À tal pátria de chuteiras, evocada por Nelson Rodrigues, cabe adicionar: samba nos pés. Afinal, não só pelo futebol, mas é também por essa tradicional musicalidade que o mundo identifica o Brasil. Combinação, aliás, da qual Diogo Nogueira é representante autêntico. O artista chegou a jogar em clubes de base e pretendeu se profissionalizar. Todavia, o sangue falou mais alto e foi na música que se encontrou.

Neto do violonista João Batista Nogueira e filho do bamba João Nogueira, o artista chega a sua primeira década de trajetória musical. Para celebrar, lança seu primeiro disco completamente autoral, “Munduê” – que apresenta em Belo Horizonte, nesta sexta (30), no Palácio das Artes.

No novo álbum, Nogueira entoa sambas pé no chão, com muito batuque e foco na ancestralidade. Afinal, diante do marco, o artista se pôs a olhar para trás, perscrutando sua própria carreira e passando em revista a própria história do samba. “Em ‘Munduê’, buscamos trazer o som de onde o samba veio. É um disco muito importante na minha carreira, por tudo que representa e por ser totalmente autoral”, explica o sambista.

Viés ancestral que, aliás, se faz ainda mais notável na faixa que dá nome ao projeto. “É uma canção inspirada na ancestralidade, no jongo, no passado, mas com um olhar para o futuro. É como um deus, uma entidade, que nos ensina a caminhar, que nos ensina a sermos melhores a cada dia”, explica ele, que assina a faixa juntamente a Bruno Barreto e Hamilton de Holanda – com quem já havia trabalhado no incensado disco “Bossa Negra”, de 2014.

Atento à história do gênero, ao longo das 14 canções Nogueira presta homenagem a mestres como Noel Rosa, Cartola, Monarco, Nelson Cavaquinho, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola. Cuidado que se nota até nas parcerias. “Há músicas com gente da minha geração e até uma composição feita junto à nossa dama do samba e saudosa Dona Ivone Lara”, diz. “Muitas vezes, a canção nasce de um encontro, de uma boa provocação. Às vezes, de uma ideia, uma melodia que faço e dou para alguém colocar letra ou faço a primeira parte e depois me junto com alguém”, observa sobre as parcerias de “Munduê”.

Trajetória

E se no marco de seus dez anos de carreira Nogueira quis se alimentar das raízes do samba, a comemoração foi capaz de provocar que sua própria história fosse revista.

“Alguns momentos foram muito marcantes. Pensando de forma cronológica, posso citar meu primeiro DVD gravado no tradicional Teatro João Caetano, que me lançou para todo o Brasil. Depois recebo uma música inédita do Chico (Buarque, a canção ‘Sou Eu’), que gravei no meu segundo CD, que me deu meu primeiro Grammy. Os quatro sambas-enredo que ganhei seguidamente na Portela também foram muito importantes para as pessoas me verem também como compositor. Minha ida a Cuba, onde gravei um DVD, foi outro momento muito especial. Fora isso, ter topado apresentar o programa ‘Samba na Gamboa’, na TV Brasil, e o musical ‘Sambra’ me projetou de outra forma, e também significam momentos fundamentais na minha carreira”, recorda.

Esse olhar retrospectivo, enfim, traz Nogueira ao novíssimo “Munduê”. Ele explica que o repertório do projeto é uma reunião de canções feitas nos últimos anos. “Juntei mais de 50 músicas, parcerias minhas com diferentes compositores”, diz.

 

Sambista se diz estimulado com sucesso

O resultado da recente empreitada tem deixado Diogo Nogueira orgulhoso. “Fiquei muito feliz com o resultado e com todas as críticas positivas que temos recebido, tanto do disco como do show”, comenta. “A recepção tem sido a melhor possível, e fico muito feliz com isso. Temos tido casas lotadas na maioria dos shows que já fizemos, desde São Paulo, passando pelo Sul, Nordeste, Brasília e Rio de Janeiro”, comemora, torcendo que o show em BH “seja um dos mais marcantes da turnê”.

Cuidadosamente construído, “Munduê” é um show atento aos detalhes. “Vamos apresentar o show que vem rodando por todo o Brasil com cenários do Helio Eichbauer (1941-2018), inspirado no teatro de sombras chinês. Sempre tivemos a preocupação em apresentar um espetáculo completo, onde o cenário componha com o figurino (assinado por Milton Castanheira) e com a luz (sob responsabilidade de Arthur Farinon)”, explica.

O sucesso só o estimula a explorar uma faceta mais autoral. “Sempre tive meu lado de intérprete como uma marca principal e, com esse disco, pude ver o quanto devo deixar meu lado compositor ter mais força na minha carreira”, avalia. “A canção sempre nasce de um sentimento, e isso pode acontecer a qualquer momento, mas ultimamente tenho me dedicado mais a compor e já estou criando para o próximo CD”, diz.

Agenda

O quê

Diogo Nogueira, no show “Munduê”.

Quando

Sexta (30), às 21h.

Onde

Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro).

Quanto

R$ 200 (plateia 1/inteira); R$ 160 (plateia 2/inteira); R$ 120 (plateia 3/inteira).