Investigar novas sonoridades sempre instigou os músicos Nelson Soares e Marcos Moreira, que formam o duo O Grivo. As experimentações começaram ainda em 1990, quando eles se reuniram para dar início a um processo de pesquisa que, 30 anos depois, resulta em um trabalho minucioso e criativo. Neste fim de semana, a dupla se junta ao multiartista Roberto Freitas, colaborador de longa data, para a apresentação de dois shows.
Os concertos apresentam o autoral “3”, disco que nasceu a partir dos diálogos musicais entre o trio. O álbum, aliás, será distribuído gratuitamente, assim como um catálogo digital com conteúdo audiovisual que será disponibilizado em uma plataforma a ser divulgada no dia primeiro dia do espetáculo. O material mergulha no processo de construção dos instrumentos utilizados no disco.
A procura pelo novo sempre marcou o trabalho d’O Grivo – curiosidade que levou a dupla a construir objetos sonoros, máquinas fazedoras de música e até uma movida pelo vento. “Nosso objeto é a improvisação. Se for para colocar nosso trabalho em algum lugar, é na música experimental”, afirma Nelson Soares.
“Uma coisa muito importante é que todos esses objetos sejam funcionais do ponto de vista da sonoridade. Se o som não funciona, o objeto é descartado. Nosso guia é a música”, completa Marcos Moreira, conhecido também como Canário.
As viagens e experimentações da dupla mineira – ora acústicas, ora eletrônicas – carregam influências de compositores como os norte-americanos John Cage e Morton Feldman, o grego Iannis Xenakis e o italiano Giacinto Scelsi.
A música brasileira é representada por grandes nomes: Tom Zé, Chico Buarque, Caetano Veloso, Villa-Lobos e Egberto Gismonti, entre outros. “Do Hermeto Pascoal, eu tenho gostado cada vez mais, ele tem uma liberdade no jeito de fazer música que é impressionante. O Canário tem paixão absoluta pelo Tom Jobim”, conta Soares.
Diversa, intrigante e estranha – no sentido daquilo que é desconhecido, que está no exterior das coisas –, a filarmônica d’O Grivo provoca outros olhares em quem a escuta, e é preciso estar com a cabeça aberta para assimilar o que passa pelo ar, o que sai das máquinas que reverberam a experimentação sonora que mexe com os sentidos e apresenta, no fim das contas, aquilo que é tão universal e democrático: a música.
Serviço
O Grivo (com Roberto Freitas) lança o álbum “3”. Sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro Marília (av. Alfredo Balena, 586). Entrada gratuita.