Depois da noite de autógrafos que veio no bojo de sua participação, no mês passado, no Beagá Psiu Poético, a jornalista e atriz mineira Sidneia Simões faz, em versão sarau, mais um lançamento do livro que marca a sua estreia no mercado editorial: “Desarmadilha” (publicação independente, 112 páginas, R$ 30). Desta vez, a sessão acontece na Livraria do Belas, no Cine Belas Artes, nesta terça-feira (23), a partir das 19h.

O livro abarca 53 poemas – número que, vale dizer, corresponde à idade da autora, embora ela frise ter se tratado de uma coincidência. “Ou não”, brinca. Um chamariz é que as páginas da obra são destacáveis. E embora esse recurso não seja propriamente inédito, o pulo do gato é que, ao serem removidas, elas se transmutam em cartões-postais, valorizados pelos desenhos de Rômulo Garcias.

A ideia é que os poemas se espraiem cidade afora, sendo os destinatários pessoas escolhidas ao bel prazer de quem adquiriu a obra. O projeto gráfico é de Laudeir Borges, e abarca a logomarca O Grito, uma alusão ao coletivo formado por jornalistas, filósofos, professores e artistas que, inspirados por Otto e Elise Hampel, casal alemão que usava postais para denunciar o nazismo, se valem do recurso para semear produções literárias. 

O livro é composto por versos curtos, que, segundo ressalta a autora, despontaram em um momento de rupturas e de transformação. “Na verdade, apesar de ser a minha primeira publicação, já escrevo poesia há muito tempo – inclusive, estou com outro livro pronto. Mas as agora publicadas despontaram de dois anos para cá, quando várias coisas aconteceram na minha vida”, relata. Entre essas, o advento da aposentadoria, no caso, do serviço público.

“Em momento algum eu duvidei que tinha chegado o momento, mas não deixou de ser doloroso. Quando você tem um chamamento externo, isso te move. Quando você para, a impressão é que tem que achar um sentido de dentro pra fora”, explica. 
Não bastasse, Sidneia passou pelo rompimento de uma relação de longo tempo, fez uma viagem à Índia e o relacionamento que engatou em seguida também não teve prosseguimento. “Então, parecia que a vida ia tomar um rumo e, de repente, não foi o que aconteceu. Me senti perdida, triste, até meio deprimida, e fui colocando esses sentimentos nos poemas”.

Mas sim, há muitos versos que falam da alegria. “Há uma frase de Guimarães Rosa que uso no livro que tem muito a ver com tudo isso: ‘É só aos poucos que o escuro fica claro’. Todo esse processo que passei tem muito a ver com isso. Foi como se eu estivesse procurando uma luz para a nova vida que estou construindo, para uma nova etapa, na qual não há mais uma demanda de fora. Agora, posso fazer as minhas escolhas – mas, por outro lado, a liberdade te exige muito”. Instada a citar um poema que sintetiza todo esse processo pelo qual passou, ela opta pelo que ocupa a página 93, “Viver”, que, em um trecho, diz: “Minguar, crescer, encher, renovar/e de novo minguar/E de novo...”