Pandemia

Livraria Quixote aposta na criatividade para driblar impacto do coronavírus

O espaço, que compõe o circuito das livrarias de rua da Savassi, criou um canal de entrega de livros por email ou telefone para aqueles que vão permanecer em suas casas

Por Raphael Vidigal
Publicado em 18 de março de 2020 | 16:03
 
 
 
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Até o último sábado (21), a Quixote, uma das mais tradicionais e queridas livrarias de rua de Belo Horizonte, estava funcionando normalmente, como tantas outras da cidade. “A gente ainda não tinha se assustado tanto, mas a segunda-feira foi um dia decisivo”, conta Cláudia Masini, sócia-proprietária do estabelecimento fundado em 2003, fazendo referência à sua percepção a respeito do coronavírus e aos alertas emitidos pelas autoridades do País.

Diante do sinalização de uma pandemia, Cláudia resolveu se adaptar. Ajustou o horário de funcionamento da loja localizada na Savassi e fechou, temporariamente, a unidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - neste caso, acompanhando a determinação da instituição. Mas não só. Inquieta, Cláudia, resolveu apostar também na criatividade - e na ligação estreita que tem com seus fieis clientes, que no mínimo todo sábado batem ponto ali.

Diante de um cenário aparentemente desestimulador, a livraria disponibilizou um número de WhatsApp (031-98676-1007) e um e-mail (quixoteemcasa@livrariaquixote.com.br) para se comunicar diretamente com sua clientela, e, assim, oferecer serviços de entrega dos livros em casa, levando em conta as precauções necessárias para esse momento. Vale dizer que os livros são higienizados e plastificados antes de serem entregues pelo motoboy, que, claro, também recebe orientação adequada para adotar as medidas de higienização. 

“A gente tem um relacionamento íntimo com o cliente. Costumamos dizer que é 'de pele', um contato muito próximo. Somos uma livraria pequena, mas importante para a cidade. Nesse momento, em que não estamos mias podendo sair, nossa ideia é levar a Quixote para dentro da casa das pessoas”, observa Cláudia. 

Na loja física, o horário de funcionamento passou a ser das 9h às 19h (antes, ia até as 20h). “Há funcionários trabalhando em casa. Os que têm mães idosas, por exemplo, sendo que os salários, claro, são mantidos. Internamente, também tomamos uma série de  precauções. Os equipamentos são cobertos com plástico e a todo tempo higienizados. Também espalhamos álcool em gel pela loja e avisamos a quem entra que há um lavabo disponível para a assepsia das mãos”, informa. 

A entrevistada extrapola a relação com o seu negócio em particular para analisar o momento atual. “Para conseguir manter um pequeno negócio funcionando, precisamos de um movimento de conscientização e de sensibilidade das pessoas, visando com que elas optem por comprar da pequena drogaria, do pequeno lojista, por exemplo. Porque os grandes vão sobreviver, mas, para nós,  dependendo do tempo (até o efetivo controle da pandemia), trata-se de uma situação que, em alguns casos, pode até gerar desemprego”, completa.

Outra medida adotada pela Quixote para manter a literatura viva em tempos de crise foi divulgar dicas de títulos nas redes sociais. “Sempre tivemos esse perfil de tentar prestar uma boa curadoria literária”, orgulha-se Cláudia.

Autora de “A Natureza da Mordida” e "Tudo RIo", títulos elogiados pela crítica e com ótimas vendas também a partir do boca a boca, a publicitária e autora Carla Madeira, por exemplo, deve gravar um vídeo em breve. A própria Cláudia oferece algumas dicas para o momento: “Imunidade”, de Eula Biss, “A Peste”, de Albert Camus, “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, e “1984”, de George Orwell. “Há muita literatura que pode nos ajudar a pensar sobre a atual situação do Brasil e do mundo”, finaliza Cláudia. 

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