“Marés” é mesmo um ótimo título para o filme de João Paulo Procópio, que entre em cartaz hoje. No longa, Lourinelson Vladmir interpreta o fotógrafo Valdo, um cara bacana, divertido, sensível, comum. Como adora festas, ele está sempre rodeado de amigos. Claro que essas baladas são sempre regadas a álcool. À primeira vista, isso não parece ser um problema, até que personagem e espectador se tornam mais íntimos.
Ao mostrar a relação de Valdo e das pessoas que o cercam com a bebida, o filme não usa clichês. Procópio não coloca seu protagonista em uma posição vexatória.
Quando passa mal fisicamente, ele o faz em particular. O que o espectador vê são as consequências da bebida na vida do personagem. Valdo apaga, acorda vomitado, tem a carteira de motorista apreendida, perde o respeito da mulher e a guarda da filha.
Mas isso não acontece de uma hora para outra. O processo é lento, como na vida real. Valdo navega nas suas marés, sem ser rotulado pelo diretor, que não deixa brechas para que o espectador o enxergue com preconceitos e julgamentos.
“Marés” é um filme sensível, honesto, que respeita o público ao abordar um tema delicado como o vício. A trilha sonora colabora com o bom roteiro interferindo, quando necessário, para refletir o interior de Valdo em sua tormenta pessoal.