A cidade de Belo Horizonte ganha, amanhã, um novo espaço cultural: o Espaço Cultural Filme de Rua, sede do projeto Cinema de Rua, com sala para exibição de produções e trocas de experiências entre público e realizadores de filmes. A inauguração do espaço, no prédio da SulAmérica (av. Afonso Pena, 941, loja 8), na região central da cidade, será às 19h. “Dia 12 marca a abertura de uma nova ocupação na cidade”, fala Joanna Ladeira, uma das coordenadoras do projeto, que existe desde 2015.

O programa instiga jovens que estiveram ou estão em situação de rua a pensarem a sociedade e expressarem seus sentimentos a partir do audiovisual. Atualmente, o Filme de Rua conta com 20 jovens e tem seis coordenadores que estão orientando os participantes na produção de três filmes.

O espaço cultural começará a exibir filmes a partir da próxima sexta-feira, mas os detalhes ainda estão sendo planejados. A programação do cinema será divulgada nas redes sociais (@filmederua). “Faremos sessões simples e também sessões com debates”, diz Joanna. “Ainda estamos estruturando os eventos. Tudo será construído e experimentado junto com o público”, explica ela.

Apesar de ser parte e fruto de um projeto voltado para a população em situação de rua, o centro cultural tem a proposta de ser uma casa de acolhimento para produções audiovisuais que não chegam ao circuito comercial. “Vamos usar esse espaço para mostrar filmes produzidos por nós, mas queremos que seja uma sala também de exibição de filmes independentes realizados em Belo Horizonte, principalmente, que não conseguem canais para chegar ao público”, fala Joanna. “Pretendemos propor conversas, conexões entre realizadores, fazendo do cinema um espaço de transformações”, completa.

Filmes

Desde o início do projeto, já foram finalizados quatro filmes. O primeiro, “Filme de Rua” (2016), deu início à empreitada. “Eu tinha uma produtora e queríamos propor uma reflexão sobre os jovens de rua através da imagem”, conta Zi Reis, também coordenadora do projeto. “Passamos a nos encontrar para construir nosso filme e, desses encontros com essa juventude, nasceu um coletivo, uma associação, um espaço cultural”, diz.

Depois vieram os títulos “Ver o Mar” (2018), “Chuá de Maloqueiro” (2018) e “Maloca” (2018). Neste momento, os jovens estão trabalhando em outros três filmes: “Ficção Tipo Real”, “Filme das Mulheres” e “Experimental” (título provisório).
O primeiro marca a transição do gênero documentário, expresso nos quatro filmes iniciais, para a ficção. “Resolvemos construir um roteiro, com personagens, locações, e embutir nele os aspectos das nossas vidas, nossas histórias”, conta Zi. “Experimental” parte do som para depois chegar às imagens. Já o “Filme das Mulheres”, como o nome diz, está sendo pensado e construído só por mulheres.

“Ele vem de um processo que temos construído como fortalecimento do nosso coletivo para falar da situação das mulheres na rua”, explica Zi, que conversou com o Magazine em um dos encontros do coletivo para a execução desse filme. Essas reuniões somente com as mulheres do grupo são realizadas semanalmente e funcionam também como uma terapia, em que elas trocam experiências e conselhos.

“Não tinha nada para fazer e estar no projeto é bom para me ocupar e não meter coisa ruim na cabeça”, fala Camila de Lourdes, 26, que estava com o filho Enzo Gabriel, de dois meses. Ela morou por dois anos na rua e, quando engravidou, arrumou uma casa. “Não queria que tirassem meu filho de mim”, diz. Ela convenceu o namorado a sair da rua e, apesar de ele ter algumas recaídas, está morando com a família. Rafaela Rodrigues, 21, também conseguiu deixar as ruas e hoje vive com o namorado e a filha Eloá, de 3 meses. 

Ester “Brisa” Medeiros, 19, enxergou seu potencial após essas trocas com o grupo e saiu da rua. “Parei de usar droga, de fazer coisa errada, voltei a estudar e quero ser bombeira”, fala a jovem. Ela conta que o projeto fez com que ela vivesse, ao menos na ficção, uma cena de infância. “Filmei no Parque Municipal e fiquei lá brincando. Foi uma felicidade geral, que não tive quando era criança”, conclui.