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Gabriel Leone: um artista em constante metamorfose na carreira

No ar na novela Um Lugar ao Sol, ator se desdobra em diferentes personagens, celebra trabalhos na TV e no cinema e fala sobre sua paixão pela música, especialmente a mineira

Por Bruno Mateus
Publicado em 20 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Gabriel Leone, 28, começou a carreira no teatro meio sem querer. Ao fazer um trabalho de escola, quando tinha 14 anos, foi notado pelo diretor de uma companhia carioca, a Notre Dame. Henrique Kaladan levou o adolescente para seu grupo, e, a partir de então, Leone passou a estar nos palcos em diversas montagens clássicas – a primeira delas foi “A Megera Domada”, de Shakespeare.

“Me apaixonei totalmente e descobri o que queria fazer da vida”, diz o ator em bate-papo com O TEMPO.

De lá pra cá, ele acumulou papéis na TV e no cinema e se revelou como um dos grandes nomes de sua geração. Só neste primeiro semestre, o público poderá ver Gabriel em cinco filmes: “Alemão 2”, “Cidade Ilhada”, “Duetto”, “Meu Álbum de Amores” e “Eduardo e Mônica”, todos gravados entre 2018 e 2019. A adaptação cinematográfica da música da Legião Urbana, protagonizada por ele e por Alice Braga, chega nesta quinta (20) às salas de todo o país.

O carioca, que carrega na certidão de nascimento a admiração de seus pais pela música de Beto Guedes, também protagoniza a segunda temporada de “Dom”, cuja estreia está marcada para a segunda metade do ano no Prime Video, e, em setembro, na série especial da TV Cultura sobre o bicentenário da Independência do Brasil, projeto dirigido por Luiz Fernando Carvalho.

No bate-papo a seguir, Gabriel Leone fala sobre as novidades no cinema, o papel na novela “Um Lugar Ao Sol”, planos para 2022 e eleições presidenciais: “São quatro anos muito doloridos, a maneira genocida como o governo federal conduz o Brasil é trágica, terrível. Espero que o Brasil mude não só na cultura, mas em todos os aspectos”.

Seja na novela, seja nos filmes que vão estrear nos próximos meses, você tem dado vida a personagens com personalidades muito diferentes, de criminoso carioca a adolescente dos versos de Renato Russo. Como se sente e encara esses desafios?

Isso tem muito a ver com as escolhas que sempre fiz. Eu me interesso muito por personagens diferentes. Não é gratuito e à toa que são diferentes entre si, vêm de uma escolha, de uma seleção dos trabalhos que eu faço e do meu empenho nessas composições de realmente conseguir construir personagens bem diferentes entre si.

Os filmes que estão para estrear foram gravados em 2018 e 2019. Depois veio a pandemia e agora estão saindo todos quase de uma vez. Essa espera te causou muita ansiedade? Como você lidou com essa espera?

São muitos trabalhos porque tem muita coisa que ficou acumulada por conta principalmente da pandemia. A novela está toda gravada, feita ao longo da pandemia em 2021. Todos os outros trabalhos vão ser lançados agora, vários deles num período bem próximo. Dá um pouco essa impressão de que estou fazendo tudo ao mesmo tempo, mas são anos ralando, me desdobrando em personagens bem diferentes. Agora é o momento de colocar todos eles no mundo. Fazer filme no Brasil e lançar é mais difícil ainda. Agora que os cinemas voltaram, estou entrando diariamente para ver a programação, e a grande maioria está tomada pelos filmes blockbuster. Isso não é uma crítica, porque eu adoro e vejo, mas é muito desigual. É um domínio complicado. O filme só existe realmente quando é lançado, estamos acostumados com essa espera e essa demora. Estou muito feliz com esse momento de lançar tanta coisa ao mesmo tempo. A pandemia trouxe muita ansiedade, mais por não estar trabalhando de que pela espera. Fiquei quase um ano parado até começar a gravar a novela, em janeiro de 2021.

