Festival de Berlim

'Cidade Pássaro' é apresentado na seção Panorama da Berlinale

Filme de Matias Mariani é um dos 19 títulos, no total, contados os curtas, que compõem a participação brasileira este ano

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de fevereiro de 2020 | 18:27
 
 
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Na apresentação de seu filme "Cidade Pássaro" na seção Panorama da Berlinale, na sexta-feira, 21, à noite, o diretor e corroteirista Matias Mariani falou de sua relação com a cidade de São Paulo. Quando está nela, sente-se um estranho, com uma sensação de não pertencimento. Longe, tem saudade. São Paulo pode ser muita coisa, e com certeza é selvagem. O filme nasceu com esse olhar. Dois irmãos nigerianos. Um, o mais novo, vem buscar o mais velho, que desapareceu na cidade grande. Segue sua trilha, conhece pessoas. Segundo a tradição africana, o mais velho é o arrimo de família, a luz dos olhos da mãe, que não esconde a preferência por ele. O mais novo, de alguma forma, sofre por isso.

"Shine Your Eyes" - título internacional - revela o Brasil pelo olhar estrangeiro. ê falado, parcialmente, em inglês. ê um filme muito rico. Possui camadas. ê um dos 13 representantes - de longa-metragem - do cinema brasileiro na Berlinale de 2020. Na sexta, Marco Dutra e Caetano Gotardo, diretores do filme brasileiro na competição ("Todos os Mortos"), foram prestigiar o colega do Panorama.

Também estava na plateia Ricardo Alves Jr, codiretor, com Grace Passô, de "Vaga Carne", outra atração brasileira no festiva. Todo mundo sabe que Berlim sempre foi o festival internacional mais receptivo ao cinema brasileiro. Ursos de Ouro, de Prata, prêmios de interpretação, Teddy Bears (o Urso gay). Esse domingo, 23, será especial para a produção brasileira na Berlinale.

Às 22h - 18h em Brasília -, ocorrerá as sessão oficial de "Todos os Mortos" no Palast. Um pouco antes, ocorrerá a exibição de "Nardjes A.", de Karim Aïnouz, em Panorama Dokumente.

Dutra e Gotardo são estreantes na Berlinale. Karim já esteve aqui muitas vezes, até concorreu (com "Praia do Futuro"), mas, como diz, ninguém fica imune à pressão e ao nervosismo de apresentar seu filme num foro como Berlim. Todas essas participações brasileiras - 19 títulos, no total, contados os curtas - se dão num momento particular.

"Todos os Mortos" conta a história de quatro mulheres no Brasil pós-proclamação da República e libertação dos escravos. Uma mãe e as duas filhas no que restou da propriedade familiar. A ex-escrava que permaneceu agregada. A condição das mulheres na sociedade patriarcal - o pai e marido ausente continua à frente da família. A origem da desigualdade social como um mal endêmico do País. "Nardjes A." tem outra pegada, mas a questão feminina (feminista?) segue forte. Karim foi à Argélia para fazer um documentário sobre seu pai. A ideia era remontar às origens familiares. Lá chegando, ele encontrou uma sociedade em ebulição. Protestos nas ruas. A revolução do sorriso.

"Nardjes A." faz parte dessa nova Argélia de mulheres empoderadas. Karim redirecionou seu projeto. Na sequência de "A Vida Invisível", voltou ao tema das mulheres. Filmou sua personagem como pôde - isto é, com iPhone. ê um autor que ousa - nos temas e na linguagem.

São autores e autoras talentosos. Já se fala muito de "Vento Seco", de Daniel Nolasco, como outro possível Urso queer para o Brasil. Gustavo Vinagre, Paula Gaitán, Frederico Segtowick, Caru Alves de Souza, Gil Baroni, Vinicius Lopes e Luciana Mazeto assinam outros filmes que compõem a numerosa representação brasileira. E o mais importante - as pessoas compram ingressos para as sessões oficiais. As de filmes brasileiros estão sempre lotadas. O de "Cidade Pássaro" teve participação de Preta Ferreira, que lidera movimentos de ocupação urbana em São Paulo. Sua fala foi emocionante, como o próprio filme. Foram ambos muito aplaudidos.

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