Lançamento

Contrabaixista e compositor capixaba lança disco de jazz contemporâneo

Radicado há oito anos nos EUA, o músico, que nasceu em Vitória, apresenta Nocturnal Geometries, acompanhado por um sexteto jazzístico

Por Patrícia Cassese
Publicado em 14 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Contrabaixista e compositor capixaba, Andrey Gonçalves está há oito anos radicado nos Estados Unidos, onde cursa doutorado em Jazz e educação musical na Universidade de Illinois - instituição na qual também ensinou práticas de contrabaixo e big band por três anos. Mas o tema que norteou a sua conversa com o Magazine foi o seu primeiro disco solo, “Nocturnal Geometries", já disponível nas plataformas digitais. O álbum reúne músicas que ele compôs ao longo de um ano, sob a orientação de Jim Pugh (que já foi trombonista de nomes como Chick Corea e atualmente toca com Steely Dan), executadas por um sexteto de músicos. "Aprendi com Pugh exatamente o que precisava para estabelecer a minha identidade como compositor. Técnicas que me dão liberdade para expressar minhas ideias e investir em muito experimentalismo", explica.

Andrey conta que o feixe de músicas que compõe o petardo não foi escolhido seguindo um norte específico. "O que une as músicas é o fato de que elas foram compostas num mesmo período, utilizando as técnicas ensinadas pelo meu professor. Portanto, cada música teve o seu conceito pré-estabelecido, pois todas partiram do ponto inicial de explorar uma técnica de composição". 

De pronto, uma faixa que desperta curiosidade é "Anna and the Moon", composta para homenagear uma enfermeira de nome Luanna, que, em dezembro de 2018, quando ele estava no Brasil, visitando a família, o socorreu, após ter sido  atropelado por uma moto, em Vitória. "Fui parar na UTI, com traumatismo craniano. A minha sorte é que ela estava passando na hora do acidente e me socorreu". Detalhe: depois do episódio, ele nunca mais a viu. "É uma história bem louca mesmo. Eu tentei contatá-la, mas ela deve ter mudado de celular ou simplesmente não quis se envolver. De toda forma, sou muito grato".

Todas as faixas foram gravadas em um take, à exceção de "Mancada". "Porque (na gravação) todo mundo deu mancada (risos). Não é um samba típico, tem modulação métrica, uma forma meio mambembe. E aí os músicos demoraram a digerir a estranheza da composição. 'Mancada' só saiu no terceiro take. Acho que o resultado final ficou muito bacana". Mas, do conjunto, ele confessa curtir muito "Waterfall for a Cubist Passion". "Foi baseada em uma pintura do Picasso que vi em Nova York, em 2012. Compus querendo que ela soasse como rock progressivo. No final, arranjei pro meu sexteto e ficou bem bacana".

Confira, a seguir, outros trechos da entrevista

Como está sua vida aí, com a pandemia? 
Eu vim fazer mestrado nos Estados Unidos, acabei ficando para fazer o doutorado, conheci minha esposa, casei, tivemos uma filha. Ultimamente, estou escrevendo minha tese de doutorado e dando aula. Sou professor de contrabaixo na Olivet Nazarene University, ao sul de Chicago, e acabei de ser contratado pela Eastern Illinois University. Na pandemia, aproveitei o momento de introspecção para fazer outras coisas. Compor foi uma delas.
Durante esta quarentena eu tive fases bem diferentes. Passei um tempo escutando muito Rush, porque eu sou muito fã da banda e ainda não processei a morte do baterista Neil Peart. Também tive uma fase de escutar muito Gojira (banda francesa de metal), Art Blakey, Avishai Cohen e, por fim, Keith Jarrett. Eu tive Covid-19 em fevereiro de 2021. No meu caso, fui sortudo. Não senti nada, totalmente assintomático. A pandemia foi um desastre para a minha saúde mental. Esse tipo de isolamento social é horrível. Em contrapartida, eu tive tempo para mim, passei mais tempo com minha esposa, aproveitei os dias para andar no meio do mato, escutar música e dar um tempo da correria do meu doutorado.

Morando aí, consegue se manter informado quanto ao cenário musical brasileiro? Eu costumava ir ao Brasil todos os anos. Mas, por coisas da vida, já não vou há três. É muita saudade da comida, das pessoas, da informalidade, da alegria. Enquanto não vou visitar minha terra, deixo os ouvidos bem abertos. Também tenho uma rede de amigos músicos que me ajudam a manter em dia com bandas e músicos. O que me chama a atenção é que tem uma safra de contrabaixistas muito bons pintandoa. Uma galera nova que está interessada em estudar o baixo acústico e trazer para a música brasileira contemporânea. Nomes em particular, tem a Vanessa Ferreira em Sampa, a Camila Rocha em Belo Horizonte e o Hamilton Pinheiro em Brasília.

Continua compondo, talvez para um eventual segundo disco?
Muito! Sempre gravo ideias no meu celular, depois passo a limpo pro meu caderno de ideias e mantenho esses “embriões” musicais no papel até chegar a vez de eles germinarem. Meu segundo disco está pronto. Estou em fase de pré-produção e arranjo com o Ethan Evans, arranjador do Nocturnal Geometries. Será gravado em agosto e lançado em outubro no Festival de jazz de Champaign-Urbana. Eu não consigo parar! Levei muito tempo para achar minha identidade musical e quero dar vazão às ideias enquanto estão frescas.

 

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