De um extremo ao outro em questão de horas. O dia 24 de outubro de 2024 é inesquecível para a atriz Maria Carol Rebello, 42. Pela manhã, o telefone tocava para um convite muito especial: reviver o papel de Olga na nova versão de "Êta Mundo Melhor" (Globo). À noite, mais uma ligação.
Esta, para informar que o irmão havia sido assassinado por engano em Trancoso (BA). Dois suspeitos foram mortos em troca de tiros com policiais militares em Arraial D'Ajuda, em dezembro. Um terceiro acabou preso no Espírito Santo no início do ano.
João Rebello tinha 45 anos, era DJ e produtor musical e teve o carro alvejado por tiros. Rosto conhecido na TV principalmente por quem acompanhou as produções da Globo nos anos 1980 e 1990, ele trabalhou ainda criança em novelas da emissora como "Cambalacho" (1986), "Bebê a Bordo" (1988) e "Vamp" (1991).
"É difícil de assimilar até hoje. Em vários momentos do meu dia, eu fraquejo e nem pretendo ser forte o tempo todo, apenas ter fôlego para seguir em frente. Mesmo com isso tudo, não pensei em dizer não à novela, fui movida muito pela história da minha família", conta a atriz, que desde segunda-feira (30) reinterpreta o papel que já havia feito em "Êta Mundo Bom" (2016).
Maria Carol vem de uma família de artistas. É, assim como o irmão João, sobrinha do diretor Jorge Fernando, que morreu em 2019. A artista diz que a avó, Hilda Rebello, também realizou o sonho de se tornar atriz aos 67 anos. Ela morreu dois meses após Fernando.
A história de vida, as perdas familiares e tudo o que Carol vivenciou em poucos anos farão parte do conteúdo de um documentário que ela pretende lançar em outubro, com suas lembranças em tom confessional.
Outro motivo que faz Maria Carol seguir em frente é a responsabilidade de criar uma filha de 20 anos e também a sobrinha de 18, herdeira de João Rebello, que ficou sob a sua responsabilidade. "Eles precisam de mim, dependem dos meus movimentos. Faço parte de uma engrenagem que não pode parar. Acredito que a arte salva", reflete.
"Estou levando a arte para todos. Espero que eles [irmão, tio e avó] me vejam lá de cima, pois me deixaram bem preparada e podem estar orgulhosos de mim onde quer que estejam. Faço tudo com muito amor e muita certeza das escolhas", emenda.
UMA VELHA NOVA PERSONAGEM
Maria Carol Rebello pretende iniciar os passos de Olga do zero após nove anos da primeira versão. Na trama, a personagem, moradora de uma pensão, dizia a todos que era professora, mas, na verdade, trabalhava como dançarina de boate. Ela contracena com Araújo (Flávio Tolezani), seu marido na nova temporada.
"Eu fui rever algumas cenas da trama antiga para lembrar os trejeitos de mão, coisas de olhar, e rapidamente a Olga voltou para mim. É interessante que agora eu e o Tolezani viramos amigos de vida, e as cenas estão com mais intimidade. Parece mágica. Essa atmosfera ajuda", aponta.
Segundo a atriz, que no currículo tem outros trabalhos como "Ti Ti Ti" (2010), "Guerra dos Sexos" (2012) e "Verão 90" (2019), reaver um antigo papel é algo desafiador e inédito em sua carreira.
"A Olga é uma personagem muito rica, uma mulher dos anos 1940 com tantas diferenças do que é ser mulher hoje. O público pode esperar muitas reviravoltas e coisas surpreendentes", adianta.