas as atividades do projeto: www.janelascasacor.com. No site será possível fazer um tour virtual 3D por cada um dos ambientes, acompanhar conteúdos específicos sobre o projeto, além de conhecer os profissionais de cada edição.

  

Janelas CasaCor

Quando: de 30 de outubro a 30 de novembro de 2020

Onde:

- Casa Fiat de Cultura - Praça da Liberdade, 10, Funcionários

- DiamondMall - Av. Olegário Maciel, 1600, Lourdes 

- BH Shopping - BR-356, 3049, Belvedere

- Pátio Savassi - Av. do Contorno, 6061, São Pedro

- Mineiraria - R. Uberaba, 865, Barro Preto

- Sebrae-MG - Avenida Barão Homem de Melo, 329, Nova Granada

Transmissão de todas as atividades pelo site: www.janelascasacor.com

Horário de visitação física das vitrines: de acordo com os horários de funcionamento dos estabelecimentos relacionados acima.

Todas as atividades são gratuitas