Quem for ao cinema assistir a “Uma Segunda Chance para Amar” esperando ver uma comédia romântica britânica à la Hugh Grant, pode ficar decepcionado. O mesmo para aqueles que virem, nos nomes de Henry Golding e Michelle Yeoh, uma referência a “Podres de Ricos”, uma das melhores comédias dos últimos tempos. Para começar, o longa escrito por Emma Thompson e dirigido por Paul Feig, não é bem uma comédia romântica.
Então, sem dar spoilers, vale dizer que o texto é esperto ao mergulhar o espectador, na primeira meia hora, numa comedinha romântica bem ordinária com a menina rebelde Kate – ou Katarina, como prefere a mãe –, papel de Emilia Clarke; e o misterioso Tom, vivido por Henry Golding. Há, claro, bastante química entre os atores. Charmosos, eles encantam e fazem jus aos melhores casais de filmes desse gênero.
Aos poucos, porém, a trama vai ganhando alguns tons, principalmente quando Michelle Yeoh está em cena. Ela vive Santa, uma mulher que tem uma loja de objetos de decoração natalinos – a maioria bastante cafona –, em que Kate trabalha. Emma Thompson também diverte ao encarnar Petra, a mãe de Kate, uma croata que não vê em Londres a sua casa. E, nas entrelinhas, “Uma Segunda Chance para Amar” começa a tratar de temas sociais atuais como xenofobia e a questão dos sem-teto. O pai de Kate, Ivan (Boris Isakovic), era advogado em seu país, mas trabalha como taxista, uma realidade em Londres para os refugiados de países do leste europeu.
É na reta final do filme, no entanto, que o público começa a entender a natureza da relação entre Kate e Tom e, a partir deste ponto, a trama ganha todos os elementos típicos dos títulos que têm o Natal não só como pano de fundo, mas também como uma espécie de diretriz temática. Aqui entram, com toda a força, os conceitos de renovação, caridade, empatia, família e comunhão que norteiam todos os filmes natalinos.
A verdade é que o título que o filme ganhou em português é bastante infeliz. No original, “Last Christmas” ou “Último Natal” dá um melhor panorama do que é a trama e ainda mantém em lugar de destaque outro personagem importante do filme, apesar de não aparente: a trilha sonora.
Freedom
O filme, em inglês, leva o nome da música de George Michael e Wham!, a dupla que o artista formou com Andrew Ridgeley, no início dos anos 1980, não por acaso. Toda a trilha sonora do longa é composta por canções de Michael, morto no dia de Natal (25 de dezembro de 2016).
Todos os momentos importantes da vida de Kate são embalados por músicas como “Faith”, “Fastlove”, “Freedom 90”, entre outros sucessos. É impossível não entrar no ritmo do pop contagiante do cantor.
A ideia de usar as músicas de Michael foi do produtor David Livingstone, fã do clássico natalino “A Felicidade não se Compra” (1946). Ele teve o aval do cantor, que só fez uma exigência: colocar Emma Thompson no projeto. A atriz e roteirista honrou o amigo com um filme que parece simples, mas traz a diversidade que Michael sempre defendeu.