Música

Itamar Brant reúne time de peso no recém-lançado 'Samba Trem'

Toninho Horta, Maria Alcina, Thiago Delegado e Chico Amaral estão entre os convidados do cantor e compositor mineiro, que reuniu seis canções autorais e quatro releituras em seu novo disco

Por O Tempo Magazine
Publicado em 28 de novembro de 2022 | 20:23
 
 
 
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O cantor, compositor e multi-instrumentista belo-horizontino Itamar Brant convidou uma turma de bambas, entre os quais o parceiro de longa data Toninho Horta, Thiago Delegado, Marcelo Costa, Chico Amaral e Maria Alcina, para dar contornos ao seu quarto disco, o recém-lançado “Samba Trem”, que traz a abrangente leitura do samba que caracteriza a carreira de mais de 30 anos do músico mineiro. O álbum chegou às plataformas digitais e ganhou também edição física. São 10 faixas, seis delas autorais.

“Mais do que uma identidade nacional, o samba é a expressão máxima do Brasil como cultura e arte. Posso considerar o disco uma homenagem ao samba e à sua imensidão. Cabe tudo no samba, o rock, a bossa, o jazz, o xote”, comenta Brant.

“Samba Trem” foi concebido na pandemia, estreitando conexões à distância, entre receios e afetos cultivados obrigatoriamente em casa. Os sambas nasceram em 2020 e acabaram de ser gravados no começo deste ano, com sessões no Studio Na Trilha, em Belo Horizonte, e várias contribuições remotas, sob orientação de Brant e Dhiego Gusmão, que dividem a produção executiva do disco.

“Comecei compondo ao violão, em casa, por causa da angústia da pandemia. E percebi que muitos músicos estavam na mesma situação: angustiados, sem trabalhar, sem saber como seria o futuro. Foi assim que fui fazendo convites. O Marcelo Costa, por exemplo, é um percussionista requisitado, toca com Marisa Monte e Gilberto Gil, e ele chegou a comentar nas redes sociais que estava parado na pandemia. Ficou super animado com o convite”, completa Brant.

Aos poucos, as músicas ganharam corpo instrumental com o talento de mais de uma dúzia de músicos. Entre eles, o toque precioso do violão de nylon de Toninho Horta na versão de “Nada de Rock Rock”, de autoria de Heitor dos Prazeres, pioneiro na criação das escolas de samba no país; o violão de sete cordas de Thiago Delegado em “Convite Nefasto”, de Brant; e a flauta do mestre Chico Amaral em “Ave de Ressaca”, samba de Brant em parceria com Renato Silveira.

Maria Alcina interpreta o samba “Cadê Meu Tamborim”, composição de Brant inspirada na levada do inconfundível violão de João Bosco, e abrilhantada por um expansivo arranjo de sopros de William Alves. “Antes da pandemia, fui ver um show da Maria Alcina em Belo Horizonte. Por coincidência, encontrei com ela saindo do teatro, já na rua, e fiz uma primeira abordagem. Na pandemia, soube que ela passou uma temporada em Cataguases, onde tem família, e fiz o convite para ela gravar esse samba, e deu muito certo. É uma honra para mim”, conta Brant.

Música é política

“Samba Trem” apresenta uma diversidade sonora que converge com um discurso social altamente crítico de algumas letras, cujos versos apontam para o cotidiano e e as problemáticas nacionais contemporâneas. Em “Convite Nefasto”, há uma reflexão sobre as queimadas ilegais na Amazônia, combate aos comportamentos fascistas e aos delírios sobre uma inexistente Terra plana.

Já no samba de roda “Trate o Seu Preconceito”, Brant aborda diretamente a tríade sexo, cor e religião, em um apelo de combate à intolerância. Até na escolha das releituras, como “Triste Cuíca”, versão pouco reverberada da composição de Noel Rosa e Hervê Cordovil, há uma ação política consciente do artista.

“O samba ‘Triste Cuíca’, que foi criado em Belo Horizonte nos anos 1930, em uma das temporadas que Noel passou aqui, fazendo tratamento de saúde na conhecida Cidade Jardim, como era chamada a capital naquele tempo, fala de um cara que matou o outro por ciúme e a letra deixa explícito que as pessoas ficaram caladas, ou seja, se abstiveram de intervir. Como dizia Tom Zé, ir na padaria é um ato político. Então, tudo é política. Por isso, em toda a minha carreira, sempre me posicionei porque não consigo me conceber como artista sem tomar posição sobre a vida, sobre a sociedade e o mundo em que vivemos”, analisa Itamar Brant.

Antes de “Samba Trem”, o compositor já havia lançado “Perímetro Cefálico” (2004), “A Superfície da Palavra” (2013) e “Venerando Pagã” (2017). 

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