“Eu vivo do que escrevo. Ou vivo porque escrevo. Embarcarei em alguns minutos. Vou me começar de novo. Toda página em branco é passaporte. O começo de um texto é um mapa invisível". É assim que se inicia a mais nova “viagem” do Grupo Galpão. O espetáculo “Como os Ciganos Fazem as Malas - Um Texto Escrito no Ar”, que tem sido chamado de “monólogo em fluxo”, estreia no próximo sábado (5) e traz a história de um escritor, vivido pelo ator Paulo André,  também um dos responsáveis pela criação ao lado da atriz e diretora Yara de Novaes e do diretor de arte Tiago Macedo.

O protagonista está num voo cheio de escalas e conexões e busca uma história, um personagem, uma narrativa que lhe dê sentido e orientação. O texto, baseado em uma vivência real, é do autor e diretor pernambucano Newton Moreno, com quem o Galpão já sonhava em trabalhar há algum tempo. A trilha e os efeitos sonoros são do compositor e músico Barulhista.

 

Assim como já tem acontecido desde que a pandemia começou, o Grupo teve que se reinventar e também aderiu à tecnologia para poder apresentar seus trabalhos. Desta vez, o palco escolhido foi o serviço de mensagens Telegram. “O texto fala muito de movimento, não só o nosso movimento interno, mas o dos pensamentos,  o movimento em direção ao outro e achamos que o Telegram tinha tudo a ver com isso já que é uma plataforma de trocas”, explica Paulo.

 

O Magazine assistiu a um dos ensaios do projeto, aliás, o formato compacto. O Galpão propõe duas experiências para “Como os Ciganos Fazem as Malas”: esta mais reduzida, que acontece das 20h às 21h30, e a mais estendida, que vai das 11h às 19h.  O conteúdo das duas experiências é o mesmo. O espectador embarca e interage nessa viagem através de áudios, mensagens, vídeos, imagens e até enquetes que vão sendo disparados ao vivo por Paulo André. É como se o público realmente estivesse junto do escritor nessa jornada. “Parece que estamos o tempo todo acompanhando o Paulo.  A coisa mais difícil que a gente persegue é achar a presença, saber como o encontro pode se dar. Mas mesmo que não haja a presença física, o Paulo está ali. É muito interessante. Não é simplesmente jogar as mensagens. É preciso deixar isso vívido”, ressalta Yara de Novaes que destaca ainda o retorno que eles têm tido com os ensaios.

“Quem já vivenciou essa experiência tem comentado como consegue ficar imerso, ter as sensações que propomos, e o bacana é que muitos comentaram que mataram um pouco a saudade de viajar, já que nesses tempos isso anda meio complicado. A gente diz que assim como toda a experiência, estamos arriscando mesmo, ousando. Estamos num ‘entre’ em que nada de fato se concretizou, se instalou. Estamos numa travessia”, analisa a diretora que já foi parceira do Galpão em outros trabalhos como na direção do espetáculo “Tio Vânia” (2011).

Nômades

E se o movimento é o eixo condutor de “Como os Ciganos Fazem as Malas”, nada mais nômade do que o próprio Grupo Galpão, que é uma das companhias teatrais mais errantes do país, como salienta Paulo André. “Somos não só o Grupo que mais circulou pelo Brasil e pelos lugares mais remotos, mas também nunca ficamos presos a uma só linguagem, a um só diretor. O Galpão é um grupo cigano”, frisa.

Para ele, o maior desafio deste projeto, assim como de toda empreitada virtual, é “manter a chama acesa”. “Enquanto os teatros permanecem fechados, o desafio é continuar despertando o interesse, manter sempre esse movimento para achar um novo lugar, manter o teatro funcionando na nossa cabeça e na cabeça do espectador e de sempre estar promovendo um encontro”, reflete. 

 

“Dramaturgias” 

“Como os Ciganos Fazem as Malas” integra o projeto “Dramaturgias – Cinco passagens Para Agora”. De junho a dezembro, o Grupo Galpão vai apresentar cinco espetáculos em diferentes formatos utilizando como palco as ferramentas digitais.

Sejam as redes sociais, aplicativos ou o YouTube. “Como, infelizmente, está impossível trabalhar presencialmente,  decidimos convidar algumas pessoas que admiramos para nos ajudar nessa empreitada. Tem o Newton Moreno, a Yara de Novaes, o Tiago Macedo e o Barulhista neste trabalho de estreia, e ao longo do ano teremos parcerias com o Pedro Brício, Márcio Abreu e a Sílvia Gomez”, revela o ator e diretor do Galpão, Eduardo Moreira, que em “Como os Ciganos Fazem as Malas” interpreta o piloto do avião onde o escritor faz a famigerada viagem. Em outubro, será a vez de “A primeira perda da minha vida” estrear. A criação é um curta-metragem que tem roteiro justamente de Eduardo e direção de Inês Peixoto.

“O ‘Dramaturgias’ nasceu como continuidade aos novos diálogos virtuais do Galpão com seus públicos, que surgiram  desde o ano passado, por conta da pandemia. É uma tentativa de invadir esse meio virtual que, a princípio, era tão estranho, com a criatividade do teatro. Não deixa de ser uma ocupação artística”, avalia Eduardo. 

O “Dramaturgias” tem o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e patrocínios da AngloGold Ashanti e do banco BV por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 


SERVIÇO 

"Como os ciganos fazem as malas - Um texto escrito no ar"

ESTREIA NACIONAL do Grupo Galpão

De 5 a 13 de junho, aos sábados e domingos 

Experiência estendida: das 11h às 19h

Experiência compacta: das 20h às 21h30

*O conteúdo das duas experiências é o mesmo

Classificação livre

 

*A transmissão é gratuita e será pelo Telegram, com acesso exclusivo através do link fornecido pela Sympla (www.sympla.com.br/grupogalpao)