Música

Lenda do jazz, contrabaixista Ron Carter faz show em BH nesta terça-feira

Norte-americano, que já tocou com Miles Davis, Chet Baker, Stan Getz e Tom Jobim, entre outros, fala sobre sua intensa carreira de seis décadas

Por Bruno Mateus
Publicado em 14 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Quando começou a tocar violoncelo, aos 10 anos, o norte-americano Ron Carter não poderia nem sonhar que se transformaria em um dos mais respeitados músicos de jazz de todos os tempos, tanto pela produção valiosa e habilidade no contrabaixo quanto pelo reconhecimento que conseguiu entre artistas, críticos e público. Aos 82 anos, completados no último dia 4, Carter segue sua jornada com disposição e convicção de que a estrada ainda tem muito o que lhe oferecer. 

Com esse espírito, ele chegou, em maio, para mais uma turnê no Brasil, país com o qual mantém relação bastante próxima. Após passar por São Paulo, o compositor sobe ao palco do Palácio das Artes na noite desta terça-feira (14) com seu trio formado por Russel Malone, que faz as vezes na guitarra acústica, e Donald Vega ao piano. 

Carter pavimentou uma carreira de sucesso, enfrentou o racismo em Detroit e, em 1959, aos 22 anos, tornou-se, a despeito do preconceito, integrante da Filarmônica da Escola de Música Eastman, em Nova York.

Começava ali uma trajetória de respeito, que teria o trompetista Miles Davis entre os personagens de uma história que atravessa mais de cinco décadas. Por cinco anos, entre 1963 e 1968, Miles Davis, que já havia lançado o mítico “Kind of Blue”, reuniu um time de primeira em seu quinteto. E lá estava Ron Carter com seu contrabaixo, ao lado de Herbie Hancock (teclados), Wayne Shorter (sax) e Tony Williams (bateria). Essa turma foi responsável por turnês que entraram para a história do jazz, e discos igualmente fundamentais, como “E. S. P.” (1965), “Miles Smiles” (1967) e “Nefertiti” (1968).

Além de Miles Davis, Ron Carter dividiu palcos ou estúdios com figuras do quilate de Thelonious Monk, Chet Baker, Wes Montgomery, Tommy Flanagan, Gil Evans, Lena Horne, Bill Evans, Stan Getz, B.B. King e Jim Hall. “A música me deu todos os tipos de experiência. Trabalhar com grandes músicos me ajudou a criar minha própria música. Além disso, pude ver coisas interessantes em todo o mundo”, afirma em entrevista ao Magazine.

Pelas terras de cá, Ron Carter também conseguiu fazer com que seu nome fosse sempre lembrado por artistas que ajudaram a construir a fama da música brasileira mundo afora. O norte-americano tocou em álbuns de Tom Jobim, como “Wave”, de 1967, e o aclamado “Stone Flower”, de 1970, gravado nos Estados Unidos. Com Milton Nascimento, Carter dividiu palco em Ouro Preto, em 2008, e foi parceiro em vários discos. O multi-instrumentista Hermeto Pascoal, com quem Carter também gravou nos anos 70, também é da turma brasileira mais chegada a Carter.

“Tom Jobim era uma pessoa muito engraçada, um gênio na criação de histórias. Ele adorava tomar um bom uísque! (risos)”, lembra Carter, reafirmando sua paixão pelos sons do Brasil: “Eu também amo a música de Ivan Lins, e foi ótimo quando eu toquei com Leny Andrade”, ressalta. 

Recordista. Premiado duas vezes com o Grammy, o nome de Ron Carter foi incluído, em setembro de 2015, no “Guinness Book”, o livro dos recordes. A façanha do inquieto senhor é ter participado de – pasmem – 2.221 discos. O espantoso número dá a dimensão da importância da figura de Carter no mundo da música. “É preciso, o tempo todo, manter a mente ativa, trabalhando. Nunca pense em desistir, assim você pode durar muito”, recomenda o mestre. 

AGENDA
O QUÊ. Ron Carter Trio
QUANDO. Hoje, às 21h
ONDE. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro)
QUANTO. De R$ 60 (meia-entrada) a R$ 160 (inteira)

NO CCBB-BH

Livro. Nesta quarta-feira, Ron Carter lança o livro “Método Prático de Contrabaixo: Nível Avançado”, traduzido pelo baixista e pianista Enéias Xavier. A obra inclui estudos de afinação, escalas, arpejos e técnicas para estudantes e profissionais da área. O evento acontece no Café com Letras do CCBB-BH, na praça da Liberdade. A entrada é gratuita.

Gênero dita o ritmo de festival em Tabuleiro (MG)

Neste fim de semana, o jazz vai dar o tom em Tabuleiro, distrito de Conceição do Mato Dentro, a 170 km de Belo Horizonte. De sexta a domingo, com programação gratuita, a cidade será palco da segunda edição do Tabuleiro Jazz Festival, que recebe atrações internacionais, como o pianista norte-americano Kenny Barron e o guitarrista e compositor francês Nguyên Lê, e regionais, representados pelo Bloco Quebra Tabu, formado por 22 percussionistas de Tabuleiro, pela cantora e compositora Denise de Miranda, pela Banda Mula e por Flavião e o Retrofuturismo. 

Em 2019, o homenageado do evento é o compositor, arranjador e guitarrista mineiro Toninho Horta, que completou 70 anos em dezembro passado e tem enorme reconhecimento no mundo do jazz. Os mineiros do Celso Moreira Quinteto também são destaques da programação. 

Segundo o curador do Tabuleiro Jazz Festival, o violonista Aliéksey Viana, uma das propostas do evento é “promover uma grande diversidade de manifestações culturais, por meio do diálogo entre artistas com distintas referências e linguagens”. 

É o caso, por exemplo, da Focusyear Band 19, formada por músicos de vários países, como Estados Unidos, Coreia do Sul, Espanha, Áustria e Brasil. (BM)

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