David Junior se identifica com a origem humilde de Ramon, seu personagem no folhetim das 19h da Globo. Na novela, o rapaz de Bonsucesso (bairro da zona Norte do Rio de Janeiro) deixou a família no Brasil pelo sonho de ser bem-sucedido como jogador de basquete nos Estados Unidos. Para isso, ele ficou longe de Paloma (Grazi Massafera) e da filha, Alice (Bruna Inocêncio), durante anos. Agora, de volta, faz o possível para recompensá-las.

Na entrevista a seguir, o ator de 33 anos comenta sobre a importância de ter um papel de destaque em “Bom Sucesso”; como foi a gravação com o jogador de basquete Cristiano Felício em Chicago, nos Estados Unidos; e qual sua relação com o esporte. Além disso, David Junior fala a respeito do caminho que percorreu até ser reconhecido pelo seu trabalho.

Qual a expectativa com esse papel em “Bom Sucesso”?

A expectativa maior é de poder representar muita gente. Não acredito no protagonismo. Acho que o protagonista é a história. Então, ela é composta por todos os personagens que fazem parte dessa trama. Chamo a minha responsabilidade agora de peso-leve. Estou representando as pessoas, sabendo que a disparidade racial e a opressão no nosso país são grandes. É prazeroso fazer uma novela tão próxima da minha realidade, afinal, sou de Nova Iguaçu, e o personagem, de Bonsucesso.

Na trama, o Ramon mostra um pouco da dificuldade do esporte no Brasil, porque o personagem teve que ir aos Estados Unidos tentar ser reconhecido. O que acha disso?

Em toda profissão, a gente sonha em chegar ao topo. Quem é atleta sente isso de forma latente. Gostei não só de ser um jogador de basquete, mas de ser um atleta que sonha em jogar na NBA.

Na novela, a maior decepção do Ramon é não ter conseguido se firmar como um jogador da NBA?

A maior decepção foi ter tentado por 16 anos, sem sucesso, sustentar a família. O personagem ficou 16 anos longe da filha. O sonho dele não era ser um astro do basquete, mas conquistar essa posição para dar o sustento para a família. 

Era um sonho ser protagonista de novela?

Se eu te disser que sempre sonhei em estar fazendo um papel de destaque, é mentira. Eu tenho uma tatuagem que é a palavra ‘serendipidade’. É quando você vai ao encontro a uma coisa e acaba encontrando outra. Li essa palavra no livro ‘Um Defeito de Cor’, da Ana Maria Gonçalves, que conta uma história linda. Tropecei na arte, me identifiquei com ela e aqui estou. Já me perguntaram o que senti quando fui para Chicago. Eu falei que me senti grande o suficiente para estar naquele lugar. Aconteceu o que tinha que acontecer. Se tem uma coisa que eu sei é que sou protagonista da minha vida. Isso é suficiente para estar lá ou em qualquer outro lugar.

Você precisou quebrar muitas barreiras para chegar nesse momento da sua carreira?

Sou a contramão do sistema. Se eu saio de camiseta, chinelo, bermuda e corro por qualquer motivo, me torno um cara suspeito, independente de ser ator. O fato de estar aqui hoje, vindo de Nova Iguaçu, depois de trabalhar num banco, ir estudar no centro de Botafogo e voltar no último trem para conseguir me formar como ator, sem me corromper com todas as oportunidades, é uma vitória. Quando você é periférico, o seu teto é muito baixo.