O contexto recente de manifestações no Brasil registradas por câmeras anônimas sem a utilização de recursos como a edição de imagens, para se fazer um recorte desejado, ou a trilha musical, criando uma carga de dramaticidade, dará o tom do forumdoc.bh 2013 – 17º Festival do Filme Documentário e Etnográfico Forum de Antropologia e Cinema, realizado pela Filmes de Quintal, e que começa hoje em Belo Horizonte.

Exibições, debates e oficinas acontecem até o dia 1º de dezembro no Cine Humberto Mauro, Cine 104 e Campus da UFMG. Como Carla Italiano, uma das coordenadoras do evento faz questão de frisar, os pilares são manter a continuidade da proposta conceitual, homenagear nomes emblemáticos do documentário e focar a contemporaneidade.

“A ideia é trazer várias facetas e várias possibilidades de discussão. A produção decorrente do midialivrismo, feita no calor do momento, é permeada por diversas questões. Nós optamos por fazer uma convocatória para essa seleção, que tem um lado autoral bastante particular, pois muitos realizadores preferiam não se identificar, utilizando pseudônimos ou assinando como coletivos”, explica.

Diversidade. Os filmes irão se inserir no módulo O Inimigo e a Câmera, que também traz produções dirigidas por nomes do peso como Eduardo Coutinho e Jorge Bodanzky. “Eles colocam em xeque o poder instituído. Se nas décadas de 1960 e 1970 era o governo ditatorial, agora é a força repressiva da polícia”, afirma Carla.

Mais 80 produções irão ocupar as telas dos cinemas no forumdoc.bh, que conta com as mostras competitivas nacional e internacional. A primeira delas recebeu a inscrição de 270 filmes e a outra de 220 produções de não-ficção. A curadoria chegou ao número de 24 documentários. “Fica até difícil destacar alguma obra dentro deste panorama tão amplo”, diz a organizadora que não se arrisca num ranking.

Para quem gosta do gênero, além da possibilidade de rever alguns títulos, vale apostar as fichas nos inéditos apresentados nesta edição. Muitas sessões serão seguidas aliás de bate-papos com a participação dos realizadores. São eles: “Já Visto, Jamais Visto”, de Andrea Tonacci, “Riocorrente”, de Paulo Sacramento, “Sobre o Abismo, de André Brasil”.

O toque etnográfico se dá com filmes de realizadores indígenas da etnia Maxakali, como “Espíritos Batizam Crianças” e “Cantos do Putuxop”. O viés autoral é uma das grandes marcas do festival.

Como faz todos os anos, o forumdoc.bh também será palco de homenagens. O brasileiro Aloysio Raulino, que morreu em abril deste ano e o lituano radicado nos Estados Unidos Jonas Mekas terão as filmografias expostas, com produções pouco visitadas pelo grande público.

“A abertura terá uma sessão especial dedicada ao Raulino, que foi um grande fotógrafo. Serão exibidos ‘Lacrimosa’ (1970), ‘Teremos Infância’ (1974), ‘Arrasta a Bandeira Colorida’ (1970) e ‘O Tigre e a Gazela’ (1976). Na sequência haverá um debate com o crítico e teórico Jean Claude Bernardet, dois filhos do cineasta e Andréa Scansani, que foi aluna do Raulino, e pode ser apontada como sua discípula”, conclui.


Agenda

O quê. forumdoc.bh

Quando. Abertura hoje, 19h. Até 01/12

Onde. Cine Humberto Mauro (av. Afonso Pena, 1.537, centro)

Quanto. Entrada gratuita

PROGRAMAÇÃO: www.forumdoc.org.br