Vamos falar de “Eduardo e Mônica”. Conversei com a Alice Braga e ela disse que sentiu um frio na barriga imenso quando foi convidada para fazer a Mônica por ser uma personagem que está no imaginário de muitas pessoas por conta da música. No seu caso, como foi assumir o Eduardo nos cinemas?

De cara tem esse peso, essa responsabilidade por ser uma das músicas pop mais conhecidas da música brasileira. De geração em geração, é difícil algum brasileiro, goste de Legião Urbana ou não, não ter escutado “Eduardo e Mônica” em algum momento. É uma música muito imagética, além de as pessoas se identificarem com a história e os personagens. Tem essa responsabilidade de registrar e eternizar esse personagem num filme, com tua imagem, tuas escolhas…

Você quis muito fazer esse papel, né?

Por ser muito fã da Legião, do Renato Russo... Muito! Sempre fui muito fã da Legião, escuto desde criança. Poder viver esse personagem é uma honra também. Foi um processo delicioso, um prazer ter contado essa história ao lado da Alice.

Sobre “Um Lugar ao Sol”: a relação de Felipe, seu personagem, com a mãe tem inspiração na vida do John Lennon e Julia, mãe dele. Que história é essa?

Esse foi um dado que a Lícia Manzo (autora) me deu logo quando me convidou para fazer a novela. Ela falou dessa história do John, que foi criado por uma tia, e pegou inspiração da dinâmica familiar dele. Trouxemos isso para as relações do Felipe, que foi criado pela avó e está, nesee momento da novela, se reaproximando da mãe, como aconteceu também com o John. Aproveitei essa inspiração e tentei fazer algo no visual também, com o cabelão, os “oclinhos” redondos.

Para além da paixão pela música, você se identifica com o personagem?

O Felipe, para a idade dele, é um garoto bem maduro, lida com situações que aparecem para ele, em geral, com bastante maturidade. Ele é muito em música, em arte, e tem pontos em comum comigo, sim.

A música está tão presente na sua vida que você se chama Gabriel por conta da música de mesmo nome do Beto Guedes. Conte essa história.

Sim, a minha relação com a música vem de berço. Minha casa sempre foi um ambiente muito regado a música, meus pais sempre foram muito fãs do Beto Guedes, do Bituca, do Lô, da música mineira em geral. Aí fizeram essa homenagem, e é uma música tão bonita, tão singela. Desde moleque escuto os discos do Beto, do Milton. Do Brasil, a música mineira é a que mais me emociona. Foi uma virada de vida muito emocionante quando eu pude me aproximar desses caras, conviver com eles, especialmente no documentário que participei como apresentador, sobre o Milton e o Clube da Esquina. Sair desse lugar de fã desses caras da obra dele e poder me aproximar de alguma forma foi fantástico.

No seu Instagram, vez ou outra você posta dicas de filmes. Vi lá o “I’m Not There”, sobre as várias facetas do Bob Dylan. Tem fotos de discos de Neil Young, Beatles, George Benson, Eric Clapton, alguma coisa de blues... Você sabe tocar violão e estudou canto. Ter essa relação de paixão com a música e com a história da música te ajuda na interpretação?

Eu acho que sim. Claro que são artes diferentes, mas arte é arte. Eu me sinto inspirado, alimentado por todo tipo de arte, e isso influencia no ator que eu sou, no ser humano que eu sou, enquanto referência, possibilidades, sonoridades, no caso da música. Sou completamente apaixonado por arte, minha profissão é ator, mas cheguei a estudar música e canto. Para além de paixão e hobby, se transformou numa ferramenta e instrumento de trabalho. Para o Felipe, que tem essa relação com a música, eu trouxe como proposta que ele revisitasse universos do samba-canção. Fiz uma pesquisa em cima disso, trouxe uma sugestão de repertório, além de me inspirar nesse trabalho.

Imagino que essa facilidade com a música tenha o ajudado a interpretar o Roberto Carlos no cinema, em “Minha Fama de Mau”.

