Faleceu na segunda-feira (25), aos 73 anos, em Pernambuco, vítima de complicações da Covid-19, o livreiro e editor Tarcísio Pereira. Internado no Hospital Português, ele lutou por mais de 60 dias contra a doença. Em consequência da Covid-19, Tarcísio sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o que prolongou sua permanência no hospital. O corpo foi cremado.

Abalado, o jornalista Ricardo Leitão, presidente da editora Cepe, onde Tarcísio atuava, destacou a importância do amigo para a cultura. "Conheço Tarcísio desde os anos de 1970, quando a Livro 7 ainda era uma pequena livraria em uma galeria da Rua Sete de Setembro. Sua relação com escritores e editoras fez dele uma âncora cultural de Pernambuco. Tinha uma grande preocupação em trazer livros de qualidade do Sudeste do país e sempre teve o cuidado de treinar seus vendedores para que entendessem a importância e a qualidade literária do livro. Não era uma pessoa que apenas vendia livros. Ele os amava e sabia da importância do seu papel na produção literária. Tarcísio foi único. Em importância, depois dele, ninguém conseguiu cumprir o papel que executou pela  literatura pernambucana. Foi em função desse perfil, de pessoa que conhecia profundamente o meio literário porque amava o que fazia, que eu o convidei para o Conselho Editorial da Cepe e, logo depois, para assumir a Superintendência de Marketing e Vendas. Perdemos todos com a partida de Tarcísio. Um dia triste para os amigos e para a cultura de Pernambuco".

“Ele lutou bravamente, por mais de sessenta dias, como sempre lutou por tudo aquilo em que acreditava - livros, talentos, cultura nordestina. Continuará conquistando amigos com seu sorriso e maneiras gentis, mas desta vez num plano superior”,  disse Joana Carolina Lins Pereira, juíza federal e uma das filhas de Tarcísio.

Tarcísio, diz ela, era uma pessoa extremamente generosa. “A pessoa mais generosa que conheci. Me proporcionou uma infância muito feliz, recheada de livros, foi incentivador da minha carreira”, afirmou Joana Carolina. Tarcísio criou a famosa livraria Livro 7 em 1970, no Centro do Recife. Era ponto de encontro de intelectuais e estudantes. A Livro 7 fechou em 2000.

O editor da Cepe, Diogo Guedes, também lamentou a morte de Tarcísio e ressaltou seu legado para o cenário literário pernambucano. "Tarcísio foi um visionário quando criou a Livro 7, uma livraria que antecipou em décadas o que se tornaria tendência de certo modo. Um livreiro que acreditava no livro, nas conversas, nos encontros como algo essencial para o desenvolvimento da leitura, da literatura. E  continuou esse trabalho na Cepe, sempre com a mesma empolgação, mesmo envolvimento, com a ideia de tornar o livro algo acessível para as pessoas. É uma perda imensa para os pernambucanos. Uma tristeza".

O cartunista, chargista e músico Lailson de Holanda, grande amigo de Tarcísio, também se ressente com o falecimento do livreiro. “É uma perda enorme para as possibilidades futuras da cultura. Tarcísio é um ícone referencial para todo mundo que fez cultura a partir dos anos 70. É um mecenas e um incentivador. Agradeço a presença dele entre nós. Ele deu muito para a arte e a cultura. É uma lenda. Fico feliz de tê-lo conhecido pessoalmente”, declarou.

Triste com a notícia, o poeta Juareiz Correya falou sobre a perda do amigo: “Não tenho palavras sobre a morte de Tarcísio Pereira, o governador dos nossos infinitos 7 livros... Tenho sua lembrança viva, como quem vai daqui a pouco encontrá-lo na Cepe, trabalhando com a gente, ou na Rua Sete de Setembro, que ele reinventou para a história e a geografia do Recife. Tarcísio está vivo entre nós, leitores, escritores, amantes e curtidores de livros, abertos para sempre na sua presença amiga”.