Já com um público conquistado  na capital mineira, onde está há pouco mais de um ano e meio, a artiste (como prefere ser mencionada) baiana Coral sobe neste sábado (21) ao palco do Centro Cultural Minas Tênis Clube (detalhes no fim da matéria). Na companhia dos músicos Dudu Amendoeira (teclado), Glauco Mendes (bateria), Max Teixeira (violão), Pedro Fonseca (baixo) e Débora Costa (percussão), a cantora fará um show autoral, que, além de marcar a reabertura do espaço para shows presenciais neste período de pandemia do novo coronavírus, passeia por três projetos tocados simultaneamente.

Aos 30 anos, 15 deles dedicados à música, Coral prepara seu primeiro o álbum, “Ao Coral”, desenvolvido em parceria com produtor musical Thiago Braga. “Ia ser meu primeiro disco, só que tive que parar por conta da pandemia. É um trabalho que tem uma narrativa de construção de identidade, traz questões que percorrem toda a minha trajetória de 15 anos de carreira, desde o sertão baiano, algumas composições que fiz nesta estrada e outras já em BH. Inclusive, já lancei duas músicas deste projeto (leia texto nesta página)”, conta ela, que nasceu em Jequié (BA). 

Um segundo momento do show reporta-se ao projeto “Os Loucos Anos XX”, pensado já sob a égide da pandemia. “Faz essa referência à década de 20 do século passado, que também foi chamada de ‘os loucos anos 20’. Mas estes XX aí fazem referência a esses corpes XX, que já nascem transgredindo, neste sistema eurocêntrico patriarcal branco que a gente vive. O corpo XX já nasce fora da curva”. Essa proposta, segundo Coral, deve ser lançada ano que vem, “depois do disco ‘Ao Coral’, que, na cronologia dos fatos, eu comecei a gravar primeiro”, elucida.

A apresentação, que terá como cenário imagens exclusivas projetadas pelo artista visual Rafael Cançado, o VJ Homem Gaiola, vai abranger, ainda, canções que a artiste gravou no estúdio Tangará, de Rio Acima. “Foram quatro canções no estúdio ao vivo, com a banda. Então, em síntese, eu vou percorrer esse três projetos. E está um show muito potente, muito bonito. Acho que quem não conhece o meu trabalho vai poder passear aí por vários terrenos diferentes desta trajetória. E quem conhece, quem acompanha as lives, com certeza vai cantar junto”.

A apresentação contará ainda com a participação do cantor, compositor e multi-instrumentista Sérgio Pererê. “Já conhecia o trabalho do Pererê (antes de se mudar para BH) e, desde que cheguei aqui, fui beber um pouco mais do trabalho dele. É um grande artista da música popular brasileira, e vai ser uma honra imensa dividir o palco com ele, cantar com ele e construir essa memória junto a ele neste momento. Acredito que vai ser uma coisa muito potente. Acho Pererê uma entidade, uma voz na cena musical, uma pessoa muito importante. Além disso, contar com ele aqui é que nem receber boas-vindas da melhor maneira possível. Só tenho gratidão”.

Trajetória

Natural de Jequié, município do sertão da Bahia, Coral iniciou sua carreira com apresentações em bares e teatros baianos. A artiste recria a diversidade da arte musical nacional por meio do samba, do maracatu, do coco, do reggae, do ijexá, do funk e do pop, unindo cores e linguagens. Em 2014, venceu o Festival de Música “É por isso que eu canto”, de Vitória da Conquista (BA), sendo considerade a melhor intérprete do sudoeste baiano. Participou, ainda, do Festival de Literatura de Mucugê (Fligê).

Coral é uma aposta de Danusa Carvalho, produtora cultural em Belo Horizonte, que conheceu a artuste na Bahia e se encantou pelo seu trabalho.  Já entre as montanhas de Minas, Coral fez, em 2019, parte da gravação da trilha sonora do espetáculo “O Pirotécnico Zacarias”, da Giramundo Teatro de Bonecos. Neste ano de 2020, integrou o projeto #NovastrilhasMineirão, que celebra os 55 anos do estádio, e que abre as portas do espaço a artistas independentes.

Singles trazem viés autobiográfico

Enquanto prepara seu primeiro disco autoral, Coral tem apostado no lançamento de singles e clipes de canções que farão parte de “Ao Coral”. A artiste já divulgou “Cubículo” e “Jequié”, ambas compostas em BH, e também pretende colocar as outras dez faixas nas plataformas digitais antes que o álbum venha à público. Sobre “Cubículo”, Coral diz que a música tem uma pegada urbana e foi influenciada pelo espaço em que vive. “Ela nasceu no Aglomerado da Serra, onde eu moro, e sou como uma narradore desse ambiente que estou vivendo. Ela faz parte da minha trajetória e da minha identidade”, diz. 

“Jequié”, que leva o nome da cidade do sertão baiano onde ela nasceu, é extremamente autobiográfica. O clipe mostra Coral remexendo fotografias 3x4 de diferentes períodos de sua vida ao mesmo tempo em que ela rabisca e desenha nos retratos, numa espécie de autodesconstrução e autoreconstrução de sua própria imagem, sempre em transformação. “Estou nesse processo o tempo todo e é preciso aceitar a nossa transformação, e a do outro”, comenta.

Em dezembro, Coral lança “João”, mais um single do disco que vem por aí, ainda sem uma data definida por conta da pandemia e toda sua revirada no cronograma da artiste. (Bruno Mateus)

Programe-se

O show híbrido “Ao Coral” acontece neste sábado (21), às 21h, com transmissão pelo canal do Minas Tênis Clube no YouTube. Presencial: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) – obedecendo à capacidade de ocupação limitada a 50% dos assentos, escalonamento da saída, uso de máscara e venda de ingressos para assentos sem distanciamento somente para grupos de até quatro pessoas, desde que os ingressos sejam adquiridos pela mesma pessoa.