O título do EP que lança logo mais, no palco da Autêntica, ecoa com precisão o momento atual de Júlia Ribas: “De Volta Pra Casa”. Os que acompanham mais de perto a carreira da cantora sabem que, após a morte do pai, o multiartista Marku Ribas, em 2013, aos 65 anos, Júlia resolveu se arriscar em outras veredas – inclusive em terras estrangeiras, tendo atuado como voluntária no Haiti e em alguns países africanos. Na volta ao Brasil, estabeleceu-se por um tempo no sertão cearense, na divisa com o Piauí, residindo em uma comunidade quilombola por meio do projeto Mais Sertão, até voltar para sua cidade natal, ao lado da filha, Rute, nascida em 2016.
Aqui, ao lado da irmã, a atriz Lira Ribas, resolveu encarar com galhardia a tarefa de mexer nos arquivos do pai. Ao mesmo tempo, foi convencida pelos amigos-músicos Felipe Fantoni, Pedro Melo e Arthur Rezende a voltar a gravar. E foi exatamente do manancial do pai que ela extraiu as faixas que compõem o repertório do EP – que, aliás, amanhã será disponibilizado na íntegra nas plataformas digitais.
O show terá um caráter de celebração – não bastasse o retorno à sua cidade, Júlia está comemorando 25 anos de carreira. Na apresentação, a cantora terá as participações especiais de Carolina Serdeira, Elisa de Sena, Trio Amaranto, Ladston do Nascimento, Pedro Morais, Lucas Telles e Abel Borges, além dos músicos que a acompanham. Já a discotecagem ficará sob a responsabilidade do jornalista Paulo Proença.
No set list, além das cinco faixas do EP – “Ô Mulher”, “Favela Blues”, “Eu Vou Dizer”, “Namoroso” e “Níger Blues” –, sendo inéditas as três últimas, ela também vai mostrar canções de fases anteriores de sua carreira.
Sobre as faixas do petardo, ela evita destacar uma em particular. “Todas têm um lugar emotivo, uma história”, explica. “‘Eu Vou Dizer’, por exemplo, é um pedido de desculpas dele para a minha mãe (Maria de Fátima). Já ‘Namoroso’ foi feita para minha irmã. ‘Ô Mulher’ teria nascido de uma conversa telefônica entre ele e minha mãe”, conta Júlia. “Então, as letras têm a ver com essa coisa de voltar para casa, para o acervo do meu pai, e de saber que tenho uma espécie de lar-reserva, para onde posso sempre voltar”, conta.
E sim, agora ela promete, ao menos por um bom tempo, permanecer por aqui. “Eu e Lira vamos arregaçar as mangas para organizar a obra dele (Marku), que é muito extensa. Demanda muito debruçar sobre ela, e não é um trabalho para poucos, precisa de uma engrenagem, quase uma cooperativa. A Lira tem seus projetos como atriz, vai participar agora do FAN, mas estamos em acordo que a obra do nosso pai tem que ser revisitada e reconhecida. Vamos precisar de cautela, maturidade, sabedoria e disposição, mas já estamos contando com a ajuda de amigos”, anima-se ela, que, no ano que vem, já tem turnê na Áustria e Alemanha.