O assassinato da vereadora Marielle Franco (1979-2018) completa nove meses no próximo dia 14 de dezembro e, até agora, sem ser solucionado pela polícia. Quando o crime aconteceu, Dudu Pinheiro, 30, estava dedicado a leituras sobre os povos indígenas, em especial a tribo dos carajás, habitante dos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará. No ato, Pinheiro percebeu ilações possíveis entre dois universos tão distintos.
“A morte da Marielle me sensibilizou e me instigou a refletir sobre as dores do Brasil, que é um país grande, continental, cheio de dramas próximos a nós que se repetem ao longe”, conta. Assim nasceu “Carajá”, uma das cinco músicas que integram o EP de estreia do músico. Nesta quarta-feira, ele lança “O Samba que Mora em Mim”, com cinco faixas autorais. “São músicas que transitam do particular ao coletivo, com questões sociais e contemporâneas”, explica o cantor, compositor e instrumentista, que resolveu dar conta sozinho da criação das músicas.
No palco, porém, ele sobe com o time que o acompanhou na gravação do disco no estúdio Bemol, com Abel Borges e Daniel Guedes (percussões), Augusto Cordeiro (violão), Castório Edu (baixo) e Marcelo Pereira (sopros). Além de algumas releituras, o espetáculo vai apresentar a intervenção poético-visual “Da Bronca Pra Fúria”, do artista visual Ruy Izidoro. “O nosso entorno sempre nos afeta, não tem como estar alheio”, acredita Pinheiro. Como exemplo, ele cita a canção “Roda”, que abre os trabalhos. O nascimento dela foi especial para o compositor.
“Ela surgiu de um verso, quando eu estava assistindo um passista da Mangueira que se chama Delegado. Ele é um negro alto, bonito. Então eu pensei nisso: ‘quando o samba gira a roda e afasta o tempo é o momento de sonhar liberdade’. Esse refrão chegou pronto”, rememora o entrevistado.
A partir desse disparo, ele passou a desenvolver as outras partes da música, num processo que Pinheiro chama de “diálogo entre inspiração e reflexão”. “Esse é um samba de resistência e esperança, é sobre acreditar no poder transformador que está num corpo que carrega ancestralidade, verdade e força”, avalia.
As demais canções foram batizadas de “Engano Seu”, “Esquina Vazia” e “Serra”, esta última um tema instrumental. “Eu estava no bairro Serra e fui encontrando essa música no ar”, diz. Cavaquinista, ele faz questão de ressaltar a importância do choro em sua formação: “Foi uma grande escola que me ensinou a ouvir e perceber as sonoridades de cada instrumento”.
Agenda
O quê
Show de Dudu Pinheiro.
Quando
Quarta-feira, às 20h.
Onde
Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro).
Quanto
R$ 20 (inteira).