Novo álbum

Em 'Quintais', Iconili reforça identidade e novos rumos

Banda belo-horizontina passeia pela costumeira diversidade de ritmos e influências adicionando vocais à sonoridade

Por Bruno Mateus
Publicado em 21 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Uma das bandas que surgiram no cenário cultural de uma Belo Horizonte que se transformou artisticamente nos últimos anos, o Iconili fincou seu nome como um dos grupos mais competentes desse movimento da capital mineira. O álbum “Quintais”, lançado na última sexta-feira (17) nas plataformas digitais, reforça essa consistência. Trata-se de um disco rico e cuidadoso nos arranjos, coerente com a história que o grupo construiu ao longo de 12 anos. 

A mistura encorpada de jazz, afrobeat, ritmos brasileiros e latinos e folclore continua ali e ainda abre espaço para uma pitada psicodélica e sons ritualísticos. Mas é inútil tentar classificar a música da banda, que dialoga sem arrogância com Miles Davis e Hermeto Pascoal, passando pelo tambor do congado e pela guitarra rock em outros momentos. 

Sucessor de “Piacó”, de 2015, “Quintais” reflete outro momento da banda, agora com nova formação. André Orandi (teclados e sax alto), Chaya Vazquez (percussão), Gustavo Cunha (guitarra e synth), Henrique Staino (sax tenor e soprano), Josi Lopes (voz), João Machala (trombone), Lucas Freitas (sax barítono e clarone), Fernando “Feijão” Monteiro (bateria), Rafa Nunes (percussão), Rafael Mandacaru (guitarra e teremim) e Willian Rosa (baixo) jogam entrosados nesse time de 11.

“Quintais” começou a ser pensando em meados de 2017, ainda sem Chaya Vazquez e Josi Lopes na formação – ambas viriam a se juntar ao grupo nos primeiros meses de 2018. Fernando Feijão, que substituiu Mateus Bahiense, assumiu as baquetas após a gravação do disco. O álbum, gravado entre abril e novembro, tem vocais de Josi Lopes, novidade na trajetória do Iconili, que se notabilizou pela sonoridade essencialmente instrumental – que continua firme em “Quintais”. 

“Não foi difícil se acostumar com a presença dos vocais. A entrada da Josi foi muito natural, ela já tinha essa coisa do improviso. Na primeira participação dela, já sentimos que daria muito certo”, afirma o guitarrista Rafael Mandacaru, remanescente da formação de 2007.
Mandacaru, aliás, conta que, até chegarem às versões definitivas, as canções se transformaram bastante (veja faixa a faixa). Foram vários processos de composição, de colaboração entre os músicos, de troca de referências. A imersão em um sítio no pequeno distrito de André do Mato Dentro, em Santa Bárbara, a pouco mais de 100 km de Belo Horizonte, serviu como laboratório musical. 

No estúdio, os elementos foram se somando e tomando forma. “Cada músico gravou seu instrumento sozinho, tínhamos essa liberdade de criação. Essa é a nossa base”, afirma o guitarrista. Agora, Mandacaru diz que o plano é compor um novo álbum com a nova formação. Mas sem pressa, claro, porque o caldo de “Quintais” ainda tem muito para render. 

 

Shows. “Quintais” será lançado em BH no dia 31 deste mês, às 21h. A apresentação acontece no Sesc Palladium. 
Também haverá show de divulgação em São Paulo, com local e data a definir.

LP. Disponível em plataformas digitais, “Quintais”, que tem nove músicas e foi produzido por Leonardo Marques, também será lançado em LP, com tiragem de 500 cópias e valor a ser definido. 

Faixa a faixa

“Sete Fluidos”

“Nossa primeira música com sintetizador, e o vocal já chega com ela também. Escolhemos como single porque é a mais representativa da nova fase.”

“Íris”

“A música era totalmente instrumental. A Josi havia feito um poema, tentamos arranjar de uma forma que houvesse um poema musicado.”

“Mandacaru”

“Começou como um rock com pitadas de funk e foi tomando outras formas. É funk, afrobeat e um pouco de rock. Um tributo às nossas influências.”

“Canoada”

“Um momento de integração importante para a Josi e a Chaya. Tem congado, tambor, berimbau.”

“Quintais”

“Uma referência ao Hermeto Pascoal. Achamos a música a cara que queríamos dar para o álbum, por isso escolhemos ‘Quintais’ como nome do disco.”

“Caboclada”

“Já tínhamos essa coisa do folclore, dos sons do interior, mas a Josi trouxe isso de uma forma mais aberta.”

“Cruz de Agadez”

“Na nossa imersão, fizemos um documentário sobre o processo de gravação, e ela é a música central. Brinco que é uma ópera nossa, queríamos brincar com os arranjos.”

“Zuzu”

“Ela tem um arranjo mais enxuto. Zuzu é uma referência a um amigo nosso de Milho Verde. Ele mora no meio do mato e é um grande cartunista.”

“Quem Viver Verá”

“Essa veio no processo (da gravação do disco) do Wilson das Neves. Ela tem letra, mas fizemos totalmente instrumental.”
 

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