Ser criança é igual em qualquer lugar? O Grupo do Beco, com o espetáculo “Céu da Rua”, demonstra que a resposta pode ser “sim” e “não”. É que, embora os garotos de determinado grupo tenham idades próximas, compartilhando certas descobertas, as situações que eles vivenciam nem sempre são as mesmas. É em torno dessas possíveis diferenças que o grupo busca abordar tal fase da vida na peça, que estreia nesta sexta-feira (13) na Casa do Beco e terá outras três apresentações: uma no sábado (14), no Parque Jornalista Eduardo Couri e as outras duas no domingo (15), sendo a primeira na Vila Estrela e a segunda na Vila São Bento.
A peça lança um olhar para a infância na periferia e não evita questões polêmicas, como os episódios marcados pela violência. Contudo, a diretora Polyana Horta observa que o desafio foi tratar dessas situações com leveza, sem deixar de lado uma abordagem crítica. “Os atores em cena mudam o tempo todo, vivenciando diversos papéis: ora uma mãe, um pai ou uma criança, por exemplo. E as cenas são rápidas, porque eu não queria que as pessoas sentissem aquele aperto e começassem a chorar. Eu me inspirei muito na estética do Brecht”, diz.
Polyana relata que texto foi escrito por ela com colaborações dos atores, após eles manifestarem interesse em narrar suas próprias histórias. “Nós conversamos sobre a infância na favela, registramos as memórias de cada uma, mas também reunimos casos ligados a outras pessoas. Quando a gente se lembra da infância, é comum que as passagens sejam evocadas com muita nostalgia. Nós rememoramos coisas boas, mas também ruins, como a perda de uma mãe, uma avó, um pai”, afirma Polyana.
“De algum modo nós ressignificamos essas memórias e também fizemos um paralelo entre os cotidianos de crianças de gerações diferentes, com as mais novas ligadas aos videogames e aquela mais próxima das brincadeiras na rua”, completa ela.
O nome do espetáculo, aliás, chama atenção para os momentos de descontração nas calçadas, que, segundo, Polyana, diz muito das relações travadas nas periferias. “Nas comunidades, inclusive, as crianças têm uma tranquilidade maior de curtir a rua e ficam mais tempo fora de casa, até porque as residências são pequenas. E ali as pessoas acabam ficando próximas umas das outras. A rua é um lugar de encontro, mas também de violência. Uma das atrizes, por exemplo, narra uma história em que ela viu o assassinato de cinco jovens na porta da casa dela”, pontua a diretora.
Outro espaço encenado no palco é o da escola, onde outros conflitos, como o racismo, são colocados em primeiro plano. “Nós achamos importante também falarmos do que significa ser negro, periférico e como isso traz dificuldades para algumas crianças desde a infância”, frisa.
Serviço
O Grupo do Beco estreia “Céu da Rua” nesta sexta (13), na Casa do Beco (av. Arthur Bernardes, 3.876, Sta. Lúcia). Reapresentações neste sábado (14), às 16h, no Parque Jornalista Eduardo Couri (praça da Barragem Santa Lúcia, em frente à Casa do Beco); domingo (15), às 10h, na Vila Estrela (em frente ao Muquifu, rua Santo Antônio do Monte, 726), e às 16h em Predinhos (rua Manoel Guilherme Roscoe, S/N, Vila São Bento). Gratuito.