Hoje o Brasil escolhe seu novo presidente. Na ficção, porém, as eleições já passaram, e a semana marca o início do governo da presidente norte-americana Claire Underwood (Robin Wright), com a estreia da sexta e última temporada de “House of Cards” na próxima sexta-feira, dia 2, na Netflix.
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Claire, a ex-primeira-dama, que ao lado do marido Frank (Kevin Spacey), realizou as maiores atrocidades em busca do poder, é o oposto da maioria dos presidentes retratados nos blockbusters norte-americanos, onde grande parte assume o papel de herói.
Harrison Ford e Jamie Foxx, por exemplo, empunharam armas para defenderem o país em “Força Aérea Um” (1997) e “O Ataque” (2013), respectivamente. Morgan Freeman comandou os EUA em um momento de catástrofe iminente, em “Impacto Profundo” (1998). Já Jack Nicholson teve de enfrentar alienígenas no divertido “Marte Ataca!” (1996), assim como Bill Pullman em “Independence Day” (1996).
“Esses filmes são divertidos para o público porque mostram um lado mais humano do presidente”, diz o comentarista de cinema e TV Paulo Gustavo Pereira, autor do “Almanaque de Seriados” (Ediouro) e editor do site BesTV.
Pereira lembra que Morgan Freeman, na pele do presidente Tom Beck, em “Impacto Profundo”, admite aos cidadãos o fracasso das tentativas de mudar a rota do meteoro que atingirá a Terra e se despede da população de maneira muito sentida. Ainda com foco nesse lado mais humano do presidente, Pereira destaca o personagem de Peter Sellers em “Dr. Fantástico” (1964), de Stanley Kubrick. “Ele é todo cheio de si, mas, quando conversa com o ministro russo, baixa a bola”, afirma.
Para o comentarista, não importa muito o tipo de presidente retratado na tela, pois o cargo em si é de interesse geral. “O presidente pode ser real ou fictício; pode ter falhas. O que conta para uma boa história é que ele é o cara mais poderoso de um país”, diz.
No Brasil. Enquanto os norte-americanos gostam de criar presidentes heróis em seus filmes, os brasileiros já colocaram na telona governantes reais. Retratar um personagem real requer não só um trabalho de pesquisa, como também uma boa dose de imaginação. Muitas informações estão nos livros de história, em diários ou na memória das pessoas. Outras, porém, precisam ser criadas. “Quase tudo no cinema é falso, mesmo com personagens verdadeiros”, brinca o diretor Sérgio Rezende, responsável por mostrar a angústia de Tancredo Neves nos últimos dias de sua vida em “O Paciente: O Caso Tancredo Neves” (2018).
“É tão difícil retratar um personagem verdadeiro quanto um falso. Tudo é dramaturgia”, fala Rezende. “Claro que, com um personagem real, não é possível tomar tantas liberdades. Há uma preocupação extra-artística, digamos assim, de ser mais preciso”. No entanto, os diálogos, por exemplo, são quase sempre fictícios. “Ninguém sabe o que Tancredo falou para a Risoleta quando ficou doente. Isso é íntimo”, diz o diretor.
Ao assistir a um filme, o espectador fica na expectativa de ver o que vai acontecer no final. No caso de uma biografia, o público já sabe como a história termina. Por isso, o importante é o desenrolar dos fatos, a narrativa, a direção, a atuação. Para Othon Bastos, que deu vida a Tancredo, o mais impressionante de “O Paciente” é que os espectadores ficavam torcendo para que Tancredo se recuperasse, mesmo sabendo de sua morte. “O espectador fica pensando: ‘Não, não vai abrir ele de novo! Não, ele não vai aguentar!’. É muito impressionante”, afirma o ator.
O diretor João Jardim também emocionou o público quando colocou na tela a agonia de Getúlio Vargas após o atentado da rua Toneleiros em “Getúlio” (2014), filme que termina com o suicídio do presidente interpretado por Tony Ramos. Para Jardim, qualquer história trágica é um prato cheio para um diretor, porém, a importância de um filme histórico vai além disso. “Falar do nosso país é essencial para o Brasil”, afirma.
‘Uma Noite de 12 Anos’
O episódio mais marcante da jornada do ex-presidente José Mujica é retratado em “Uma Noite de 12 Anos”, em cartaz na cidade. O longa, dirigido pelo uruguaio Alvaro Brechner, estreou em uma sala do Belas Artes no dia 27 de setembro. Em cinco semanas, atraiu mais de 3.700 espectadores. “Pelo tempo de exibição, é um dos melhores públicos do Belas Artes este ano”, afirma o gerente Jorge Vale. Segundo ele, o longa tem despertado fortes reações. “Uma espectadora saiu em meio à exibição por não suportar as cenas de tortura porque, segundo ela, já ter vivido algo semelhante durante a ditadura no Brasil. Muitos saem aos prantos, emocionados, e há sempre aplausos e manifestações ao final”, afirma.