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Gramado celebra talento de Zezé Motta

Atriz recebeu Troféu Oscarito e cantou emocionada; competição de filmes teve melhora


Publicado em 15 de agosto de 2007 | 17:22
 
 
 
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GRAMADO - Saudada como princesa do Brasil num texto de Cacá Diegues, lido por José Wilker, Zezé Motta recebeu na noite de terça-feira o Troféu Oscarito, com que o Festival de Gramado homenageia figuras fundamentais do cinema brasileiro. Zezé protagonizou a mais bela cerimônia do Troféu Oscarito de que se tem lembrança. No vídeo que o Canal Brasil fez para ela, Zezé disse que fica em estado de graça quando representa e quando canta. Como estava em estado de graça, feliz da vida, Zezé resolveu cantar, o que fez à capela, escolhendo "O Poder da Criação", de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, uma música que fala sobre o papel do artista e, mais do que isso, do papel que cada pessoa pode fazer na ordem das coisas, pois não estamos no mundo a passeio (embora muita gente se comporte como se assim fosse).

Paulo Caldas, que mostrou logo em seguida "Deserto Feliz" - no qual Zezé tem um pequeno, mas importante, papel -, foi perfeito ao retificar Cacá Diegues. Disse que ela não é princesa, mas uma rainha. A sala veio abaixo. A homenagem a Zezé Motta seguiu-se a outra que Gramado prestou a Milton Gonçalves, num reconhecimento à importância do artista negro no país.

Salto de qualidade
Zezé Motta reinou na terça à noite em Gramado, mas o festival também deu um salto de qualidade. Houve um interessante diálogo entre o longa argentino "Nascido y Criado", de Pablo Trapero, e o brasileiro "Deserto Feliz", de Paulo Caldas. O primeiro conta a história de um sujeito que sofre um acidente de carro. Convencido de que matou a família, ele se perde na imensidão austral de uma Argentina gelada. Vive à deriva, levado pelo barco do destino como a garota de "Deserto Feliz", que, estuprada pelo padrasto, se torna prostituta e vai parar na Alemanha, levada por um gringo.

"Deserto Feliz" é um caso curioso - possui alguns dos mais belos planos do cinema brasileiro recente. Paulo Caldas é mestre em colocar personagens no primeiro plano e armar cenas que se desenrolam ao fundo. Você admira a mestria, mesmo quando a estética cria problemas éticos - o estupro vira uma cena meio abstrata, mesmo que o som cause incômodo ao espectador. O barco leva Jéssica - perdida, como diz a canção que pontua o relato -, mas falta alguma coisa. A gente olha o filme, mas não sente. É difícil sentir alguma coisa por Jéssica. Entende-se mais o alemão que tenta motivá-la a fazer alguma coisa. A reação final dele é um pouco a do espectador, diante de "Deserto Feliz". (Agência Estado)

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