Sim… Fiz o Roberto duas vezes, uma delas no teatro, em “Chacrinha: O Musical”. Fiz alguns musicais também no momento em que estava fazendo bastante teatro. Nessa peça, eu tinha que fazer o Roberto, e ele teve que me aprovar. Um tempo depois veio o filme. Sou muito fã do Roberto, foi um privilégio interpretá-lo em duas linguagens diferentes. No filme foi especial porque nos concentramos no período da Jovem Guarda. Fiz minha pesquisa para construir o personagem, mas tomamos muitas decisões entre nós, porque não há muitos registros e referências dessa época. Foi um processo delicioso também.

Você também é muito fã dos Beatles. Já viu a série “Get Back”? Os Beatles parecem mais jovens agora do que em 1969, é impressionante.

Cara, ainda não consegui assistir. Até o fim do ano passado eu estava gravando loucamente, mas estou doido para ver, já está na minha lista de coisas para assistir. Com os Beatles aconteceu uma coisa muito curiosa e específica. Eles pararam de fazer shows muito cedo e eram pouco vistos na época. Era uma coisa meio misteriosa, tinha que esperar um álbum ser lançado para você ouvir os caras. A gente agora ter acesso a essas imagens inéditas de arquivo e de bastidores é um negócio sensacional.

Você não esconde sua vontade de fazer trabalhos fora do país. Há algo caminhando nesse sentido?

O que eu costumo falar sempre é que hoje em dia a gente tem uma possibilidade de um mercado mais aberto do que há pouco anos. Isso vem principalmente através do streaming. O “Dom”, por exemplo, se tornou a série de língua não inglesa mais vista no mundo. Isso mostra a entrada que uma série brasileira pode começar a ter. O mercado lá de fora logicamente me interessa muito, e nossos trabalhos vêm chegando cada vez mais longe. Tenho muito interesse, mas também não quero atropelar nada. Essas coisas vão acontecer graças ao meu trabalho.

Você troca ideias com atores que já têm uma carreira consolidada lá fora?

A Alice Braga, o Rodrigo Santoro e o Wagner Moura são pessoas próximas a mim. São três pessoas que admiro muito como artistas.

Além de acompanhar os vários lançamentos neste primeiro semestre, quais são seus planos para 2022?

Estou terminando agora de gravar a segunda temporada do “Dom” e vou emendar com o projeto do Luiz Fernando Carvalho sobre os 200 anos da Independência. É um projeto muito bonito e importante sobre um assunto que já foi bastante retratado, mas nossa ideia é ter um olhar um pouco mais crítico sobre esse período. É um trabalho importante. Tenho alguns outros projetos para serem confirmados e imagino que em breve vamos ter algumas confirmações. Fora isso, estou super na expectativa dos lançamentos.

Estamos em ano de eleição e muitos artistas têm se posicionado sobre o governo federal, as questões políticas, não só as que envolvem a cultura, mas também o meio ambiente, as políticas sociais. Algumas figuras públicas não se manifestam e são cobradas e criticadas por isso. Como você se coloca nesse campo?

Eu me coloco da maneira que eu sinto, de maneira genuína. Eu não vou atrás de agir ou colocar (minha opinião) por pressão ou qualquer coisa parecida. As colocações que faço são sempre sobre situações que estão falando alto para mim e sobre as quais eu sinto necessidade de me colocar. A única questão que acho sobre nós, artistas, é que temos uma possibilidade de ouro de nos comunicarmos com muita gente ao mesmo tempo, ainda mais com as mídias sociais, sem dizer o que está certo ou errado, mas estimulando reflexões importantes para nossa sociedade. Em certas situações, não se posicionar é uma pena no sentido de você perder uma oportunidade. Espero, de verdade, que agora, principalmente por meio das eleições, a gente consiga mudar os rumos do país. São quatro anos muito doloridos, a maneira genocida como o governo Bolsonaro conduz o Brasil é trágica, terrível. Espero que o Brasil mude a partir dessas eleições não só na cultura, mas em todos os aspectos.

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