O cinema japonês de meados do século XX e sua narrativa sobre as questões sociais do país nos anos pós-Segunda Guerra Mundial são os destaques de um festival online do Cine Humberto Mauro, que integra o projeto Palácio em Sua Companhia, da Fundação Clóvis Salgado. Desta quinta-feira (18) até 9 de julho, a mostra Clássicos do Cinema Japonês exibe 10 filmes (veja aqui a programação completa) de quatro diretores - Yasujiro Ozu (1903-1963), Kenji Mizoguchi (1898-1956), Mikio Naruse (1905-1969) e Kinuyo Tanaka (1909-1977) - serão disponibilizados no site da Fundação Clóvis Salgado e ficarão em cartaz, de forma gratuita, até o encerramento da mostra.
O recorte proposto pela curadoria do Cine Humberto Mauro optou por obras realizadas entre o fim dos anos 40 e o início dos anos 50, após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial e o ocupação dos Estados Unidos no país, período conhecido como a era de ouro do audiovisual no Japão, quando as produções feitas em terras nipônicas alcançam grande repercussão internacional.
Um dos curadores da mostra, Vitor Miranda diz que o cinema japonês foi descoberto pelo Ocidente justamente naquele período, embora a indústria do cinematográfica do país já estivesse na ativa há algumas décadas. Segundo Miranda, as obras selecionadas lidam com um momento traumático no Japão. “São filmes que tratam de um momento histórico dentro da crônica da vida familiar. No início do século XX, o país saiu do modelo feudal, mas isso não foi, necessariamente, uma modernização das relações familiares, principalmente no que diz respeito às mulheres, que não podiam votar, herdar propriedades”, comenta.
Com o fim da guerra e a ocupação norte-americana, iniciou-se um processo de ocidentalização do Japão, causando mudanças estruturais na sociedade, principalmente para as mulheres, que conseguem direito ao voto em 1946, por exemplo. Vitor Miranda pondera que os filmes também lançar olhar para esses acontecimentos: “As relações foram mudando um pouco, principalmente no mercado de trabalho. Os filmes falam muito disso, a maioria das protagonistas são mulheres, e os escolhemos porque tratam desse momento em que os japonese conseguiram se reinventar”.
Sobre os diretores, Miranda diz que Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Kinuyo Tanaka eram os nomes mais relevantes do cinema japonês à época, além de Akira Kurosawa, que não entrou na mostra por fazer um cinema “que vai por outro caminho, ficaria deslocado ali”. “A Tanaka era atriz reconhecida, fez mais de 250 filmes, vários do Mizoguchi, e estreou como diretora naquele período. Foi a segunda mulher no Japão a atuar como diretora”, completa o curador, que também é integrante da gerência de cinema do Cine Humberto Mauro.
Sessões comentadas
Como parte da mostra “Clássicos do Cinema Japonês”, sessões especiais comentadas vão acontecer paralelamente no programa História Permanente do Cinema, que propõe discussões sobre as obras dos diretores. Um filme de cada cineasta será exibido ao vivo pelo canal da Fundação Clóvis Salgado no YouTube, seguido de comentários de jovens críticos. Para essas sessões especiais, foram escolhidos os longas “Era Uma Vez em Tóquio” (1953), de Yasujiro Ozu, “Contos da Lua Vaga” (1953), de Kenji Mizoguchi, “Relâmpago” (1952), de Mikio Naruse, e “Carta de Amor” (1953), de Kinuyo Tanaka.
As produções serão exibidas nos dias 22, 24, 26 e 29 de junho, sempre às 17h em uma live com jovens críticos de cinema (Diego Silva Souza, Yasmine Evaristo, João Paulo Campos e Thaiz Araujo) e mediação de um integrante da gerência de cinema do Cine Humberto Mauro. “As sessões comentadas são importantes, podem sugerir ao público um percurso dentro da programação”, afirma Vitor Miranda.